Literatura

Poemas de pernambucana exilada na ditadura ganham livro

“Sendo Maria também, que destino me convém?” reúne obra de Clene, poeta de São José do Egito

Clenice Vieira teve forte atuação em movimentos políticos nos anos 1970Clenice Vieira teve forte atuação em movimentos políticos nos anos 1970 - Foto: Acervo familiar/Divulgação

Maria Clenice Viana Valadares, mais conhecida como Clene, nasceu em 1946, em São José do Egito, no Sertão de Pernambuco. Professora e capoeirista, teve a vida marcada pelo ativismo político e pela poesia. Não teve a chance de ver ainda em vida os versos que a acompanharam desde a infância compilados em uma publicação. Mas agora, quase dois anos após sua morte, ela surge como autora de um livro de poemas inédito.

“Sendo Maria também, que destino me convém?” traz uma seleção de textos reunidos e organizados por Anaíra Mahin, filha de Clene. O projeto começou a ser desenhado nos últimos anos de vida da autora e foi concretizado de forma independente, com suporte financeiro do Funcultura. O lançamento ocorre neste domingo (18), com transmissão online, às 16h. 

“Era um sonho antigo da minha mãe publicar um livro. Ela escrevia os poemas em papéis soltos e tinha alguns cadernos, mas tomava cuidados para não perder isso. Quando ela veio morar comigo, cinco anos antes do falecimento, começamos a colocar os textos no computador”, relembra Anaíra. 

Escritos ao longo de vários anos, os poemas também ajudam a contar um pouco da trajetória de Clene. Falam, por exemplo, da perseguição sofrida na ditadura militar, das vivências em diferentes países em razão do exílio político e de suas lutas como feminista e militante anti-racista. Integrante do Partido Comunista Revolucionário quando jovem, a poeta atuou junto aos Panteras Negras, quando morou nos Estados Unidos, e ajudou a fundar o Movimento Negro Unificado em Pernambuco.

Capa do livro Capa do livro (Foto: Divulgação)

“Minha mãe tinha um espírito muito libertário. Ela era um verdadeiro baú de histórias. Esse livro não traz nem um terço das narrativas que ela contava. É apenas um pouco do quebra-cabeça incompleto de uma personalidade muito inquieta e artística”, aponta Anaíra, que não esconde a vontade de um dia  transformar a biografia de sua mãe em documentário. 

Sobre a poesia desenvolvida por Clene, a filha afirma conseguir enxergar um estilo único, que bebe de diferentes fontes. “A poesia de mainha era bem diferente da tradição de São José do Egito. Apesar de ter sido uma poeta popular, ela trazia outras referências, como capoeira, música e a poesia livre”, aponta. Embora tenha dado preferência aos textos em português, a seleção também inclui produções em língua inglesa. 

A live de lançamento será pelo canal no YouTube “TEIA Série, com participação dos poetas Kleber Oliveira, Sammia Gonçalves e Luann Ribeiro. Além do formato físico, que terá parte da distribuição feita gratuitamente em diversas instituições, o livro poderá ser conferido em audiobook no canal do YouTube Sendo Maria.

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