Filme

'Para Roubar o Céu' traz o teatro para tela e expõe relações de trabalho

Filme produzido em Vitória de Santo Antão será lançado nesta terça-feira (30), em canal n YouTube

Cena de "Para Roubar o Céu"Cena de "Para Roubar o Céu" - Foto: Divulgação

Todos querem garantir o seu lugar no céu, mas, por mais que se lute por isso, algo pode atrapalhar: uma desigualdade social, abandono, a violência ou até mesmo uma relação de trabalho. Se não é dado por direito, tomar para si o céu do outro não será um pecado tão grande. É nesse conflito que emerge o filme “Para Roubar o Céu”, um humor desconcertante, fruto da iniciativa conjunta do grupo de teatro de rua Círculo Mágico da Cabriola e da produtora de vídeos Canal Tapacurá, de Vitória de Santo Antão. Também participam a produtora Moenda Filmes e o artista Jonatas Onofre. O material será lançado nesta terça-feira (30), no Canal Tapacurá no YouTube

A produção fala sobre as relações de trabalho, focando nas violências e explorações que surgem entre chefe e empregado, tendo como norte o trabalho doméstico em uma casa do interior de Pernambuco. O material é repleto de inquietações e diálogos poéticos. A idealização do longa-metragem surge a partir das leituras de "O Avarento", do dramaturgo francês Molière. Na obra, uma das mais encenadas pelo mundo, é a história de Harpagão e das problemáticas que envolvem sua mesquinharia que estão no centro da trama. "Para Roubar o Céu" se apropria da história, mas o faz a partir da perspectiva dos trabalhadores, o que foi apelidado pela equipe de “o subversivo riso da criadagem”.

“Existe a 'história do patrão', que é a história de quem tem voz, quem tem vez, e existe a outra versão, que talvez seja a mais verdadeira, a mais crua, a mais sofrida mas talvez a mais carregada de poesia, a que dá possibilidade de fazer tantas coisas. Lançar esse filme no momento em que estamos vivendo, politicamente falando, é necessário”, conta Sammia Gonçalves, atriz e produtora do filme. Ela interpreta Pelado, um ser mágico que aparece para os outros quando estes comem a comida servida aos trabalhadores da casa, que é estragada. 

Além da obra de Molière e do “Discurso da Servidão Voluntária”, de Étienne de La Boétie, o roteirista Durval Cristóvão afirma que todos da equipe também se apoiaram nas situações de vassalagem que vivenciaram ao longo da vida. “Infelizmente, esse é o papel do trabalhador, criar as riquezas para outros e não ter direito a isso”, sentencia Durval, que é diretor do Círculo Mágico e também idealizador do Canal Tapacurá, que tem como marca forte em suas produções o orgulho de se reafirmar pernambucano do interior, focando principalmente no bairrismo em ser vitoriense. “Nunca olhei para isso e achei que fosse algo vexatório. É interessante pensar que tem uma galera se reunindo no interior do estado e fazendo filme no fundo do quintal - o meu - que foi feito com financiamento público e no meio de uma pandemia”, conta o diretor.

Os entrevistados relatam que, inicialmente, o roteiro não foi pensado para ser interpretado para as câmeras, e sim para ser vivido como uma peça. Porém, em decorrência da pandemia, o material acabou sendo aproveitado para o edital da Aldir Blanc. A partir daí, diversas questões surgiram, como, por exemplo, de que modo a linguagem do teatro seria transcrita para um filme. 

“Uma das peculiaridades de ter uma trupe de teatro atuando no gênero cinematográfico é que a câmera está a serviço do ator, e não ao contrário. Eles são a principal peça dessa engrenagem. Os outros elementos estão ali para ajudar os atores a contarem uma história”, comenta Durval. Sammia ainda complementa: "Resolvemos nossos problemas com uma solução teatral, foi transformar um único espaço em vários espaços. No nosso caso, o costume da praça foi à casa”.

Outros desafios causados pela pandemia surgiram durante as gravações. “A primeira coisa que surgiu na nossa cabeça foi que precisaríamos de uma única locação em um ambiente aberto e de uma equipe mínima. Inclusive, fizemos alguns truques com a câmera para que o espaço parecesse maior, já que foi gravado no meu quintal. Algumas pessoas também fizeram testes de Covid-19 antes de iniciar as gravações e, claro, usamos máscara”, detalhou Durval.

O diretor e roteirista comenta que editais de fomento são uma boa oportunidade para distribuir igualmente entre as cidades do estado o investimento em produtos culturais, principalmente em um contexto pandêmico, em que a classe, em muitos momentos, se viu prejudicada. “A própria pandemia trouxe a necessidade do fomento, já que os artistas estavam tão desassistidos, principalmente os de Vitória de Santo Antão. A cidade não executou a lei Aldir Blanc, então nós não usufruímos do recurso por meio da prefeitura, tivemos que recorrer ao governo do Estado”.

“A razão de a gente se encontrar é uma desculpa para ter a comunidade artística reunida. E o canal acaba também cumprindo esse papel de arquivo, memória da cidade. Sinto que o Canal Tapacurá tem um compromisso com Vitória de Santo Antão. Nós gostaríamos de ver uma cidade engajada em propostas culturais”, dividiu Durval. A equipe também aprovou outros dois materiais audiovisuais, que tem lançamento para este ano.

 

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