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Resistência e beleza em 'Agô', exposição que retrata terreiros de candomblé pernambucanos

Roberta Guimarães leva ao Museu do Estado sua exposição de fotografias e vídeos feitos em terreiros de candomblé, tratando o tema com respeito e reverência

Exposição Agô registra cotidiano de terreiros de candombléExposição Agô registra cotidiano de terreiros de candomblé - Foto: Roberta Guimarães/Divulgação

"Agô" na língua iorubá significa "com licença". E é com uma postura de profundo respeito que a fotógrafa Roberta Guimarães realizou os registros que compõem a exposição assim denominada, e que estará aberta à visitação a partir desta terça-feira (23), às 19h, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), localizado na avenida Rui Barbosa, Graças. São 40 fotografias e vídeos feitos ao longo de três anos em 14 terreiros de candomblé, localizados nos municípios de Goiana, Cabo, Olinda e Recife.

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A fotógrafa relata que a aproximação começou há cerca de 12 anos, quando foi às ruas registrar o evento Caminhadas de Terreiro. Mas a ligação de infância veio por meio de sua mãe e de Maria Preta, a Eyê, que cuidava das crianças da sua família e chegou a lhe aparecer em sonho - num bem-vindo sinal de que daria tudo certo na confecção do livro "O sagrado, a pessoa e o orixá" (2013), que foi o embrião da exposição "Agô". Devota de Iemanjá, Eyê levava à praia as "panelas" em homenagem à sua orixá, ritual que Roberta assistiu várias vezes quando criança, na companhia da mãe.

Roberta não é seguidora do candomblé, embora simpatize com diversos preceitos preconizados por este, como o respeito à Natureza e a aceitação das diferenças entre os seres humanos (não há, por exemplo, discriminação acerca da orientação sexual). "A minha visão do processo foi mais estética, quis mostrar que os terreiros são um espaço de culto e de cultura, mas tudo foi feito com muito respeito e senti uma enorme receptividade ao meu trabalho", relata.

Exposição Agô registra cotidiano de terreiros de candomblé

Exposição de Roberta Guimarães é fruto de pesquisa que durou três anos - Crédito: Léo Malafaia/Folha de Pernambuco

Branca e não-iniciada nos preceitos da religião, ela admite que aquele não é seu lugar de fala, mas tenta relatar uma história de resistência e beleza que é tão antiga quanto a existência do Brasil. "O xangô faz parte da nossa identidade, da nossa cultura, e nos ensina sobre amor, afeto e tolerância. Meu impulso maior foi traçar possibilidades para as pessoas se (re)conhecerem e valorizarem essa cultura, que faz parte de cada um de nós e e está enfrentando muita intolerância neste momento que estamos vivendo no País", resume.

A exposição conta com a curadoria do antropólogo e museólogo Raul Lody, que é também responsável pela curadoria da Fundação Pierre Verger, em Salvador (BA). Verger foi um dos fotógrafos e etnólogos mais notáveis no campo das interações entre a África e o Brasil, durante os anos 1930 e 1940. Para Lody, houve um grande hiato na produção fotográfica sobre esse tema, desde então. "Essa para mim é a grande importância de 'Agô', um projeto que ilumina o olhar, educa, sensibiliza. Não é apenas uma exposição, é um ato ideológico", aponta.


Serviço
Exposição "Agô", de Roberta Guimarães
Museu do Estado de Pernambuco (Sala Lula Cardoso Ayres, 1º andar - av. Rui Barbosa, 960 - Graças
Abertura nesta terça-feira (23), às 19h. Entrada gratuita na vernissage
Visitação até 2 de junho, de terça-feira a sexta-feira, das 9h às 17h, e aos sábados e domingos, das 14h as 17h
Quanto: R$ 6 e R$ 3 (meia-entrada). A exposição contará com audiodescrição para as fotos expostas, com libras, e legendas LSE nos vídeos

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