Pesquisadores lançam livro com olhares diversos para as divas pop
O livro faz parte de uma série de comemorações da primeira década do Grupo de Pesquisa de Comunicação, Música e Cultura Pop (GruPop) da UFPE
A primeira metade do século 20 foi essencial para entendermos como a figura da diva impacta na cultura pop. O que não se imaginava é que esta persona, que transita em diversos gêneros para além da musicalidade, surgiu a partir da ópera, com a soprano greco-americana Maria Callas. É o que traz Fernando Gonzalez no capítulo “Maria Callas, uma casta chamada diva”, do livro “DIVAS POP - O corpo-som das cantoras na cultura midiática”, organizado por Thiago Soares, Mariana Lins e Alan Mangabeira, lançado recentemente pelo selo do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O livro faz parte de uma série de comemorações da primeira década do Grupo de Pesquisa de Comunicação, Música e Cultura Pop (GruPop), da Universidade Federal de Pernambuco, o qual é coordenado pelo professor e pesquisador em comunicação Thiago Soares. O grupo foi criado por ele ainda na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em 2011, mas logo migrou para a instituição federal pernambucana - quando ele passou a ensinar na graduação e pós-graduação em comunicação da universidade.
Para além de celebração do GruPop, “DIVAS POP - O corpo-som das cantoras na cultura midiática” serve como um dossiê e a afirmação da importância de se pesquisar e adentrar os contextos envolvidos com a figura da diva pop, em que o primeiro capítulo do livro aponta como “Pelo dicionário, a diva é sinônimo de deusa, divindade feminina. Pode ser também relacionada à ideia de musa. Mas, ao longo do tempo, a diva se consagrou como uma dimensão de poder da mulher-artista. Fama, requinte, estilo de vida, celebridade.”, explica Thiago Soares.
Mais do que definir, a produção faz uma genealogia da figura de diva pop, em que acompanhamos desde Callas e Carmem Miranda - tida como a primeira diva brasileira -, às recentes Anitta e Pabllo Vittar. “A diva vem das cantoras de ópera. A diva está atrelada ao feminino por causa da ópera. Se intensifica com Maria Callas, que tinha uma rivalidade muito grande com outra cantora, que era Renata Tebaldi, em que tinha em jogo a presença muito marcante no palco e uma aura de magia e de deusa fora dele”, afirma Mariana Lins, doutoranda em comunicação e pesquisadora do GruPop.
No livro, Mariana assina o capítulo “This is show business: a cultura dos megaespetáculos pop e a invenção do ‘padrão Madonna’”, que mostra como a “Rainha do Pop” sinaliza uma nova era na indústria, ao incorporar a teatralidade da Broadway aos shows. Um movimento que já era precedido por Michael Jackson e Prince, grandes nomes masculinos da década de 1980, mas que a estrela aperfeiçoou a ponto de ser um padrão de espetáculos na indústria até hoje. O show de Beyoncé no Coachella, em 2018, e turnês de cantoras como Katy Perry, Lady Gaga e Britney Spears foram moldadas nesse formato.
“Os megaespetáculos já existiam, principalmente com os Beatles, mas eram muito voltados à musicalidade. Nos anos 1980, Michael, Prince e Madonna, principalmente, a última começam a moldar um novo tipo de espetáculo. Madonna vai à Broadway buscar engenheiro de som e cênico, corpo de baile… Ela traz a Broadway para grandes estádios e arenas”, frisa a pesquisadora.
Divas e temporalidade
Segundo Mariana, analisar as divas pop serve como um termômetro do tempo. É como se elas representassem fenômenos políticos, sociais, econômicos e culturais que estão atrelados à temporalidade. Um exemplo claro disso foi como a virada do milênio impactou no pop de meados da década de 1990. Havia uma perspectiva de futuro e avanço tecnológico para os anos 2000, refletindo nas músicas e videoclipes da época. O videoclipe de “Scream”, de Janet e Michael Jackson, em 1995, é uma das sínteses desse movimento.
Livro
O livro está disponibilizado para download gratuito na editora UFMG, graças a um financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Ele é fruto do projeto Procad-Capes, que envolve a pesquisa da UFPE, Unisinos e Universidade Federal Fluminense. "As divas pop servem como um pretexto para adentrarmos em diversos assuntos. Neste livro mostramos que fazemos pesquisa séria e que as análises a partir dele são tão complexas quanto os outros materiais sociológicos", afirma Mariana Lins.
SERVIÇO
“DIVAS POP - O corpo-som das cantoras na cultura midiática”
Editora: UFMG
Páginas: 266
Preço: Gratuito
Site: https://seloppgcom.fafich.ufmg.br/novo/publicacao/divas-pop/