Prêmio Pulitzer permitirá inscrição de autores sem cidadania americana
Um dos troféus literários mais prestigiosos dos Estados Unidos muda critérios de elegibilidade para incluir escritores, dramaturgos e compositores imigrantes e sem documentos
O conselho que administra o Prêmio Pulitzer, um dos mais prestigiosos dos Estados Unidos, anunciou nesta terça-feira (13) que escritores, dramaturgos e compositores que não são cidadãos americanos também serão elegíveis aos troféus.
A maioria dos prêmios para livros, teatro e música era reservada apenas a cidadãos americanos, mas a partir de 2025, o conselho passará a considerar obras de residentes permanentes e de longa data nos EUA.
A expansão das condições de elegibilidade para prêmio é uma evolução significativa. O Pulitzer foi criado em 1917 pelo editor de jornal Joseph Pulitzer, um imigrante húngaro que enfatizava que os troféus pretendiam celebrar obras distintamente americanas.
Há muito tempo, pessoas de quaisquer nacionalidades são elegíveis aos prêmios de jornalismo, desde que seus trabalhos tenham sido publicados por veículos de comunicação americanos. No entanto, com exceção do prêmio para livros de História, as categorias literárias, assim como os troféus de música e teatro, são reservadas a cidadãos americanos.
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O conselho começou a discutir a possiblidade de expandir as condições de elegibilidade para o prêmio em dezembro passado, após júri que avaliava obras memorialísticas insistir que a exigência de cidadania excluía grande parte da cultura americana, disse ao The New York Times a gestora do Pulitzer, Marjorie Miller. Quando os membros do júri levaram a questão ao conselho, afirmou Miller, rapidamente formou-se um consenso de que o critério deveria ser alterado.
“Isso enfatiza a natureza americana da obra, e não autor”, disse Miller. “Você pode ser americano e escrever um livro, uma peça ou uma peça musical que seja americano sem ser cidadão americano.”
O conselho não vai estabelecer limites estritos de tempo de residência permanente e de longo prazo, deixando essa decisão a cargo de autores e editores. “O que define é a identidade do escritor: você considera os EUA seu lar permanente? Esta é uma obra que, de alguma forma, seria considerada americana?”, exemplifica Miller.
A decisão foi comemorada por artistas e escritores que fizeram lobby para que a elegibilidade para o prêmio fosse ampliada.
“Estamos apenas começando a reconhecer que a literatura feita por migrantes é literatura americana”, disse Ingrid Rojas Contreras, finalista do Pulitzer este ano por seu livro de memórias, “The Man Who Could Move Clouds” (O homem que podia mover as nuvens). “A influência que esses prêmios têm no tipo de literatura que leremos no futuro é imensa”.
Em agosto, um grupo de autores enviou uma carta aberta ao conselho do Pulitzer e pediu que o prêmio passasse a incluir imigrantes e escritores sem documentos.
“Quer os escritores sem documentos escrevam sobre a fronteira ou não, suas vozes são parte essencial do que significa pertencer e lutar para pertencer a esta nação”, afirmava a carta, assinada por centenas de escritores, como Nana Kwame Adjei-Brenyah, Angie Cruz e Fatimah Asghar.
Javier Zamora, que assinou a carta aberta, ajudou a impulsionar a questão com um ensaio publicado no julho no The Los Angeles Times, no qual lamentava que seu aclamado livro de memórias, “Solito”, não fosse elegível para o Prêmio Pulitzer por ele não ser cidadão americano.
Em uma entrevista, Zamora disse esperar que a mudança ajude a expandir o cânone literário americano com a inclusão de obras escritores imigrantes e sem documentos. “Essa decisão diz aos escritores imigrantes: ‘Sua história também é importante. Sua história também pode fazer parte do cânone’”, afirmou.
O Pulitzer não é o único prêmio literário a abandonar a cidadania como critério de elegibilidade. A Academia de Poetas Americanos e a Fundação de Poesia abriram seus prêmios a imigrantes com estatuto legal temporário. O National Book Award e o PEN/Faulkner Award também já contemplam não cidadãos.