Quem é Zé Celso, fundador do Teatro Oficina e nome fundamental das artes cênicas no Brasil
Diretor, ator e dramaturgo de 86 anos tem 60% do corpo queimado após incêndio em seu apartamento, no bairro do Paraíso, em São Paulo
Nome fundamental das artes cênicas no Brasil, José Celso Martinez Corrêa — mais conhecido pelo apelido Zé Celso — foi internado, nesta terça-feira (4), no Hospital das Clínicas, em São Paulo, após ter 60% de seu corpo queimado num incêndio em seu apartamento, no bairro do Paraíso, em São Paulo. O diretor, ator, encenador e dramaturgo de 86 anos é fundador do Teatro Oficina, uma das mais longevas companhias teatrais no país.
Em atividade ininterruptamente desde 1958 — quando foi criado por Zé Celso, Amir Haddad, Renato Borghi, Etty Fraser, Fauzi Arap e Ronaldo Daniel —, o grupo com sede na capital paulista inventou uma linguagem teatral embebida pelo o que o próprio Zé Celso definia como "pulsão dionísiaca". Entre as décadas de 1960 e 1970, em meio à ditadura militar, a trupe chamou atenção pelo estilo arrojado de montagens embaladas por forte interação com o público e encenadas por um elenco que (literalmente) se despia de tabus diversos, contestando fatos e normas sociais.
Natural de Araraquara, em São Paulo, Zé Celso começou a se interessar pelo universo artístico na infância, época em que brincava de representar diferentes realidades no quintal de casa. Ali, a criança espoleta fazia invencionices como enfiar uma lâmpada numa caixa de sapato para projetar filminhos com os próprios desenhos.
Por pressão dos pais, o jovem de classe média acabou prestando vestibular para o curso de Direito. Nesse período, ele se mudou então para a capital paulista, para estudar na Universidade de São Paulo (USP). No ambiente universitário, aliás, as primeiras sementes do Oficina foram lançadas. Ao lado de colegas de classe, Zé Celso passou a estudar os conhecidos métodos de atuação de Constantin Stanislavski, ator e pedagogo russo — e um ato longo foi iniciado.
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Referência teatral
Maior referência teatral em atividade no país, Zé Celso é tido como mestre por artistas de diferentes gerações, como Julia Lemmertz, Leona Cavalli, Reynaldo Gianecchini, Alanis Guillen, Alexandre Borges, entre outros. Em 2022, o diretor encenou a peça "Fausto na travessia brasileira", versão completamente reinventada da obra do dramaturgo britânico Christopher Marlowe.
Recentemente, ele vinha escrevendo, em colaboração com Beto Eiras, o livro "A origem da tragicomédiaorgya no corpo da música: di-ti-sambo". A obra propõe um estudo sobre a linguagem desenvolvida pelo grupo Teatro Oficina há mais de seis décadas.