Projeto Suspensão exibe curtas sobre a importância da música durante a pandemia
Filmes trazem depoimentos, imagens e trilhas sonoras inspiradas no bairro da Boa Vista em Recife
O ato de consumir música tornou-se um instrumento de resistência contra esse período difícil de pandemia. Pensando nessa perspectiva, Suspensão que é resultado de uma pesquisa artística da historiadora e doutoranda em Sociologia Laura Sousa, sobre importância da música e das artes, no universo particular de pessoas que se viram isoladas e impedidas de exercerem suas práticas mais corriqueiras e afetivas durante a pandemia da Covid-19.
Ao todo, 19 curtas com imagens e depoimentos serão exibidos gratuitamente para o público, a partir das 17h. O primeiro curta já está disponível para o público, no YouTube, Instagram e Facebook da Theia Produtores Associados.
Os curta têm duração média de até 08 minutos e serão exibidos até o dia 16 de abril. A primeira exibição tem como cenário o bairro da Boa Vista, em Recife e se inspira na pesquisa social interpretativa, sobre a presença da música na vida das pessoas, em meio a quarentena.
O processo de criação e execução do projeto é desenvolvido em parceria com o artista e produtor Guilherme Patriota e conta com realização da Theia Produtores Associados e apoio e patrocínio do incentivo do auxílio emergencial garantido pela Lei Aldir Blanc, obtido por meio de edital promovido pela Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco – Secult/Fundarpe.
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De acordo com Laura Sousa, socióloga, a ideia germinou diante de reflexões sobre o momento. “Surgiu enquanto refletimos sobre o nosso próprio hábito de ouvir música em casa e como ele tem mudado ao longo da pandemia. Alguns questionamentos sobre o tema foram associados, portanto, a um processo de criação que muito nos interessa: registrar narrativas espontâneas de pessoas das mais variadas origens e atividades e trabalhar poeticamente as suas falas. Dessa forma, pudemos recolher fragmentos das experiências de trabalhadoras, trabalhadores e transeuntes com a música e, também, com o silêncio que atravessa nossos universos particulares”, disse.
A PESQUISA
Um estado de suspensão pode, muitas vezes, ser entendido como uma condição paralisante ou estagnada. A economia e o mercado de trabalho foram assim classificados, sobretudo, no primeiro semestre de 2020 diante do abrupto confinamento social imposto pela crise sanitária. Uma medida de controle de disseminação do vírus muito necessária, mas que atingiu fortemente o campo da arte nas suas possibilidades criativas e, principalmente, na sua exibição marcada, muitas vezes, por aglomerações em grandes espetáculos, festivais e demais eventos.
Neste contexto, Suspensão enfatiza uma ação reflexiva sobre um objeto de estudo ou elemento do cotidiano que é “retirado” de seu fluxo corriqueiro de significação e posto dentro de um processo consciente e objetivo de compreensão. Assim, todos nós podemos colocar em um outro patamar de observação as nossas relações familiares, nossos medos, nossos lutos, nossas atividades profissionais, meios de comunicação e, também, entre muitos outros fatores, nossas estratégias de fazer e sentir a arte. Neste sentido, uma pergunta se sobressaiu e orientou o projeto: como podemos trazer à tona uma variedade de percepções sobre a importância da música para diferentes pessoas durante a pandemia?
Tal questão impulsionou a pesquisa e os vídeos realizados com o objetivo de acessar e colocar em “Suspensão” alguns sentidos dados à fruição musical durante a quarentena imposta por decretos municipal e estadual. E é exercida no Recife, focando nos depoimentos de trabalhadores(as) e transeuntes que movimentam as ruas do bairro da Boa Vista, área central da cidade.
Entre o escutar e o olhar, a poética audiovisual do projeto faz as vozes dos entrevistados percorrerem as imagens da Boa Vista e mira tanto os espaços vibrantes (partilhados por passantes, carros, transportes coletivos, feirantes, anunciantes, etc.), quanto os recantos mais contemplativos formados por oásis de tranquilidade nas ruas transversais. Em logradouros como a Rua da Imperatriz, Av. Conde da Boa Vista, Rua da Aurora, Rua da Saudade, Rua do Hospício ou a Sete de Setembro foram possíveis os encontros com as narrativas de mulheres e homens representantes de toda a Região Metropolitana e que colaboram com os usos e as práticas que caracterizam o ritmo intenso do centro do Recife