"Pelespírito": em disco tomado por afinidades, Zélia Duncan consolida parceria com Juliano Holanda
Disco recém-lançado e que marca 40 anos de carreira da artista carioca, vai ser apresentado em live no próximo dia 19 de junho
Zélia Duncan é ‘chegada’ aos sotaques das bandas de cá de Pernambuco. Ela diz que sempre esteve de olho e ouvido no que e em quem artisticamente habita esta terra. Juliano Holanda é um exemplo deste flerte da artista carioca, cravado em “Pelespírito”, disco recém-lançado e que tem a assinatura de ambos nas faixas e na produção.
Um trabalho que embaralha sentimentos dentro da realidade dos tempos atuais e reforça a maestria no fazer artístico de dois dos grandes nomes da Música Popular Brasileira (MPB). “O encontro com ela é um diamante raro. Acho que ambos nutrimos um tipo muito parecido de amor pela arte, da arte enquanto elemento transformador”, salienta Juliano.
Em conversa com a Folha de Pernambuco, Zélia validou essa sintonia que culminou no disco – feito a partir da troca de letras e arranjos entre os dois, pelo WhatsApp. Para ela, que conheceu Juliano via Almério, ocasião em que também foi apresentada a Martins e PC Silva, fato que concluiu com um “Veja minha sorte!”, Juliano Holanda é uma espécie de “pequena multidão”, haja vista sua onipresença como multiartista requisitado que é.
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“Foi muito instantâneo nosso entrosamento. Ele tem a música nos dedos, as palavras na ponta da língua. Tem uma antena muito afiada, e uma disponibilidade interna com a qual me identifico. Foi mesmo um encontro de amigos”.
Amigos da música que vêm desde 2019 com a participação de Zélia no disco de Igor de Carvalho (Cabeça Coração) e com o projeto "Natureza Sonhadora", no tributo a Accioly Neto. "Mas com ‘O Que Mereço’ foi um elo muito forte”, contou Juliano em menção à composição levada por ela para o álbum “Tudo é Um” .
Duncan como ativista necessária
Tomado por 15 faixas que desnudam os dois como artistas e como habitantes destes tempos estranhos, “Pelespírito” consolida Zélia como ativista de uma arte necessária, que empacota em um mesmo embrulho, manifestos – vide o álbum anterior com Ana Costa “Eu Sou Mulher, Eu Sou Feliz”(2019).
“Tem humor, interesse pelo outro e pelo mundo, a poesia, a diversidade de parceiros musicais. Abri uma porteira há uns bons anos e saí compondo com muita gente também”, complementou Zélia que de Juliano Holanda teve o que pediu e ele deu o que tinha para oferecer “sinceridade”. “Que é a base de toda boa relação. E foi tudo muito natural. Não foi pensado, foi vivido. E continua sendo”, atestou ele.
Álbum revela sintonia fina
Zélia de São Paulo, Juliano do Recife, e “Pelespírito” foi concebido também para celebrar quatro décadas de carreira dela e o seu retorno à Universal Music. Sobre a faixa homônima que abre o álbum, ela conta que "a letra foi feita num espasmo, de uma só vez”.
Produzido durante a pandemia, e em vários home studios, que incluem Webster Santos na produção, Christiaan Oyens com arranjos, Ézio Filho (baixo) e Léo Brandão (acordeon), o trabalho segue por entre folk, rock e blues, entre outras identidades, como a que se vê na faixa “Onde é que Isso Vai Dar?”, incógnita dos tempos atuais e em “Nossas Coisinhas”, pela delicadeza da cantora e compositora em se remeter à sua companheira, Flávia.
E em “Vai Melhorar”, o disco se finda levando em conta o desejo literal de uma maioria (quase) absoluta, reforçado por Zélia. “Estamos vivos...precisamos honrar quem se foi. Não sou otimista, mas cultivo minhas esperanças, enquanto me movo atrás delas”. “Pelespírito” vai também ser apresentado ao público em live no próximo 19 de junho.
“Já estou emocionada! Estaremos finalmente juntos, depois de mais de um ano, depois de estarmos tão perto e tão longe!”, comemora Zélia sobre o encontro que vai ter com Juliano e Webster.