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Cultura Popular

Projeto lança filmes com imagens raras e inéditas sobre quatro grupos de maracatu do Estado

"Maracatus uma contribuição para sua salvaguarda" será lançado nesta quarta (20), às 14h, na Sala Calouste Gulbenkian, no bairro de Casa Forte

Dona Madalena, Elefante, 1995.Dona Madalena, Elefante, 1995. - Foto: Flávia Lacerda/Divulgação

Após ficar conservado por quase 29 anos, um acervo com 30 horas de imagens dos ensaios e apresentações públicas de quatro grupos pernambucanos de maracatu, gravadas em 1995 pela então estudante Flávia Lacerda, se transformou em quatro filmes de tamanhos variados, por meio do projeto “Maracatus – uma contribuição para sua salvaguarda”, com lançamento marcado para quarta-feira (20), às 14h, na Sala Calouste Gulbenkian, na Avenida 17 de agosto, 2187, no bairro de Casa Forte, no Recife, com apoio da Fundação Joaquim Nabuco e presença de mestres e representantes dos maracatus.

Através da consulta do acervo filmado, editado e agora disponível para consulta, é possível recuperar as narrativas sobre as histórias desses quatro grupos de maracatus. São testemunhos que hoje tocam o presente. As imagens raras foram editadas em vídeos que já estão disponíveis para assistir no site www.salvaguardamaracatus.wordpress.com. O material volta às suas comunidades de origem e está acessível por meio do projeto realizado pela Bebinho Salgado 45 e coordenado pela antropóloga Júlia Morim, com incentivo do Funcultura.

Filmagens que viraram história
No mês de fevereiro de 1995, em pleno Carnaval, a então estudante de Cinema e Etnologia Flávia Lacerda dirigiu uma equipe que fez o registro audiovisual de grupos tradicionais da cultura pernambucana: Maracatu Elefante, Maracatu Leão Coroado, Maracatu Cambinda Brasileira. A equipe que participou das filmagens foi composta por Flávia Lacerda na direção; Alberto Marquardt na direção de fotografia e som direto; e Beto Azoubel, Flávia Lacerda, Gustavo Peixoto, Mariana Lacerda, Marcelo Lacerda e Pio Figueiroa na produção. 
As imagens foram captadas em formato betacam e ficaram guardadas no acervo pessoal de Flávia até 1995, quando ela investiu do próprio bolso para digitalizar as imagens. 

“Na época, acho que ela não tinha noção de como isso iria virar um documento histórico. Ela entrevistou mestres como Luís de França, do Leão Coroado, Mestre Salustiano, do Piaba de Ouro, que veio a se tornar patrimônio vivo, tocando junto a seu pai”, detalha Julia Amorim, que coordenou e produziu o projeto “Maracatus - uma contribuição para sua salvaguarda”, que teve acesso ao acervo de imagens e produziu quatro filmes sobre cada grupo de maracatu, com a participação das comunidades.

Registros audiovisuais editados
O projeto foi idealizado para promover o retorno das imagens ao acesso público e disponibilização do acervo. Júlia Morim assina a coordenação geral, produção e produção executiva; Marcelo Lacerda e Laíse Queiroz fizeram a edição; e Mariana Lacerda, Marcelo Lacerda  e Julia Amorim assinam os roteiros. Um primeiro corte que foi apresentado aos grupos. 

“A gente se juntou e fez o projeto para transformar essas 30 horas de imagens em quatro filmes. Tem imagens inéditas das sambadas de maracatus, os desfiles do Recife, da saída do Leão Coroado  e do Elefante para desfilar no Centro do Recife. Agora, quase 30 anos depois, são documentos históricos que ajudam a contar a história desses maracatus”, destaca Julia. Segundo ela, as imagens tiveram grande impacto nas comunidades dos maracatus retratados. “Quando a gente fez a exibição do Cambinda, por exemplo, tinha pessoas que nunca tinham visto a imagem de João Padre, só de ouvir falar”, pontua.

Acervo etnográfico e documental
No material, há depoimentos de mestres, mestras, caboclos de lanças e baianas, todas e todos fundantes das histórias de seus grupos. Os filmes foram finalizados com o tempo proporcional à quantidade de imagens, ficando com os seguintes tempos: Cambinda Brasileira (30 minutos), Elefante (14 minutos) Leão Coroado (24 minutos) e Piaba de Ouro (20 minutos). Há registros e depoimentos do mestre Luiz de França (1901-1997), babalorixá e membro da Irmandade dos Rosário dos Homens Pretos de Santo Antônio e da Irmandade de São Benedito da Igreja de São Gonçalo da Boa Vista, que regeu o Maracatu Leão Coroado durante 40 anos. 

Dona Madalena, que sucedeu Dona Santa no Maracatu Elefante, também foi filmada desfilando nas avenidas do Recife, naquele carnaval de 1995. Mestre Salu, do Maracatu Piaba de Ouro, está ao lado de seu pai, tocando uma rabeca. Há ainda imagens recuperadas do Maracatu Cambinda Brasileira, o mestre João Padre, falecido no mesmo ano em que foi filmado. Assim, o mestre, uma referência para todos e todas que compõem a história do grupo, passou a ter aos olhos dos e das jovens que não o conheceram, mas que tocam as suas narrativas, uma visualidade, um rosto, um gesto, uma voz.

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