'Pra gente acordar': Gilsons lançam álbum de estreia nesta quarta (2)
Primeiro disco do trio vai ao ar nesta quarta-feira (2/02/2022), às 22h22, em pleno Dia de Iemanjá
Seria difícil escolher uma data mais simbólica para um lançamento de disco do que hoje, 2/02/2022, Dia de Iemanjá. E "Pra gente acordar", primeiro álbum dos Gilsons - trio formado por descendentes do mestre baiano Gilberto Gil - vai ao ar nas plataformas de música em uma hora bem específica: exatamente às 22h22, reverenciando o patriarca da família, compositor baiano do famigerado "Expresso 2222".
Com nove faixas, incluindo os recém-lançados singles “Proposta” e “Duas Cidades”, o disco foi produzido por José Gil e traz o suingue com violões de nylon, percussões e a musicalidade que virou marca dos Gilsons. “Pra gente acordar” traz composições feitas em parceria com nomes como Clara Buarque, Julia Mestre, Mariá Pinkuslfeld e Carlos Rennó, entre outros. Rennó assina o texto de apresentação do álbum que chega através da Believe.
Além do lançamento digital, a banda vai lançar o disco em duas apresentações. No dia 11 de março, no Cine Joia, e um dia depois, no dia 12, no Circo Voador, ambos no Rio de Janeiro.
Batismo em família
Em 2018, mais precisamente em um “Dia do Índio”, os Gilsons iniciaram a carreira. A escolha do nome passou por uma "campanha interna" da família Gil organizada por Preta, mãe de Francisco. Ele integra o trio ao lado do também neto de Gilberto,
João Gil e de José, o caçula dos oito filhos do compositor baiano.
"Logo no primeiro show, que era um lance despretensioso, aqueles shows que acontecem, só tinha nós três. Aí tinha aquela turma da família dando aquela ‘corujada’, já mandou pro grupo da família. Ali do grupo, minha mãe foi lá e deu esse nome, a galera já fez o coro e quando a gente saiu do palco já estava batizado. A gente não gostou no primeiro momento não. Mas hoje a gente tem a maior satisfação", conta Francisco Gil.
Apesar da referência explícita no nome da banda a Gilberto Gil, os Gilsons preferem levar a sua influência para construir o próprio caminho na música. "Não tem como não ter influência. Ele é o grande ídolo musical da turma e super referência em termo de musicalidade, de carreira e de construção, mas a gente está aqui para fazer o nosso próprio trabalho", afirma João Gil.
"A referências dele são as minhas maiores. Se a gente fosse se prender a esse tipo de coisa seria mais difícil e amedrontador fazer música, porque seria querer chegar em um lugar que para mim é inatingível. E o nosso lugar de conforto é justamente não entrar nesse tipo de comparação e fazer um caminho diferente", pondera José Gil.
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O álbum
Responsável pela produção musical do disco, José Gil enxerga esse trabalho como a maturação do que o trio já vem produzindo desde os primeiros singles. "É um disco para fechar esse ciclo que a gente vem construindo desde o primeiros lançamentos de 'Várias queixas' e 'Love love". A gente ainda mantém muito do núcleo desse trabalho, com teclado, trompete e percussão, a coisa dos elementos eletrônicos e o violão de nylon ali no primeiro plano muito forte", explica.
"A gente acredita que tem canções muito fortes mais puxadas para o universo pop, mas tem de tudo, músicas um pouco mais profundas onde a gente quis trabalhar mais o lado musical. A gente fez esse álbum não pensando tanto nesse objetivo de hitar, nessa coisa mercadológica e tal. Então é um disco que é muito mais de uma satisfação nossa, de mostrar realmente nossas referências e botar nossas canções pra fora", destaca José.
A faixa que dá nome ao disco é uma das que sempre estiveram na ideia da banda para a estreia. "Desde que o Francisco fez essa música, a gente já estava nessa pira. Ela já era uma que a gente já sabia que estaria nesse primeiro disco nosso e ele sempre botou essa pilha de que seria um bom nome de disco", conta João. "Pra gente acordar" evoca a imagem de uma nova manhã para celebrar o amor, a luz, as viagens e os encontros, presentes em todas as canções.
Confira a página do Spotify dos Gilsons
Faixa a faixa
Pra gente acordar – Composta antes da pandemia, a parceria de Francisco Gil com Júlia Mestre ganhou um novo sentido com o cenário q se instaurou então no mundo. Canção emblemática do recado do disco, dela exala um sentimento utópico de liberdade e esperança.
Duas cidades – Refletindo a realidade de músicos na estrada, a canção indicia um paralelo com “Norte da saudade”, de Gil. “Samba pop” de João Gil, em outra participação de Júlia Mestre como coautora no disco, explora o tema da viagem e do reencontro (da própria pessoa consigo mesma, inclusive); da ligação entre Rio e Salvador. “Somos três cariocas com veia musical baiana”, resumem.
Proposta – Iniciada pelo percussionista Léo Mucuri, foi desenvolvida por José Gil e Mariá Pinkusfeld, que acabaram narrando sua própria história como amantes e casal: “Ser seu homem, você minha mulher”. Um verso bonito da letra (“E misturar a nossa cor na vida que brotar de nós”) acabou adquirindo caráter premonitório, pois os dois engendraram duas filhas gêmeas. Romântica e sexual (o verso “Foi de fudê” é muito foda), é uma das mais pops do repertório.
Vem de lá – O tema da saudade e do encontro retorna nesse ijexá inspirado na Bahia, embora a referência a carnaval possa se aplicar a qualquer lugar do Brasil. A composição é a única triceria do grupo quando se isolou no sítio dos Gil em Araras, no Rio, para a pré-paração do disco.
Bela – De João Gil para sua avó Belina Aguiar, primeira mulher de Gilberto Gil (q a cita em “Volksvagen Blues” e se dirige a ela em “Amor até o fim”) e mãe da sua mãe, a cantora Nara Gil. João a compôs nos 80 anos da ancestral, q viria a fazer sua passagem posteriormente, o q torna a gravação uma homenagem póstuma. Bela era poetisa, professora de Redação, daí as alusões à força das palavras e da poesia, na letra.
Dês – A música de João, aqui em parceria com o letrista Carlos Rennó (q escreve o presente texto), vem a ser outra canção de amor no álbum em q este sentimento se correlaciona com a ideia de luz e, além disso, se expande pra incluir pessoas do círculo da pessoa amada.
Um só – A noção de orgasmo, aqui, transcende a dimensão do par na aspiração a uma união total dos amantes no momento do gozo, nisto residindo a originalidade do sentimento poético da canção de Francisco Gil – mais uma a rimar amor, destemor (“junto sem medo”) e fulgor (“o sol e o luar”).
O dia nasceu – A canção, outra de Fran, q quase fecha o álbum, retoma, complementando, o sentido da faixa de abertura, “Pra gente acordar”; as duas vibram juntas. Esta sugere a realização do desejo q a primeira expressa – do nascer de um novo dia – e, assim, a concretização da esperança. Novamente as sugestões amorosa e de luminosidade estão lado a lado: “O dia nasceu / E o sol já raiou; / Te quero pra perto, / Me chama que eu vou”.
Voltar à Bahia – Tributo de amor pela “boa terra” criado na saudade do auge da pandemia, o ijexá de Francisco Gil com Clara Buarque, primeira composição dela (neta de Chico Buarque, filha de Carlinhos Brown), guarda um simbolismo: o do retorno às “origens poradoção” como um processo constante, a Bahia como a fonte primordial, original, capital, ancestral. Um lugar onde “se encontrar”. Pra fechar com chave de ouro, a faixa traz algo de especial: o arranjo de cordas do Jaques Morelenbaum.