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Saiba quem é Hamdan Ballal, palestino vencedor do Oscar que foi espancado por colonos israelenses

O incidente ocorreu na Cisjordânia, onde mora o diretor do filme "Sem chão", documentário sobre a ocupação da Cisjordânia que ganhou o Oscar este ano

O cineasta palestino Hamdan Ballal, co-diretor do documentário vencedor do Oscar O cineasta palestino Hamdan Ballal, co-diretor do documentário vencedor do Oscar  - Foto: Angela Weiss/AFP via Getty Images

O cineasta palestino Hamdan Ballal, vencedor do Oscar pelo documentário "Sem chão" foi espancado por colonos perto de sua casa e detido por autoridades israelenses na Cisjordânia ocupada na noite de segunda-feira, disseram testemunhas.

Ballal foi atacado em Susya, sua vila natal, por pelo menos 20 pessoas mascaradas, a maioria adolescentes armados com pedras, paus e facas, de acordo com Joseph Kaplan Weinger, de 26 anos.

Weinger faz parte de uma iniciativa voluntária que fornece proteção em áreas vulneráveis à violência dos colonos.

Hamdan Ballal Al-Huraini nasceu em 1989, em Susiya, uma vila na Cisjordânia a cerca de 60 km ao sul de Jerusalém. Já trabalhou como fazendeiro e, além de se tornar cineasta, também participa de iniciativas de defesa dos direitos humanos.

Entre elas, faz pesquisa de campo documentando incidentes relacionados à ocupação israelense e também faz parte da "Humans of Masafer Yatta", que destaca histórias pessoais da região.

Desaparecimento
O caso foi denunciado por Yuval Abraham, codiretor israelense do documentário, em suas redes sociais: "Um grupo de colonos acabou de linchar Hamdan Ballal.

Eles o espancaram, e ele teve ferimentos na cabeça e no estômago, que estavam sangrando."

Não ficou claro o que motivou o ataque, mas Weinger, que também é um estudante de doutorado em sociologia na UCLA, disse que o grupo havia descido em Susya, que fica ao sul de Hebron, e agredido moradores da Cisjordânia nos momentos finas do jejum durante o Ramadã.

Alguns gritaram de forma irônica bênçãos ligadas à data sagrada dos muçulmanos durante as agressões, disse ele.

Weinger disse que começou a buzinar para tentar alertar os soldados israelenses próximos sobre o ataque, mas que as forças israelenses impediram que ele e dois companheiros chegassem à casa de Ballal.

"Os soldados ficaram parados", disse ele. "Mais tarde, quando chegamos lá, vimos seu sangue no chão."

Segundo Abraham, após a surra, "um grupo de soldados interceptou a ambulância que eles haviam solicitado e o levou embora.

Desde então, não há mais vestígios dele." O jornalista palestino Basel Adra, também diretor do No Other Land, recorreu às redes sociais para relatar que está com o filho de sete anos de Ballal.

Ballal, de 37 anos, foi um dos três palestinos detidos, de acordo com testemunhas e militares israelenses.

Segundo Leah Zemel, uma advogada que representa os detidos, eles foram levados para um centro militar para tratamento médico antes do interrogatório, mas ela não foi informada do motivo da detenção.

"Sem chão"
Ballal é um dos quatro diretores do coletivo palestino-israelense que ganhou o Oscar de melhor documentário este mês — os outros são Basel Adra, Rachel Szor e Yuval Abraham.

O filme documenta a demolição de casas de moradores da Cisjordânia nos arredores de Masafer Yatta, vila onde Adra vive. Forças israelenses reivindicam a área para um campo de treinamento militar.

O documentário foi filmado ao longo de quatro anos, entre 2019 e 2023, com a produção concluída dias antes do Hamas lançar seu ataque contra Israel em 7 de outubro de 2023.

"Sem chão" estreou no Festival de Berlim, em 2024, e desde então já recebeu mais de 60 prêmios em festivais internacionais.

Nas redes sociais, Adra, o outro diretor palestino do filme, lembrou que há apenas algumas semanas ele, Ballal e os criadores israelenses do filme estavam sendo homenageados no Oscar.

“Mas sempre soubemos que teríamos que retornar a essa realidade, pois, infelizmente, o mundo não está ajudando a acabar com a ocupação”, disse ele.

A Associação Internacional de Documentaristas emitiu uma declaração, afirmando: “Exigimos a libertação imediata de Ballal e que sua família e comunidade sejam informadas sobre sua condição, onde ele está e os motivos de sua detenção”.

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