Literatura

Produção de literatura fantástica segue firme na intenção de causar medo, repulsa e inquietação

Conheça mais do gênero literário, que há séculos chama atenção do público recifense

Ilustração para texto no gênero do horror, produzida por Lorde JimmyIlustração para texto no gênero do horror, produzida por Lorde Jimmy - Foto: Imagem: Lorde Jimmy/Divulgação

Quem lê qualquer história procura uma tensão que desperta interesse e curiosidade do início ao fim da narrativa. Com essa premissa, a literatura fantástica tem no gênero do horror um universo livre de qualquer filtro capaz de bloquear as emoções. Essa escrita, ligada a sentimentos como medo e repulsa, persiste no mercado pernambucano, através da produção ativa de escritores interessados em quebrar tabus e rever preconceitos.

 Assim como todo mercado literário, os investimentos seguem restritos. O que não impede de manter a criação. Segundo o professor e doutor do departamento de Letras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), André de Sena, o principal desafio hoje é a renovação de temas e a maneira de explorá-los. “O diferencial do Recife é que saímos das formas simples, da cultura oral, e entramos nos domínios da literatura escrita, graças a escritores como Carneiro Vilela (mais ainda por conta de "O esqueleto - crônica fantástica de Olinda", de 1871, do que "A emparedada", que é um livro de estética realista); Gilberto Freyre (na crônica sociológica) e seu "Assombrações do Recife velho" (1955); entre outros”, resume.

 



Segundo o professor, tais autores sedimentaram a visão de um Recife fantasmagórico. Terreno fertil para as produções chegarem à contemporaneidade com novas abordagens. Para citar alguns, o escritor João Paulo Parísio lançará este ano, pela Companhia Editora de Pernambuco (CEPE), o “Retrocausalidade”, ganhador do 4º prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura. “O livro mudou de título depois do prêmio. Algo que entra no elemento do fantástico e uma literatura metafísica e especulativa”, detalha Parísio. O historiador Frederico Toscano bebe da mesma fonte. Nos contos do seu “Carapaça escura”, a normalidade compete com a sobrenaturalidade. “O conto que dá nome ao livro trata uma situação de trabalho ruim. Mas o que é pior, aqueles fantasmas que ele enxerga na água ou a vida que ele leva em relação ao trabalho?”, provoca Toscano.

Na internet
Há exatos 20 anos, o site Recife Assombrado abriga e incentiva a produção de literatura fantástica. Um dos fundadores, o escritor e roteirista André Balaio, lembra que, do on-line, surgiram desdobramentos como livros, quadrinhos, o filme Recife Assombrado, canal no Youtube e Podcast.

“Temos tentado formar leitores com presença constante nas escolas", aponta André que, em 2018, publicou seu primeiro livro de contos, chamado “Quebranto”. Já para o jornalista, pesquisador e também editor do Recife Assombrado, Roberto Beltrão “para a Academia, o cânone da literatura brasileira foi o realismo, então a literatura fantástica foi considerada expressão menor. Hoje, isso já se reverteu”. defende.

Sob olhar feminino
Longe de ser um mercado restrito aos homens, escritoras pernambucanas também solidificam a produção local. Seis nomes integram o grupo Coven de Escrita. Fernanda Castro, que desde 2015 publica histórias, é uma delas. “É muito comum que autores utilizem a violência sexual, por exemplo, como recurso para causar angústia”, ressalta.

A escritora e integrante do Coven, Marina Melo, concorda. “O olhar feminino não tem a ver com uma visão mais sensível ou romantizada de uma história. Não tem a ver com histórias sobre sentimentos e casais românticos. Mas uma visão real sobre o que é ser mulher”, diz ela, que escreve no blog Do Fundo do Mar. Recife, no entanto mantém a tradição da autoria feminina em trabalhos como o de Roberta Cirne. Atualmente, essa percepção pode ser encontrada pela internet, como no Wattpad, onde histórias são postadas capítulo a capítulo, misturando novela e rede social.

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