"Pedaço de mim": Juliana Paes tem "superfecundação heteroparental" em produção da Netflix
"Não sei o que eu faria no lugar da Liana. Talvez eu tivesse abortado", diz a atriz, cuja personagem fica grávida de gêmeos de dois pais diferentes
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“O que é uma história de troca de bebês na maternidade se comparada com uma superfecundação heteroparental?”, pergunta o ator Vladimir Brichta em conversa com O Globo.
Ele relaciona o tema já explorado em novelas do passado com o eixo principal de “Pedaço de mim”, primeira série brasileira de melodrama da Netflix, que estreia na próxima sexta-feira com o ator como um dos protagonistas. “Essa é uma sacada que todo autor vai dizer: 'Como é que eu não pensei nisso antes?'”.
A tal sacada, a “superfecundação heteroparental” ou "heteropaternal", acontece quando dois óvulos, no mesmo ciclo, são fecundados por espermatozoides de dois homens diferentes, ou seja, a mulher fica grávida, ao mesmo tempo, de dois parceiros.
É isso que acontece com Liana (Juliana Paes). A terapeuta sonha em ser mãe, engravida do marido Tomás (Vladimir) e do irmão de uma amiga, Oscar (Felipe Abib), numa relação não-consensual. Esse drama é o fio condutor dos episódios feitos num formato híbrido, nas palavras de Juliana.
—Temos esse melodrama com um drama familiar,que não tem medo de ser navalha na carne. Mas temos uma estética com muita sutileza, muito realista. É como se depurássemos tudo que tem numa novela e colocasse bem conciso — diz Juliana. — Juntamos um pouco do melhor dos mundos, sem parecer pretensiosa. Acho que tem essa vontade de atender a galera que gosta das novelas, mas com a velocidade, com a intensidade e com a sutileza que o público de hoje, que gosta de séries, deseja.
Criada pela novelista Angela Chaves, autora, dentre outras obras, de "Éramos seis", exibida pela TV Globo em 2019, e com direção artística de Maurício Farias (de "Um lugar ao sol", novela de 2021 também da Globo), a produção tem 17 episódios, todos no ar de uma só vez.
Além de Juliana e Vladimir, o elenco tem ainda Paloma Duarte, como a obstetra Silvia, irmão de Tomás, e João Vitti, o médico Vicente, que descobre a gravidez heteroparental de Liana.
Segundo a autora, a inspiração para a história veio de um caso real — e raro, diga-se de passagem.
—Li em um jornal a notícia de que uma americana teve filhos gêmeos de pais diferentes há bastante tempo e guardei essa história no meu baú. Gosto de ter um baú de histórias com recortes de jornais, o que hoje em dia já virou arquivo de computadores — disse Angela. —Essa história é um drama cotidiano, uma história de família. É um drama familiar que poderia acontecer com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo. Mas ela parte de um acontecimento incomum, quase extraordinário, que é a gravidez gemelar de pais diferentes. Acho que esse é o grande interesse, o fator mais instigante. A partir de um fato quase extraordinário, pensar: "e se acontecesse comigo, e se acontecesse com você, e se acontecesse com qualquer pessoa, como eu lidaria com essa situação?".
Juliana, mãe de dois filhos (Pedro, de 13 anos, e Antônio, de 10, frutos do casamento com o empresário Carlos Eduardo Baptista), também se fez as perguntas propostas por Angela:
—Até hoje, não sei o que eu faria no lugar da Liana.Talvez eu tivesse abortado. Acho que, na minha cabeça, seria a opção mais viável. Mas não sei — diz a atriz, sem se furtar a relacionar o tema com a PL antiaborto, que tangencia a história, visto que uma das gravidezes é fruto de um abuso; no entanto, o aborto de apenas um feto, neste caso, é impossível, como dito na própria série. —Está sendo necessário que se discuta isso, está sendo necessário falar que é um debate de saúde pública, que precisamos deixar religiosidade um pouquinho de lado para tratar disso de uma maneira mais assertiva.