Placas com personalidades pernambucana são doadas à Fundaj
Coleção histórica com 332 placas que homenageiam personalidades pernambucanas pertencia ao antigo restaurante do Pina. Foi criada há 42 anos pelo jornalista Augusto Boudoux
Alguns bares marcam a história de um lugar pra sempre, é ali que as melhores conversas acontecem, encontros inesperados ocorrem e a alegria é um estado permanente. Há não muito tempo atrás, Recife era uma cidade boêmia, em 1938 no Pina era inaugurado o bar e restaurante Prá Vocês, palco de inúmeras transformações sociais do Recife.
Por lá, passaram figuras ilustres da capital pernambucana, a exemplo de Fernando Freyre (1943—2005), ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e filho do sociólogo Gilberto Freyre, e o saudoso frevista Capiba (1904—1997). Nomes imortalizados nas paredes do estabelecimento de Severino Reis — o Pivete, para clientes e amigos. Com o fechamento neste ano, as 332 placas que homenageiam personalidades que vão de Ricardo Fiúza a Hebe Camargo foram doadas para a Fundação Joaquim Nabuco, nesta terça (25), às 10h.
Através de um acerto entre Luiz Felipe e João Alberto ficou definida a escolha pela Fundação Joaquim Nabuco, pelo trabalho de proteção e conservação de acervo e se tratar de uma Instituição que preserva a memória e valoriza o patrimônio artístico, histórico e cultural brasileiro. A instituição recebeu o acervo com orgulho que pela representação do patrimônio da cidade do Recife.
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As placas denominativas marcam a importância deste reduto, no Pina, para a sociedade do Século 20 e evidenciam o grande desejo do homem: ser imortal. Em comunicado a imprensa, a casa compreende o respeito que presta aos que foram, mas aqui continuam, e, por sua vez, assegura que os que virão não esqueçam da ‘cidade imaginária’ e dos que nela habitaram.
De acordo com Luiz Felipe Moura, jornalista responsável pela transferência das placas do espaço gastronômico para o Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira (Cehibra), da Fundaj, o bar passava por problemas desde o início do ano. “O lugar vinha ‘embolado’ financeiramente e fechou em fevereiro”, disse.
A coleção foi idealizada pelo jornalista Augusto Bourdox como uma possibilidade de ampliar o faturamento do lugar. “Ele tinha voltado de Paris e contou que viu as placas de madeira em botequins da capital francesa, o quanto as pessoas comentavam a respeito. Em um almoço foi decidido que a alternativa seria adotada para salvar o restaurante”, relembrou Luiz Felipe.
Aparentemente simples, as homenagens passavam por um crivo e uma análise bastante criteriosa. Há cada dois meses um colegiado formado por cinco amigos — mais tarde, nove — indicaria alguém à homenagem. “O aval só era dado após a aprovação da comissão julgadora. Cada placa leva uma homenagem a uma pessoa ilustre, transformada em uma rua ou praça: uma cidade imaginária”, explica Luiz Felipe, ao reclamar que caso alguém não concordasse com a sugestão, a possibilidade era automaticamente descartada.
Com o apogeu, as homenagens saltaram de bimestral a mensal, depois quinzenal. A primeira placa foi confeccionada, em 1978, com o nome ao empresário George Permann.
George, inclusive, foi o grande responsável pela iniciativa. A ideia foi assinada por Boudoux, mas o desejo de ajudar Pivete a manter seu negócio era dele.
Outro grande responsável foi o colunista social João Alberto. Luiz Felipe Moura ingressaria mais tarde. Entretanto, todos colaboraram na criação dos objetos denominativos que conferiam certo status. “Teve homenagem de ‘tá’ mil pessoas na rua. Um detalhe interessante é de que era o homenageado quem pagava tudo. Arranjávamos apenas whisky Teacher e cerveja Brahma”, celebra o jornalista, que, em seguida ressalta. “Não adiantava vir com dinheiro, só homenageávamos quem merecesse”, adverte