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Quem é Cindy Crawford e como ela virou uma máquina de fazer sucesso e dinheiro

"Trabalhei como modelo. Não sou modelo. É uma profissão, não uma identidade", diz a americana, hoje casada com o mestre da vida noturna e da tequila Rande Gerber

Cindy Crawford mora em Malibu, onde vive há 27 anos com o marido, o mestre da vida noturna e da tequila Rande GerberCindy Crawford mora em Malibu, onde vive há 27 anos com o marido, o mestre da vida noturna e da tequila Rande Gerber - Foto: Divulgação

Quando Cindy Crawford entrou em um dos salões do Hotel Santa Monica Proper em uma manhã no início de junho, passou imediatamente uma imagem: confortável, profissional, direta. Sem artifícios. Sem comitiva. Apenas sua assessora de imprensa de longa data, Annett Wolf, que fez uma breve apresentação e desapareceu, deixando Crawford à frente de uma mesa com uma exposição dos produtos da Meaningful Beauty, sua linha de cuidados com a pele e os cabelos, marca de US$ 400 milhões que ela lançou há 20 anos.

— Por onde você quer começar? Como fica mais orgânico? — perguntou.

É tentador descrever Crawford, de 58 anos, como casual, mas não é bem assim. Vestida com jaqueta jeans de veludo cotelê da Celine, blusa de algodão, calça jeans estilo bootleg da Nili Lotan e um colar de amuletos da Foundrae que simboliza a resiliência, sua beleza é radiante sem ser nem um pouco exagerada.

Moradora de Malibu, onde vive há 27 anos com o marido, o mestre da vida noturna e da tequila Rande Gerber, ela exalava a naturalidade californiana. Seu rosto é literalmente familiar, tendo sido fotografado e filmado milhares de vezes ao longo de sua carreira de mais de 35 anos como uma das modelos mais bem-sucedidas do mundo.

O que pareceu mais orgânico foi começar com seus negócios. Mais do que a verruga acima do lábio, mais do que os olhos e cabelos castanhos e o físico saudável, o interesse de Crawford em transcender a carreira de modelo para se tornar uma marca — décadas antes de a marca pessoal ser um caminho de carreira — foi o que a distinguiu de suas colegas.

— Sempre digo que trabalhei como modelo. Não sou modelo. Para mim, é uma profissão, não uma identidade — disse ela.

Modelo de empreendedorismo entre as aspirantes a supermodelos, Crawford inventou a cartilha moderna pela qual a atual geração de pessoas profissionalmente bonitas — incluindo Gigi e Bella Hadid; Hailey Bieber; a própria filha de Crawford, Kaia Gerber; e a maior parte da família Kardashian-Jenner — se mantém. Parcerias e propriedade de marcas, produtos, campanhas, acordos em várias formas de mídia — tudo centrado em si mesma:

— Eu não conhecia ninguém cuja carreira considerasse um exemplo para mim. Simplesmente decidi ir experimentando coisas diferentes ao longo do caminho.

"Cindy, Ltda. Mais do que apenas uma top model de US$7 milhões por ano": essa era a manchete da capa de um perfil da "Vanity Fair" de 1994 que tentava mostrar o novo toque de Midas de Crawford como modelo capaz de comandar mercados, grupos demográficos, e produtos que variavam da "Vogue" à "Playboy", da MTV à Kay Jewelers. Na época, Crawford tinha 28 anos, era casada com Richard Gere, de quem se divorciou no ano seguinte, e um perfeito exemplar de juventude e beleza excepcional.

Dois dos temas do perfil foram a felicidade de Crawford e a questão de saber se ela encontraria o "motor" para impulsionar suas ambições. Muito foi dito sobre seu óbvio apelo físico, mas a matéria também abordou o fato de que Crawford possuía algo mais — um pragmatismo, uma falta de pretensão e de esnobismo, senso de humor e autoconsciência — que a capacitava para a grandeza.

"Ela nasceu sabendo o que estava fazendo. Esta é sua 15ª vida ou algo assim", afirmou o estilista Isaac Mizrahi, um dos contemporâneos de Crawford, em uma entrevista recente.

Fina estampa

Trinta anos depois, Crawford acabou se tornando a condutora da própria carreira, um exemplo raro de longevidade, envelhecimento elegante e habilidade nos negócios em um mundo superficial, famoso por descartar as mulheres assim que qualquer indício da meia-idade entra em cena.

Crawford já foi o rosto de muitas marcas; talvez a mais famosa tenha sido a Pepsi. Seu anúncio de grande sucesso no Super Bowl de 1992 é uma lenda da publicidade.

Ela trabalha com relógios Omega há 29 anos. Tinha um megacontrato de 15 anos com a Revlon, que terminou quando estava com 35 anos, momento em que começou a desenvolver a Meaningful Beauty.

É o maior negócio de Crawford, a primeira participação acionária de sua carreira, uma parceria 50-50 com Guthy-Renker, a empresa de marketing por assinatura direta ao consumidor conhecida por marcas como Proactiv, JLo Beauty, IT Cosmetics e Tony Robbins Personal Power.

Crawford nunca se apegou ao mundo rarefeito da moda. Em uma carreira que não foi marcada por escândalos, uma de suas atitudes mais controversas foi sair na "Playboy" em 1988, fotografada com bom gosto pelo fotógrafo de alta-costura Herb Ritts.

Excepcionalmente perspicaz para seus 22 anos, Crawford acreditava que a sessão de fotos para a "Playboy" aumentaria seu público, atraindo homens heterossexuais, em oposição aos fãs de moda de luxo, que são principalmente mulheres. A visão ampla com a qual encarou a oportunidade se aplicou a muitas de suas decisões comerciais.

— Minhas colaborações mais importantes foram com a Pepsi e a Revlon, não com a Hermès. Foram com marcas que são para todos — observou.

Criada em uma família da classe trabalhadora em DeKalb, no Illinois, Crawford nunca perdeu o contato com suas raízes, mesmo no auge do glamour dos anos 90, quando estrelou o vídeo "Freedom! '90", de George Michael, e fazia parte do círculo íntimo de Gianni Versace.

— Você está em um palácio em Capri e pensa: "Espera aí, sou de DeKalb, no Illinois. Como é que cheguei aqui? E que roupa devo usar?" — comentou Crawford.

No início de sua carreira, sua mãe a visitou em Nova York e pegou emprestado um de seus vestidos, um modelo simples de Donna Karan.

— Ela disse: "Meu Deus, adoro esse vestido. Vou comprar um igualzinho" — contou Crawford.

Mas ela se lembra de que custava cerca de US$ 800, mais do que sua mãe gastaria em roupas em um ano. A filha lhe deu o vestido:

— Minha mãe reconhecia a qualidade quando a via. Foi um momento de descoberta que teve a ver com acesso e conhecimento.

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Mizrahi se lembrou de uma sessão de fotos que fez com Crawford em Big Sur, na Califórnia, nos anos 90.

Beleza e inteligência

— "Todo mundo supunha que ela não fosse inteligente, inclusive a equipe. Eu a conhecia muito bem e fiquei pensando: "Do que eles estão falando? Espere até ela abrir a boca" — recordou Mizrahi, acrescentando: — Depois a entrevistaram para esse comercial e obtiveram clipes, trechos de áudio e tudo o mais, e todos ficaram impressionados com o fato de ela conseguir falar de forma tão eloquente, incrível, clara e bonita. Não esperamos que pessoas bonitas digam coisas inteligentes, e isso é horrível. É uma coisa terrível de dizer, mas costumava ser muito verdadeiro.

Crawford sempre conjugou beleza e inteligência. No fim da década de 1980, antes que as palavras "top" e "model" fossem usadas juntas para identificar o grupo de modelos que incluía Crawford, Christy Turlington, Naomi Campbell, Linda Evangelista e várias outras, Crawford era conhecida como a garota de uma pequena cidade do Centro-Oeste americano que foi uma das oradoras da turma do ensino médio e que frequentou a Universidade Northwestern com uma bolsa de estudos, antes de largar a faculdade para se dedicar à carreira de modelo.

Era destemida, disposta a explorar novos horizontes, quebrar a quarta parede e ser ouvida e não apenas vista — verdadeiro anátema para o mundo da moda. Como primeira apresentadora do "House of Style" da MTV, o amado programa de notícias dos bastidores da moda que foi ao ar em 1989, Crawford não tinha nenhuma experiência em televisão. Não era nenhuma Elsa Klensch, mas fazia parecer mais fácil do que era.

— Linda chegou botando panca de modelo de alta-costura, querendo mostrar a todo mundo como fazer as coisas. Mas ela não tinha o senso de humor nem a leveza necessários.

No ano passado, Crawford, Turlington, Evangelista e Campbell apareceram juntas diante das câmeras pela primeira vez em anos, para a série da Apple TV+ "As Supermodelos". Foi uma retrospectiva de quatro episódios, passando pelos momentos mais importantes das top models, os altos, os baixos, a subestimação, o envelhecimento. Campbell e Crawford promoveram a reunião do quarteto para a série, que vinha sendo planejada havia oito anos.

— Como há uma obsessão muito grande com os anos 90, pensamos: "Alguém vai acabar fazendo esse documentário. É melhor termos uma narrativa própria", disse Crawford.

Todas as quatro mulheres receberam créditos de produtoras executivas. Nenhuma foi responsável pela edição final.

Crawford ficou muito satisfeita com o produto final. Seu primeiro momento atual na tela a captura em um avião, disputando uma foto que obterá o maior lance em um leilão beneficente.

— Acho que todas nós fomos retratadas exatamente como somos — comentou ela.

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