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Oscar 2025: como é a votação que pode premiar Fernanda Torres e "Ainda estou aqui"?

Longa dirigido por Walter Salles concorre aos prêmios de melhor filme, filme internacional e atriz na disputa deste ano, um feito histórico

Estatueta do Oscar Estatueta do Oscar  - Foto: Valerie Macon/AFP

Após a espera pelas indicações do Oscar, a expectativa se volta para o anúncio dos vencedores. O processo de votação, que pode resultar na consagração de Fernanda Torres como melhor atriz e de “ Ainda estou aqui” como melhor filme, é simples, mas diferente em alguns aspectos. No geral, a única categoria que foge à regra de ser decidida pela maioria é a principal: melhor filme, na qual o Brasil concorre pela primeira vez com o longa dirigido por Walter Salles.

A votação, por óbvio, é restrita aos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood — hoje composta por mais de 10 mil pessoas ligadas à indústria do cinema, sendo cerca de 9.500 membros ativos. Produtores e distribuidoras podem inscrever filmes para a premiação, mas é preciso que as produções se encaixem em uma série de regras. A exceção fica por conta da categoria de melhor filme internacional (a qual “Ainda estou aqui” também concorre na disputa de 2025), em que um comitê de cada país indica um representante.

 

Em linhas gerais, após as indicações serem reveladas, o processo de escolha para uma segura fase: os integrantes ativos podem se manifestar sobre todas as categorias (isso porque, anteriormente, na primeira etapa, diretores, atores, técnicos de som, maquiadores, executivos, entre outras classes de profissionais, votaram nas produções que seriam indicadas para as suas respectivas categorias). Então, o título ou profissional mais votado, ao fim desta votação, torna-se o vencedor do Oscar.

A única categoria que foge à regra geral de votação, no caso, é a de melhor filme em que um sistema de “voto preferencial” é estabelecido. Os votantes fazem um ranking a partir das produções indicadas. Sai com a estatueta aquela que ficar em primeiro lugar em mais de 50% das listas.

Caso nenhuma produção atinja esse feito, a PricewaterhouseCoopers, que gere a votação, fica responsável por checar qual filme menos apareceu no topo do ranking dos votantes. Desta forma, os votos para esse filme são distribuídos para a produção que tiver sido escolhida em segundo lugar por esses votantes.

Neste ano, de acordo com a Academia, a votação vai começar no próximo dia 11 de fevereiro e será finalizada alguns dias depois, em 18 de fevereiro. O anúncio dos vencedores, por sua vez, será anunciado no dia 2 de março.

Quais as chances do Brasil?
No dia seguinte ao Oscar, ainda é feriado. Será que teremos um motivo a mais para celebrar? De acordo com a análise de Lucas Salgado, do GLOBO, as maiores chances de "Ainda estou aqui", primeiro filme original Globoplay, parecem vir da categoria melhor filme internacional, apesar da força do francês "Emilia Pérez". Completam a disputa "A garota da agulha" (Dinamarca), "A semente do fruto sagrado" (Alemanha) e "Flow" (Letônia).

Tendo em vista o atual momento na temporada de premiações, e a visibilidade que o filme nacional passa a ter a partir da indicação na categoria principal, é possível imaginar que "Ainda estou aqui" tenha sim condições para bater o musical francês. O favoritismo de "Emilia Pérez" ainda existe. O filme foi o recordista em indicações, concorrendo a 13 estatuetas, e é um dos mais comentados da temporada.

No entanto, a produção também vem sendo cada vez mais alvo de críticas acerca de sua representação do México e de sua protagonista trans. Nos últimos dias, o uso de inteligência artificial pela produção também foi alvo de comentários em Hollywood, num momento em que a indústria há pouco tempo enfrentava duas greves que tinham a IA como um dos pontos de interesse. Esse debate também está colocando em xeque o favoritismo de "O brutalista" em algumas categorias.

Antes do Oscar, os filmes ainda se enfrentam no Critics Choice e no Bafta, mas parece claro que enquanto o brasileiro cresce, o francês parece cair.

E o que dizer de Fernanda Torres? Será que a atriz irá finalmente vingar sua mãe na premiação? Após a vitória no Globo de Ouro, o nome da atriz ganhou muita força em Hollywood, mesmo após ficar de fora de premiações importantes como o SAG Awards, o Bafta e o Critics Choice. No momento, Fernandinha parece ocupar o segundo lugar na corrida, atrás de Demi Moore, por "A substância", mas à frente das demais concorrentes: Mikey Madison, por "Anora", Karla Sofía Gascón, por "Emilia Pérez" e Cynthia Erivo, por "Wicked". Assim como seu filme, a brasileira se beneficia do fato de que com as indicações muitos membros da Academia podem voltar sua atenção para seu trabalho.

Ainda que as ausências em outras premiações não tenham prejudicado Fernanda para receber uma indicação, pode ser um problema para a brasileira caso Moore emende vitórias, e especialmente discursos, consecutivos. A veterana deu um dos mais emocionantes discursos do Globo de Ouro, relembrando que jamais tinha sido premiada antes e que sofreu preconceitos da indústria como uma atriz apenas para filmes populares. Desde seu discurso, Moore vem sendo apontada como favorita ao Oscar. Se tiver outras plataformas para se destacar, pode ser difícil tirar a estatueta da mão dela.

Chegamos então a melhor filme. "Ainda estou aqui" pode repetir o feito de "Parasita", em 2020, e se tornar uma produção internacional premiada na categoria principal do Oscar? É muito improvável. Muito mesmo. Apesar de ter recebido um holofote gigante com a indicação é muito raro que uma obra conquista melhor filme sem ter sido indicada a melhor direção. Isso aconteceu apenas seis vezes em 97 edições da premiação, sendo a última em "No ritmo do coração", em 2022.

Foi a primeira vez na História que uma produção brasileira foi indicada na categoria, embora em 1985, uma coprodução Brasil e Estados Unidos também tenha sido indicada a melhor filme: "O beijo da Mulher-Aranha", de Hector Babenco. O longa, no entanto, era falado em inglês, com maior parte do elenco internacional.

Tem sido difícil controlar as expectativas, mesmo diante dos pedidos de Fernanda Torres. Deixar a cerimônia sem uma estatueta pode deixar um gostinho amargo, mas a verdade é que há muito tempo o Brasil não chegava com tantas chances ao Oscar. Com ou sem vitória, o brasileiro poderá se esbaldar (ou afogar as lágrimas) no carnaval, uma vez que a cerimônia acontece no domingo, 2 de março. Até lá tem muita coisa para acontecer.

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