CULTURA EM 2024

Perspectivas 2024: com a retomada da Cultura em 2023, novo ano deve ser de mais ações para o setor

Retorno do MinC e políticas de fomento ao setor foram essenciais para retorno de ações culturais e que, em 2024, devem seguir ativas

Margareth Menezes, ministra da CulturaMargareth Menezes, ministra da Cultura - Foto: Mauro Pimentel/AFP

Um ano de (re)começo para a Cultura, em todos os setores. Assim pode ser definido 2023 para o teatro, para a música, para a literatura e artes plásticas, entre outros vieses de uma das esferas mais penalizadas nos anos da gestão do Governo Bolsonaro - que, por exemplo, desfez o Ministério da Cultura e o resumiu em uma secretaria.

O retorno do MinC, aliás, com Margareth Menezes à frente da pasta, foi um dos destaques deste ano na Cultura. Fato que levou estados e municípios à retomada de políticas públicas voltadas para o setor.

“A Cultura precisou viver um período de transição, depois do impacto da pandemia, somado ao da ausência de um ministério dedicado ao setor. Neste ano, podemos dizer que este processo viveu sua consolidação, no sentido da superação e entrada em nova fase", atesta o secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello.

 

O mesmo pensamento tem o multiartista e produtor pernambucano Juliana Holanda. Para ele, "2023 foi um ano de reestruturação, de reencontrar as conexões em diversas camadas" e para o cineasta pernambucano Daniel Bandeira, o novo ano é visto com entusiasmo para o cinema brasileiro. "Em 2023, a gente teve um retorno das políticas públicas de investimento em cultura e para o audiovisual", destaca ele.

De uma forma geral, as perspectivas para 2024 estão otimistas, inclusive sob a ótica do fomento a produções culturais no Estado. "Acreditamos que será o ano da alavancagem do setor econômico-produtivo da cultura", ressalta a secretária de Cultura de Pernambuco, Cacau de Paula.

Renata Borba, presidente da Fundarpe, também trouxe boas-novas para obras que estão em andamento em alguns dos equipamentos culturais do Estado. 

“Pretendemos continuar o processo de resgate da missão institucional da Fundarpe. Concluiremos as obras em andamento do Cinema São Luiz, Museu de Arte Contemporânea e Museu do Trem (Estação Central do Recife).

Que o novo ano, portanto, seja de fato voltado para práticas culturais e fomento do setor em todos os âmbitos e para todos os fazedores de arte que em 2023 renovaram esperanças e estiveram a postos para a (re)construção da identidade cultural do País. 

TEATRO

Paulo de Castro, produtor
Crédito: Pedro Portugal/Divulgação

Paulo de Castro, ator, diretor e produtor
“Que o  próximo ano as coisas se normalizem e voltemos a produzir a  cultura com melhores condições técnicas e que nós, trabalhadores da arte possam ser pagos justamente”.

 

LITERATURA

Cida Pedrosa, escritora
Crédito: Paullo Almeida/Folha de Pernambuco

Cida Pedrosa, escritora
Que a cultura nossa, de cada dia, faça parte real do orçamento público e privado,  receba o apoio integral necessário para poder existir com dignidade,  fluir democraticamente, encantar através das suas diversas linguagens e que os fazedores de cultura sejam sujeitos de direito”.

 

MÚSICA

Juliano Holanda, artista pernambucano
Crédito: André Sidarta


Juliano Holanda, músico, compositor e produtor
“Creio que 2023 foi um ano de reestruturação, de reencontrar as conexões, isso em diversas camadas. Nessa medida, 2024 pode trazer o tempo do fluxo. E anseio que todo movimento venha repleto do conhecimento adquirido nessas últimas tempestades.

Me parece óbvia e valiosa a importância da clara noção de indivíduo coletivo. Percebo que o setor cultural, mais do que em qualquer outro período, já se entendeu definitivamente como um vasto, único e plural bioma.

Vejo o fortalecimento de grupos interessantíssimos e fortalecidos correndo em paralelo ao mainstream e uma gradual diluição do apelo das marcas. 

Creio que 2024 será o ano do artesanato da música.”

Melina Hickson
Crédito: Beto Figueiroa/Divulgação

Melina Hickson, produtora e realizadora do Porto Musical 
Do ponto de vista nacional, tem uma perspectiva interessante, que é o lançamento do PNAB (Programa Nacional Aldir Blanc), a lei emergencial Aldir Blanc que se transforma num programa de cinco anos e passa a ser uma lei de fomento.

Existe uma expectativa nacional de que isso consiga ter uma abrangência em todo o Brasil, em todos os níveis da cadeia produtiva da música, pegando a cultura popular, o interior do Brasil, as manifestações rítmicas mais diferentes. Acredito que isso pode ser um programa que vai mudar a história da música no Brasil pelos próximos cinco anos.

Ana Garcia, produtora
Crédito: Divulgação

 Ana Garcia, produtora
“Eu sou uma otimista e sempre acredito que o ano seguinte será melhor para a cadeia da Cultura, quando vejo, já se passaram uns 20 anos falando a mesma coisa. Mas de fato, acredito que 2024 será melhor, já podemos ver pela quantidade de editais que temos disponíveis para o mercado da música que é uma forma de incentivar bem a cadeia produtiva.

Já tivemos dois anos pós-pandemia, de retorno, então, acredito que muita coisa estará ajustada e melhorada. Mesmo assim, acredito que estamos vivendo um momento de mercado inflado com a explosão de festivais e festas, custos de logísticas e cachês altíssimos.

Para nós de Pernambuco e do Nordeste, acredito que ainda sentiremos dificuldade de realizar festivais independentes, estamos precisando trazer os holofotes para cá para que as marcas vejam o nosso mercado. Eu tenho um grande desejo para Pernambuco para 2024 que é a Lei do Mecenato.

Pernambuco é um dos poucos estados sem a Lei e só perdemos com isso. Vale lembrar que votei em Paulo Câmara para governador em 2015 por causa da Lei e até agora, quase 10 anos depois, nada. Mas tem sido bom ver o underground se movimentar por aqui, com pequenas festas e shows como da nova produtora Algazarra, a nova festa Jorra, as festas da Reverse e Golarrolê, como também o surgimento de artistas que acredito que irão crescer bastante próximo ano, como Mariana Rocha, Fykyá, Siba, Gomes e tantos outros.”

Conde Só Brega
Crédito: Divulgação

Conde Só Brega, cantor 
Olha, 2023 foi o ano que eu levei o Brega pro Brasil, pro mundo, que estivemos em Brasília, estivemos lá na Europa, gravamos o nosso DVD que vai ser lançado no janeiro de 2024, tivemos mais de 200 shows. No ano de 2024, eu espero a mesma perspectiva, que a gente possa levar o nosso Brega de Pernambuco pro Brasil e pro mundo.

Em março, se Deus quiser, nós vamos estar de volta da turnê na Europa, dessa vez em outros países mais próximos, Alemanha, Suíça, Itália, França, Espanha e Portugal. Então, a nossa vontade é essa, levar o nosso Brega, a nossa Cultura, a nossa Arte, ao Brasil e ao mundo. 

No Estado, sigo sem saber qual a política pública do governo Raquel Lyra para a música. Não existe ainda, a gente não sabe, a Secretaria de Cultura é um grande enigma. Eu acho que é muito importante que o governo lance o seu programa. Até agora, organizou o calendário de Funcutura, o calendário da Lei Paulo Gustavo não conseguiu cumprir, o que atrapalhou vários projetos.

Então, isso dá um pouco de receio na gente, até na própria execução do PNAB, quando essa grana chegar em Pernambuco. Então, espero que a Secult-PE possa mostrar pra sociedade civil o que planeja pra música. É uma expectativa que eu tenho, porque até agora não está claro o que esse governo planeja para os próximos três anos pra cultura e pra música de Pernambuco. 

Do ponto de vista municipal, a execução da Lei Paulo Gustavo está muito mais rápida. o edital um pouco mais desburocratizado. Agora já vai entrar nesse processo de ciclo de carnaval e tal. Foi uma gestão que organizou o SIC, colocando o calendário do SIC em dia, isso é muito importante.

Então, eu vejo uma gestão um pouco mais ágil nesse sentido e também voltou a trabalhar com o Conselho Municipal de Cultura, coisa que o estadual ainda não tá trabalhando bem. Espero política pública mais de Estado do que gestão, essa é a expectativa que eu sempre tenho pro ano novo que chega.

A Lei Paulo Gustavo e o PNAB são leis de fomento. Isso não é política pública. É política pública também, mas não é só isso. Eu espero que o governo de Pernambuco e os municípios de Pernambuco não se apoiem nesse dinheiro nacional para dizer que estão fazendo política pública.

Eles precisam fazer para além de um dinheiro que vem do Governo Federal. Eu falo de políticas estruturantes, de sustentabilidade para a Cultura e para a Música de Pernambuco. Dizer que executou a LPG, a LAB, é bom, é ótimo, mas isso não é política estruturante pública para a Música, e eu espero que 2024 seja mais do que isso, seja para além disso.”

 

CINEMA

Daniel Bandeira, cineasta
Crédito: Olivier Vigerie/Divulgação

Daniel Bandeira, cineasta
“Eu vejo 2024 com muito entusiasmo para o cinema brasileiro. Em 2023, a gente teve um retorno das políticas públicas de investimento em cultura e para o audiovisual. Vi também uma participação muito expressiva do cinema brasileiro em festivais internacionais, o que indica uma reconexão da produção brasileira com o restante do mundo, depois desses anos de isolamento no governo Bolsonaro.

Eu tenho uma fé particularmente grande na retomada das produções de cinema de gênero aqui no Brasil. Eu acho que é um tipo de cinema que já demonstrou uma demanda internacional e também local.

Produções nacionais voltadas para o cinema de gênero, tanto no cinema quanto no streaming, deram um retorno interessante, que aponta a possibilidade de novos investimentos, de uma atenção maior para esse tipo de cinema, até como uma forma de reconquistar o público, sobretudo o público das salas de cinema.

Então, é com muita fé que eu vejo isso. Eu percebo esses sinais flutuando por aí, mas eu também conheço muita gente com projeto, sobretudo do cinema de gênero, que é a minha área e sei que esses projetos, aliados a essa disposição... Há disposição crescente ainda de produtores e de políticas públicas.

Eu acho que tem tudo, realmente, para abrir caminho para esse tipo de cinema. Eu acho que há uma vocação escondida e que o Brasil está prestes a explorar à altura.

Eu digo sempre para as pessoas que eu acho que o cinema de gênero aqui no Brasil é uma espécie de pré-sal cultural. Existe uma inquietação do momento, uma demanda de mercado, um nicho que é fiel a ser explorado, e eu acho que esse vai ser um ano decisivo para a gente encontrar esses caminhos”.

 

ARTES VISUAIS

Jeff Allan, artista visual
 

Jeff Alan, pintor
“Uma das minhas maiores expectativas é que a minha exposição rode o Brasil. Também pretendo pintar mais murais. Eu pintava muito na rua e, quando chegou a pandemia, fiquei muito tempo isolado, pintando dentro de casa. Preciso sair mais da minha zona de conforto.

Eu quero que mais estados aqui do Brasil conheçam o meu trabalho e que mais pessoas pretas periféricas estejam dentro desses equipamentos de cultura, que historicamente foram negados ao povo preto.

Tudo o que eu estou vivenciando dentro dessa exposição está sendo muito mágico e me deixa com muito mais vontade de dar continuidade e numa proporção muito maior. Mas, no geral, minha expectativa é continuar produzindo, sendo feliz e vivendo dos meus sonhos”.

 

POLÍTICAS PÚBLICAS

Ricardo Mello, secretário de Cultura do Recife
Crédito: Marcos Pastich/Prefeitura do Recife

Ricardo Mello, secretário de Cultura do Recife
“A Cultura precisou viver um período de transição, depois do impacto da pandemia, somado ao da ausência de um ministério dedicado ao setor. Neste ano, podemos dizer que este processo viveu sua consolidação, no sentido da superação e entrada em nova fase.

Realização de ciclos culturais, lançamentos de editais, além de, aí especificamente no Recife, avanços na estruturação de políticas públicas como o Patrimônio Vivo, o Plano Recife Matriz da Cultura Popular (MCP), o fortalecimento do Conselho Municipal, a volta dos festivais, entre outras. Isso abre, local e nacionalmente, a perspectiva de um ano de grandes conquistas no setor.

Há, de novo, um diálogo e uma articulação que promovem a formulação de políticas continuadas, que geram resultados, transformações, na democratização do acesso ao fazer cultural e aos bens culturais, na valorização das cadeias produtivas, na efetiva garantia de instrumentos de fomento, como o SIC municipal.

Isso projeta um quadro de crescente ocupação de espaços do segmento cultural na sociedade - seja nos equipamentos culturais, vários deles reabertos no Recife, seja nas ruas, praças e outras áreas públicas. O ano de 2024 promete efervescência, diversidade e agenda cheia”.

Cacau de Paula, secretária de Cultura de Pernambuco
Crédito: Paullo Almeida/Folha de Pernambuco


Cacau de Paula, secretária de Cultura do Estado
“2023 foi o marco da retomada da Cultura no Brasil e deixa um legado de ampliação de oportunidades de acesso a recursos e de criação de políticas públicas estruturantes. Acreditamos que 2024 será o ano da alavancagem do setor econômico-produtivo da cultura.

Além dos repasses Federais da LPG e da PNAB, Pernambuco terá ações Estaduais de constância e longa duração de apoio, fomento e promoção da cultura, de forma democrática, inclusiva, com respeito às diferenças de raça e territorialidades e com a participação dos fazedores de cultura.

Já estamos trabalhando na criação de um calendário de festivais e; em premiações de reconhecimento, valorização e difusão de trajetórias e novos talentos da cultura popular”.

Renata Borba, presidente da Fundarpe
Crédito: Paullo Almeida/Folha de Pernambuco


Renata Borba, presidente da Fundarpe
“Para 2024 pretendemos continuar o processo de resgate da missão institucional da Fundarpe. Concluiremos as obras em andamento do Cinema São Luiz, Museu de Arte Contemporânea e Museu do Trem (Estação Central do Recife).

Iniciaremos a Restauração dos bens integrados da Matriz de Santo Antônio, no Recife, e do Mosteiro de São Bento, em Olinda. Pretendemos, ainda, concluir 6 processos de registros (patrimônio imaterial) e 10 processos de tombamento (patrimônio material). Também iniciaremos as ações de ocupação, previstas nos editais em andamento da Torre Malakoff (Recife) Teatro Arraial (Recife) Casa de Câmara e Cadeia (Brejo da Madre de Deus)”.





 

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