Projeto levará arte contemporânea para a Lua nas próximas missões da Nasa
Lunar Codex reúne arquivos digitais com obras de 30 mil artistas, escritores, músicos e cineastas
Três foguetes não tripulados começam a levar para a Lua, ainda este ano, o Lunar Codex, uma grande coleção de arquivos digitais contendo arte contemporânea, foto, poesia, revistas, música, filme, podcasts e livros produzidos por 30 mil artistas, escritores, músicos e cineastas de 157 países. O projeto foi concebido por Samuel Peralta, um físico do Canadá que ama artes e ciências.
— Este é o maior projeto focado em enviar trabalhos culturais para o espaço — diz Peralta, que selecionou em galerias as obras para inclusão gratuita no Codex e aceitou trabalhos enviados por artistas individuais. — Não há nada parecido.
Tempos difíceis
Fotos da Ucrânia devastada pela guerra e a poesia de países ameaçados pela mudança climática estão no Codex, assim como 130 edições da revista PoetsArtists.
Entre as milhares de imagens estão “New American Gothic”, de Ayana Ross, vencedora do Prêmio Bennett de 2021 para artistas femininas; “Emerald girl”, um retrato em peças de Lego de Pauline Aubey; e o apropriadamente intitulado “Lua Nova”, uma serigrafia de 1980 de Alex Colville.
Algumas obras foram encomendadas para o projeto, incluindo “The Polaris Trilogy: poems for the moon”, com poesias de todos os continentes.
Peralta é executivo da Incandence, uma empresa canadense de tecnologia, e acredita que o Lunar Codex seja “uma mensagem na garrafa para o futuro, mostrando que as pessoas encontraram tempo para criar beleza, mesmo em tempos de guerra, pandemia e turbulência econômica”.
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O Codex representa criadores de uma gama de experiências. Inclui peças de Connie Karleta Sales, artista com uma doença autoimune e que faz pinturas usando a tecnologia do olhar. “(A obra) ‘Electric Joy’ celebra a cor e o movimento da minha mente”, diz Sales via e-mail. “Posso ter um uso limitado do meu corpo físico, mas minha mente é ilimitada.”
O projeto de Peralta pode ser realizado graças ao Programa Artemis, um projeto da Nasa para levar humanos de volta à Lua em 2026, pela primeira vez em mais de 50 anos. Paralelamente ao Artemis, a agência enviará instrumentos científicos para a Lua, entre 2023 e 2026, por meio de parceiros como a Astrobotic Technologies e a Intuitive Machines. Seus módulos lunares serão lançados de plataformas de foguetes comerciais pela United Launch Alliance ou pela SpaceX.
Juntamente com os instrumentos da Nasa, essas missões levarão cargas comerciais, incluindo as cápsulas do tempo contendo as obras do Lunar Codex.
Peralta está financiando boa parte do custo com espaço de carga nos três módulos de pouso e ainda não tem um cálculo final, mas diz que será apenas uma fração do preço de uma passagem de “turista espacial” em um foguete comercial. Uma viagem da Virgin Galactic, por exemplo, custa hoje US$ 450 mil (R$ 2,1 milhões).
Peralta iniciou o Lunar Codex durante a pandemia para enviar para a Lua seu próprio trabalho, incluindo seus livros de ficção científica, antes de decidir expandir o escopo. Ele compila conteúdo há alguns anos, embora algumas pessoas com quem ele entrou em contato não o levem a sério.
— Eu digo: “Gostaria de colocar sua arte na Lua”, e eles acham que isso é algum tipo de fraude — conta.
Museu no espaço
A Lua hospedou arte terrestre por décadas. “O museu da Lua”, um minúsculo ladrilho de cerâmica com desenhos de Forrest Myers, Andy Warhol, Claes Oldenburg, Robert Rauschenberg, David Novros e John Chamberlain, foi anexado a um módulo lunar deixado na Lua pela Missão Apollo 12, em 1969. “Astronauta caído”, escultura de alumínio do artista belga Paul van Hoeydonck, foi deixada na superfície lunar pela tripulação da Apollo 15, em 1971.
Já o Lunar Codex é dividido em quatro cápsulas do tempo, com seu material copiado em cartões de memória digital ou inscrito em NanoFiche, uma mídia de armazenamento leve que pode conter 150 mil páginas microscópicas de texto ou fotos gravadas a laser numa folha de 8,5 polegadas x 11 polegadas.
O conceito é semelhante ao do Golden Record, explica Peralta, referindo-se à cápsula do tempo cultural da Nasa contendo áudio e imagens armazenadas em um disco de metal e enviada ao espaço a bordo das sondas da missão Voyager em 1977.