Parte da história televisiva, novelas já foram produzidas em Pernambuco
Elas revelaram atores, atrizes e novos talentos que despontariam futuramente no mercado midiático do eixo Rio de Janeiro-São Paulo, onde se concentram as principais emissoras brasileiras
Um dos meios de comunicação mais democráticos e acessíveis à população, a televisão completou 70 anos de existência no Brasil. Fundamentais na construção da identidade cultural brasileira, as telenovelas fazem parte da história televisiva nacional, com produções que marcaram gerações e difundiram um imaginário coletivo. Embora não seja comum, telenovelas e seriados já fizeram parte do cotidiano da televisão pernambucana. Elas revelaram atores, atrizes e novos talentos que despontariam futuramente no mercado midiático do eixo Rio de Janeiro-São Paulo, onde se concentram as principais emissoras brasileiras.
Apesar da transmissão ter chegado ao Brasil em 1950, a televisão local só chegou 10 anos depois, com a operação da TV Jornal do Commercio e, em seguida, a TV Rádio Clube de Pernambuco. Esta segunda foi responsável pela produção da primeira telenovela do Estado, “O ruído do silêncio”, roteirizada e dirigida por Jorge José Santana. “As primeiras produções eram mais curtas. Eram capítulos transmitidos ao vivo, nas terças e quintas-feiras, com 30 minutos de transmissão. Foram trazidos profissionais de São Paulo, que já trabalhavam com a tv na época, mas equipe era essencialmente pernambucana, que trabalhava no rádio, na época”, conta ele, que lançou os livros “A televisão pernambucana: por quem a viu nascer” e “Meio século depois: televisão pernambucana, 1960-2010”.
A produção pernambucana da década de 1960 tinha movimento próprio. Mesclava a classe artística do teatro, televisão e cinema, criando um mercado para atores e atrizes que atuavam no Estado. “Eram raros os profissionais que vinham de fora. Tinha gente que vinha do teatro, aí você juntava quem fazia rádio e televisão e fomos criando nossa própria linguagem. Foi muito bom para Pernambuco e os a classe artística foi muito prestigiada”, conta Jorge.
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Depois da TV Rádio Clube, no Canal 6, Jorge Santana foi para a concorrente no Canal 2, a TV Jornal. Lá, foi diretor do sucesso “A Moça do Sobrado Grande”, a primeira telenovela pernambucana de longa duração, com 125 capítulos. De autoria de Semíramis Alves Teixeira e estrelada por Carmen Peixoto e José Pimentel, a novela fez tanto sucesso em Pernambuco que foi adquirida pela TV Bandeirantes, o qual a Jornal era afiliada nos anos 1960. Inclusive, a produção foi uma das primeiras nacionais a ser gravada em externa, mas não obteve o mesmo sucesso em São Paulo, onde passou em branco pelos telespectadores paulistas.
Com a chegada dos satélites na década de 1970 e o avanço tecnológico na televisão, ficou muito caro fazer a teledramaturgia local. Se na década de 1960, as emissoras produziram mais de 40 obras juntas, a televisão local quase anulou a ficção da sua grade televisiva. “Enquanto estive na TV Universitária como diretor de programação, até ensaiamos a produção de conteúdos de ficção, mas nada próximo das novelas. Com o tempo, ficou muito caro e com o desinteresse de anunciantes locais, quase não se viu mais produção”, afirma Santana.
Na década de 1990, a Rede Globo Nordeste tentou recuperar a produção de obras, mas não houve continuidade. A emissora produziu especiais, a exemplo de “A promessa de Jeremias", de Valdir Oliveira, além de “Caminho de Monte Santo" e "O santo cibernético". Nos anos 2000, a TV Jornal, em uma parceria com o SBT Nordeste, tentou a retomada da teledramaturgia regional, contudo, só deu segmento a "Santo por acaso" e "Cruzamentos urbanos”.