Repercussão: a despedida de José Pimentel nas redes sociais e fora dela
O ator e diretor José Pimentel, de 84 anos, morreu nesta terça-feira (14), após período internado no Hospital Esperança, no Recife
Atores, diretores, críticos de teatro, jornalistas se despediram de José Pimentel deixando sua homenagem nas redes sociais. Também entrevistamos algumas destas pessoas que conviveram com o artista de 84 anos que morreu nesta terça-feira (14), e mais conhecido nos palcos pelo papel de Jesus Cristo, na Paixão de Cristo do Recife.
Eis alguns depoimentos:
"Foram 42 anos, ele foi uma das pessoas mais importantes que tive na minha vida. Profissionalmente, com certeza. Eram de 8 a 10 horas por dia, juntos. A gente se encontrava aqui, no escritório. Ele foi um gênio. Foi professor, foi encenador, foi técnico em eletrônica, técnico de teatro, fez uma carreira brilhante. Montamos vários espetáculos, como a Batalha dos Guararapes, Auto de Natal, Paixão de Cristo de Olinda e do Recife, muita coisa fizemos juntos.
"Foi toda uma vida. Mas eu estou muito feliz por ele ter ido, porque ele não merecia sofrer como estava sofrendo. Ele está bem, agora. A gente é quem chora. Ele está bem, aliviado, e fez um trabalho belíssimo. Não foi um trabalho restrito ao Recife, a Pernambuco, não. Foi um trabalho importante para o Brasil e para o mundo"
Paulo de Castro, presidente da Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe), ator, diretor, produtor cultural
"Convivi com ele mais a fundo durante dois anos, enquanto fazia a pesquisa do livro. Era uma surpresa atrás da outra, ele sempre tinha uma carta guardada. O primeiro impacto foi descobrir a beleza física na juventude, era um verdadeiro galã. E depois, o descortinamento da visão e das experiências de vida. Ele teve uma infância itinerante, nasceu em Garanhuns e passou os primeiros dez anos mudando de cidade em cidade, até que chegou ao Recife e se apaixonou. Creio que o grande mérito do meu livro é mostrar às pessoas como ele foi importante para o teatro pernambucano. Pimentel ia muito além de Jesus Cristo, tinha uma história riquíssima. Esteve no elenco original do Auto da Compadecida, escreveu os textos do Calvário de Frei Caneca e da Batalha dos Guararapes. Nos tempos áureos da TV local, participou de muitas exibições de teleteatro. Trabalhou com nomes de peso como Hermilo Borba Filho e Clênio Wanderley. Foi ator, roteirista, diretor, encenador. Era uma figura extremamente irônica, ao mesmo tempo em que tinha um apego enorme ao papel de Jesus Cristo, não gostava que o enxergassem assim na vida real, buscava um discernimento entre o que era pessoa e personagem. Acredito que o apego ao papel se explique pelo fato da Paixão de Cristo ter sido sua primeira experiência teatral, em 1956, ainda nas ruas do Brejo da Madre de Deus, antes de Nova Jerusalém ser construída.
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"Ele era fisiculturista e por conta disso, foi convidado a encarnar um soldado romano. Lá, ele foi Satanás, foi Pôncio Pilatos por muitos anos, e também foi o autor do texto que era encenado nas ruas e o responsável por implantar o sistema de dublagem do espetáculo, porque antes os atores ficavam com a voz estourada de tanto gritar. Ele só passou a viver Jesus Cristo a partir de 1978"
Cleodon Coelho, jornalista, autor da biografia "José Pimentel: para além das paixões", lançada durante o Janeiro de Grandes Espetáculos de 2018, pela série de perfis da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe)
Pimentel, que viveu o protagonista por 40 anos e o novo Cristo, Hemerson Moura - Crédito: Gustavo Gloria/Folha de Pernambuco
"Ele foi e continua sendo a minha referência como artista, eu sou artista hoje por causa dele. Quando criança, eu chamava ele de 'o homem que é Jesus', chamava todo mundo em casa para ver ele quando passava na televisão. E aí me tornei artista e vim trabalhar com meu ídolo. Ele é um símbolo de resistência artística para o teatro pernambucano, um artista que estava sempre batalhando, sempre lutando, ele representa o trabalhador que batalha por aquilo que ama, por seu trabalho, honestamente. Eu não tou condições de falar mais (aos prantos)"
Hermerson Moura, ator potiguar que substituiu Pimentel no papel principal da Paixão de Cristo do Recife de 2018
"Conheci José Pimentel na TV-U, no começo de 1970, quando produzimos um programa semanal. Gostei "de cara" dele. Até mesmo do jeitão "rude" que ele mais fingia do que realmente praticava, pois era um homem doce e fraterno. Apesar disso, sofreu uma injustiça -- imensa -- dos produtores da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, quando os filhos de Plínio Pacheco passaram a "mandar" no espetáculo. Pimentel havia transformado um texto longo e maçante num texto mais curto, mais ágil, mais adequado ao "Drama" ao ar livre e mais: teve a ideia da dublagem, orientou toda a nova trilha sonora calcada nos filmes bíblicos americanos (principalmente Dimitri Tiomkin) e, enfim, recriou a Paixão que Plínio abraçou com muita energia, mas pouca capacidade criativa na concepção do espetáculo teatral, em si".
Fernando Monteiro, escritor e cineasta
"Mais um ator se despede da cena pernambucana. Vai em paz José Pimentel. Que os anjos te recebam no céu, do mesmo jeito que concebestes teu Cristo, no amor e na virtude humana da arte. Que toda a família se conforte na força do amor divino. Obrigada por tudo que nos deixastes, um legado importante. Mais um mestre encantou-se. Que privilégio ter sido dirigida por ele na Batalha dos Guararapes. Inesquecível".
Daniela Câmara, atriz, escritora e produtora cultural
"José Pimentel era um apaixonado pela vida e pelo ofício do teatro. Talvez isso ajude a explicar o apego pela Paixão de Cristo do Recife e pelo papel de Jesus Cristo, que defendeu com tanta força por 40 anos. Claro que havia vaidade - aliás, que artista não é vaidoso? -, mas não era só isso. Era a necessidade do palco. De se sentir vivo e amado. E como as pessoas que lotavam o Marco Zero, muitas vezes debaixo de chuva, amavam Pimentel. Nunca conheci um ator que tivesse tanto respeito pelo espectador. Cansado, fazia questão de atender todo mundo. Sim, tinha um humor sarcástico, era cabeça dura como só ele, mas era também doce, amável e atencioso. Além das inúmeras conversas e experiências, vou guardar a lembrança da primeira apresentação da temporada 2017 da Paixão de Cristo do Recife. Quando muitos duvidaram que ele conseguiria estar no palco, depois de uma temporada longa no hospital. Foi uma superação tão incrível de acompanhar, uma emoção que se espalhou pelo elenco, pela equipe técnica, pela plateia. Ele tinha conseguido mais uma vez. Agora deixa um vazio imenso no teatro pernambucano, mas ainda maior no seu público".
Pollyanna Diniz, jornalista, assessora de imprensa da Paixão de Cristo do Recife durante cinco anos
"Foi com muita tristeza que recebi a notícia do falecimento do ator e diretor José Pimentel. Um homem cuja história de vida se confunde com a história da dramaturgia pernambucana, principalmente nos espetáculos da Paixão de Cristo do Recife e de Nova Jerusalém. Deixo aqui registradas minhas condolências aos familiares e amigos".
Geraldo Júlio, Prefeito do Recife