Por um lugar na história: Lamento Negro comemora 30 anos
Bloco celebra a data com shows e com a gravação de um novo disco
Surgido nos anos de 1980, em Olinda, na Associação de Moradores de Peixinhos, o Lamento Negro tinha o objetivo de transformar os finais de semana da comunidade, que, sem opções de lazer, obrigavam os jovens a buscar outras distrações - algumas ligadas à criminalidade. O bloco passou a desenvolver trabalhos sociais, por meio de oficinas de percussão, confecção de instrumentos e aulas de capoeira, dança afro, artes cênicas e de yorubá.
“Nossa ideia era tirar a imagem de violência que Peixinhos carregava. Passamos a fazer trabalho social para crianças e jovens e hoje, as mães desses meninos também participam das ações. Tudo feito com o nosso esforço”, explicou Maia Nomoni, um dos fundadores e mestre de bateria do grupo.
O projeto se tornou referência não só de atividade cultural, como passou a figurar no cenário musical pernambucano como uma novidade. Inspirados na música negra africana e no samba-reggae que despontava na Bahia, o bloco iniciou um movimento novo. Um grupo de afoxé que abrigava o coco, o maracatu, a ciranda, o samba de roda e ainda o break, e que influenciou novos artistas - entre eles, Chico Science, responsável por levar o Manguebeat mundo afora. “Na década de 1990, Gilmar Bola Oito nos apresentou Chiquinho e quando ele viu a negrada tocando, mais de 80 batuqueiros reunidos, se apaixonou e começou a cantar com o grupo. Depois decidiu seguir carreira”, acrescentou Mestre Maia. Foram influenciados nomes como Maracatu Nação Pernambuco, Serpente Negra, Balé Gazela Negra.
Apesar da influência que exerce na cultura pernambucana, muitos são os percalços para manter o Lamento Negro vivo. “Pernambuco é multicultural, mas poucos artistas são cultuados. Quem gerencia o Estado não fala do Lamento Negro. É difícil falar olhando para trás. Por isso, seguimos com um projeto construído por pessoas negras para que elas possam saber os seus direitos”, finalizou.