Paulo Freire vira alvo de conservadores na era Bolsonaro
Nos últimos anos, houve uma depreciação pública de Paulo Freire por parte da extrema direita. "Feio", "fraco", "sem resultado positivo" e até "energúmeno''. Esses foram adjetivos colocados pelo presidente Jair Bolsonaro e seus aliados numa guerra que criminaliza os métodos do educador pernambucano desde que ele assumiu o governo em 2019, numa chamada "cruzada ideológica". Embora seja o pensador brasileiro mais citado no mundo, com 35 títulos de honoris causa e referência internacional para a educação, ações judiciais e de governo tentam colocá-lo como um vilão para a pátria. Mas a história não começa agora.
Por sua filosofia, que pregava a libertação do oprimido pela educação, Paulo Freire foi atacado ainda na campanha de Bolsonaro, em 2018, quando o mesmo já tinha traçado um plano de governo que apagaria a memória do filósofo. Sem êxito, os ataques começaram a ser públicos nas suas declarações. “Os caras estão há 30 anos [no ministério], tem muito formado aqui em cima dessa filosofia do Paulo Freire da vida, esse energúmeno, ídolo da esquerda", disse Bolsonaro, na época em que retirou a homenagem ao nome do filósofo na Plataforma da Capes.
Justiça
Paulo Freire foi declarado Patrono da Educação Brasileira em 2012, incomodando os setores conservadores. O incômodo foi tanto que o próprio Governo Federal entrou com uma ação para que a menção ao patrono fosse apagada. A resposta negativa da Justiça Federal do Rio de Janeiro chegou nesta sexta-feira (17), alegando que o governo não pode “praticar qualquer ato institucional atentatório à dignidade do professor Paulo Freire”.
Leia também
• Ocupação no Itaú Cultural é dedicada ao centenário de Paulo Freire
• Acompanhe a linha do tempo de Paulo Freire, com acontecimentos marcantes de sua trajetória
• Confira programação que celebra os 100 anos de Paulo Freire
“Uma juíza do Rio de Janeiro já fez uma advertência para o Planalto não desabonar Paulo, um patrono da educação. Ele vai se arrepender de falar o que ele falar sobre Paulo. o mundo inteiro vai se indignar... ninguém pode fazer isso por um simples desejo, ranço necrófilo. Ele foi o maior educador do país e um dos maiores do mundo. Ele já fez uma guerra enorme, esteve empenhado em querer queimar os livros, disse que ia jogar chamas de fogo", defende Ana Maria Freire, sua viúva.
Perseguição histórica
A perseguição a Paulo Freire não é de hoje. No livro "Um educador: o perfil de Paulo Freire", de Sérgio Haddad, explica que o educador e filósofo foi perseguido durante a ditadura militar, em que o mesmo foi preso por 70 dias, foi exilado na Bolívia e tem uma experiência no continente africano. Apesar do seu método ser antidoutrinário, ele ficou marcado pelo Exército pela "doutrinação", sendo usado como argumento até os dias atuais pelos movimentos conservadores, como a Escola Sem Partido.
O diretor do Instituto Paulo Freire, o doutor em educação Paulo Roberto Padilha, aponta a contribuição da burguesia brasileira para a criminalização do filósofo pernambucano. “Você nota que aquele exílio lá em 1964 tenta se repetir agora, mas não conseguem mais exilar Paulo Freire, porque ele é um cidadão do mundo. Ele é um dos maiores pensadores do século XX, Paulo Freire é o educador brasileiro mais conhecido e mais citado em todo o mundo. Ele é uma referência para as diversas áreas do conhecimento”, explica.
"Em primeiro lugar, Paulo Freire significa um risco para a sociedade que não quer um modelo de educação democrática, que não quer uma sociedade democrática, que não quer que o brasileiro se torne autônomo. Paulo Freire se torna um risco para a burguesia nacional de hoje, para essa elite do atraso, para esse grupo de fascistas que estão no poder e querem acabar com a causa. Quando estão Paulo Freire, não estão atacando apenas a pessoa dele, mas a defesa de um mundo melhor, uma defesa de uma educação esperançosa e que fornece à pessoa que ela saia de uma consciência ingênua e leia o mundo de forma crítica", pontua Paulo Roberto.