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Crítica

"Os Outros" aposta em história sombria e violenta e acerta no realismo, texto e direção primorosa

Grau de realismo faz da produção talvez a mais impactante e bem cuidado da plataforma de streaming da Globo até hoje

Ponto de vista de "Os Outros", do GloboplayPonto de vista de "Os Outros", do Globoplay - Foto: Divulgação

Fala-se muito, nos últimos anos, sobre intolerância. “Os Outros”, série original do Globoplay, não levanta bandeiras, mas toca exatamente nessa ferida: a dificuldade que hoje a sociedade parece ter para lidar com as diferenças. Tudo acontece por algo que parece banal e sem importância: uma briga entre adolescentes que moram no mesmo condomínio.

Quando os pais se envolvem, porém, o conflito toma proporções assustadoras, por vezes até absurdas. Mas tudo feito com um grau de realismo que faz da produção talvez a mais impactante e bem cuidado da plataforma de streaming da Globo até hoje, depois de quase oito anos de seu lançamento, em novembro de 2015.

“Os Outros” equilibra bem a criação primorosa de Lucas Paraizo – a partir de um argumento assinado por Fernanda Torres – com a direção certeira de Luisa Lima e Lara Carmo. Esteticamente, lembra o filme de suspense e humor negro sul-coreano “Parasita”, que faturou a estatueta de Melhor Longa-Metragem Internacional na 92ª edição do Oscar, realizada em fevereiro de 2020.
 

Em diversos momentos, tudo é muito escuro e sombrio, assim como o clima de tensão e medo que se instaura no condomínio carioca em que vivem os personagens da trama. Outro fator que chama atenção é a maneira como a trilha sonora é utilizada, quase sempre cooperando para se atingir as emoções propostas pela equipe com a série.

Adriana Esteves, Thomás Aquino, Maeve Jinkins e Milhem Cortaz brilham na pele dos personagens principais: Cibele, Amâncio, Mila e Wando, respectivamente. Os quatro, porém, já surpreenderam em outros trabalhos. Por isso, é natural que as atuações mais impactantes acabem sendo a dos jovens Paulo Mendes e Antônio Haddad, que dão vida aos rivais Rogério e Marcinho.

Paulo, inclusive, vive um momento ímpar, porque pode ser visto na pele do noviço Luís Evaristo na novela “Amor Perfeito”, exibida na faixa das 18h da Globo. É o tipo de profissional que começa a despontar e em quem vale a pena prestar atenção. Já Antônio deu expediente, entre outros trabalhos, em “Acqua Movie”, um spin-off de “Árido Movie”, ambos dirigidos por Lírio Ferreira.

Com “Os Outros”, o Globoplay segue a estratégia de liberar, aos poucos, suas séries para o público. Essa espera angustiante pelos novos episódios – são dois disponibilizados semanalmente para os assinantes – é outro fator que favorece a produção. Afinal, a expectativa e, consequentemente, a chegada dos capítulos à plataforma geram burburinho nas redes sociais e aguçam a curiosidade do público.

O mesmo aconteceu com “Todas as Flores”, primeira novela original do serviço de streaming. E os ganchos entre os episódios pares, pelo menos até agora, têm mesmo sido melhores e mais instigantes que os dos capítulos ímpares. “Os Outros” é, sem dúvida, o tipo de programa a que dá vontade de assistir sem parar. E tem tudo para mudar paradigmas dentro do Globoplay e, principalmente, da própria Globo.

“Os Outros” – Globoplay.

 

 

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