Retrato de mulher oculto em pintura de Pablo Picasso é revelado por raio-x
"Retrato de Mateu Fernández de Soto" viria a ser uma das primeiras telas Período Azul, caracterizado por um azul melancólico
Uma das principais obras do Período Azul de Pablo Picasso (1881-1973), “Retrato de Mateu Fernández de Soto”, esconde uma outra personagem há mais de um século. Foi o que revelaram exames de raio-x e infravermelho realizados pelo Instituto de Artes de Courtauld, de Londres. Produzida pelo artista espanhol em 1901, quando ele tinha apenas 19 anos, a tela de tons azuis melancólicos oculta a imagem de uma mulher misteriosa.
Era comum, especialmente no início da carreira, que Picasso reutilizasse suas telas devido à falta de recursos financeiros. De acordo com o instituto inglês, a obra foi produzida em maio de 1901, meses antes de o espanhol chegar a Paris para realizar a sua primeira exposição na cidade, inaugurada no mês seguinte na galeria de Ambroise Vollard. Para essa mostra, o espanhol viria a criar diversas pinturas impressionistas, com pinceladas vibrantes e cores vivas.
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No caso, a tal mulher misteriosa foi coberta pelo retrato de um amigo escultor, que se hospedou no estúdio assumido pelo pintor após a morte de Carlos Casagemas — evento que marcou o início do Período Azul. Assim, no outubro de 1901, o artista começou a mudar sua abordagem artística para um estilo mais contemplativo e melancólico, em que predominava tons azuis.

A identidade da mulher, entretanto, pode ter “nunca ser confirmada”, diz a instituição de Londres. “Ela pode ter sido uma modelo, uma amiga ou até mesmo uma amante, posando para um dos retratos vibrantes de Picasso sobre a vida noturna parisiense – ou talvez fosse uma mulher melancólica, sentada em um bar.”
Em comunicado, o vice-diretor da Galeria Courtauld, Barnaby Wright, afirmou que já havia suspeitas sobre a existência da personagem oculta: “A superfície da obra apresentava marcas e texturas características de algo abaixo. Agora sabemos que se trata da figura de uma mulher. É possível até mesmo distinguir sua forma apenas observando a pintura a olho nu. A maneira como Picasso transformava uma imagem em outra e sua habilidade em mudar de estilo se tornariam marcas registradas de sua arte, consolidando-o como um dos maiores nomes da história da arte. Tudo isso começa com uma pintura como esta”.
A análise foi feita antes da exibição da pintura na exposição “The Griffin Catalyst exhibition: Goya to impressionism. Masterpieces from the Oskar Reinhart collection”, em cartaz na Galeria Courtauld até 26 de maio.