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Paulo Coelho declara voto em Gilberto Gil para vaga na Academia Brasileira de Letras

Gil e o poeta Salgado Maranhão disputam a vaga da cadeira 20 nesta quinta-feira

Gilberto Gile  Paulo CoelhoGilberto Gile Paulo Coelho - Foto: Montagem/Divulgação

No dia em que a Academia Brasileira de Letras elege o ocupante da cadeira 20, que foi do jornalista Murilo Melo Filho, morto em maio de 2020, Paulo Coelho, da cadeira 21, declarou seu voto em Gilberto Gil. O cantor, compositor e ex-ministro disputa a vaga com o poeta e compositor Salgado Maranhão.

"Espero que Gilberto Gil seja eleito hoje para a ABL (votei nele, claro). Ele é, junto com Caetano e Chico, um dos maiores poetas do Brasil atual", escreveu Paulo, imortal desde 2002, no Twitter.

Independentemente do vencedor, a cadeira 20 será ocupada por um grande expoente da cultura negra do país. Isso aumentará o número de negros no quadro da instituição, que hoje conta apenas com o acadêmico Domício Proença Filho.

Esta é a segunda eleição após a retomada das atividades presenciais da Academia Brasileira de Letras, que ficou parcialmente fechada entre março de 2020 e outubro de 2021. Na semana passada, a casa elegeu a atriz Fernanda Montenegro para a cadeira17.

Gil é um velho sonho da academia e favorito absoluto. Dificilmente a eleição lhe escapará, mas fontes na ABL dizem que Maranhão fará votação expressiva. Terceiro nome na disputa, o escritor Ricardo Daunt não tem chances.

Inicialmente, Gil havia sido convidado pelos acadêmicos para se candidatar para a vaga de Alfredo Bosi, com quem tinha certa proximidade. Acabou, no entanto, preferindo disputar a vaga de Melho Filho. O ex-ministro da cultura é um dos artistas brasileiros mais respeitados no mundo. Há algum tempo, a academia vem tentando abrir suas portas para a cultura popular, o que pesa em seu favor na disputa. Em 1996, Gil lançou o livro "Todas as letras", uma reunião de suas composições, cumprindo assim o pré-requisito de ter pelo menos um livro publicado para se candidatar.

Como um dos principais expoentes da Tropicália, o movimento cultural que trouxe inovações estéticas nos anos 1960, Gil mesclou tradições brasileiros com vanguardas estrangeiras. Durante a ditadura militar no país, o movimento foi atacado por progressistas e conservadores, mas logo se impôs como uma tradução ousada dos anseios de boa parte da sociedade. Preso pelos militares, acabou exilado em Londres entre 1970 e 1972. Gil é autor de alguns dos maiores clássicos da música popular brasileira, como "Domingo no Parque", "Aquele Abraço", "Expresso 222".

Ao fazer um balanço da sua atuação como ministro entre 2003 e 2008, Gil disse que havia tentado "mudar o conceito de cultura". Durante sua gestão, o orçamento para o setor aumentou de 0,2% para 0,5% do PIB.

— Pocuramos vender o conceito de que cultura não é só uma expressão simbólica, mas também economia, produção de riquezas — disse o ex-ministro  ao GLOBO na época. — Houve o aumento de interesse na cultura dos grotões e também uma expansão da nossa cultura para além das fronteiras nacionais.

Concorrente de Gil na eleição desta quinta-feira, José Salgado Santos, o Salgado Maranhão, também tem grande reconhecimento internacional. Nascido em Caxias, no Maranhão, fez recentemente um tour pelos Estados Unidos, onde teve vários livros traduzidos, para uma série de palestras em universidades locais. Também já teve traduções para alemão, francês, sueco e japonês. O seu nome artístico foi dado pelo poeta Torquato Neto, um tropicalista assim como Gilberto Gil. Maranhão conheceu Torquato em Teresina, no Piauí, por onde passou brevemente antes de se mudar para o Rio, nos anos 1970.

Outro ponto em comum com Gil é a atividade musical. Como letrista, Maranhão tem mais de 50 composições gravadas por artistas como Ney Matogrosso, Paulinho da Viola, Zizi Possi e Ivan Lins, entre outros.

Maranhão recebeu o Jabuti de melhor livro de poesia por "Mural de Ventos", em 1999. Também recebeu o prêmio da Academia Brasileira de Letras na mesma categoria por "A cor da palavra".

— Salgado joga com a linguagem, inventa palavras e não aceita as regras gramaticais — afirmou em entrevista ao GLOBO o tradutor americano Alexis Levitin, que verteu para o inglês três livros do brasileiro ( “Sol sanguíneo”, “A pelagem da tigra” e “Palávora”). — Ele tem um instinto musical muito bem desenvolvido.

A cadeira 20 da ABL tem como fundador Salvador de Mendonça, que escolheu como patrono Joaquim Manuel de Macedo. Os outros ocupantes, além de Murilo Melo Filho, foram Emílio de Meneses, Humberto de Campos, Múcio Leão e Aurélio de Lyra Tavares.

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