''Retrato de Um Certo Oriente'': drama do pernambucano Marcelo Gomes adapta livro de Milton Hatoum
O filme, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (21), é ''sobre memória e alteridade'', segundo cineasta
Em ''Retrato de Um Certo Oriente'', o diretor pernambucano Marcelo Gomes (''Cinema, Aspirinas e Urubus'') utiliza da memória para implementar um diálogo com o presente. Seu novo filme estreia hoje (21) nos cinemas brasileiros, abordando a trajetória de imigrantes libaneses no Brasil e a resistência dos povos originários na floresta amazônica.
A trama acompanha dois imigrantes libaneses, os irmãos católicos Emilie (Wafa'a Celine Halawi) e Emir (Zakaria Kaakour), que fogem da guerra no Líbano de 1949. Durante a saga, a irmã se envolve com o comerciante muçulmano Omar (Charbel Kamel), levando ela e seu irmão a consequências trágicas. Confira entrevista com o diretor.
Qual foi a sua intenção com o filme?
Todos os meus filmes têm uma coisa em comum: são obras de personagens. Eu quero me contaminar pelos desejos, dilemas, contradições e sonhos do personagem. Então quem me disse como fazer esse filme foi Emilie, ela me mostrou o caminho e a cultura árabe, que é cheia de mistérios. Esse longa é sobre memória e alteridade.
Por que a fotografia em preto e branco?
Emilie sai do Líbano e chega na Amazônia, uma floresta imensa, completamente diferente da paisagem a que está acostumada a ver e ela sente medo. Como reproduzir esse medo dela? Tirando todo o exotismo possível da floresta, deixando ela em preto e branco, tirando os 50 tons de verde e deixando os 50 tons de cinza. O filme é uma grande homenagem à fotografia.
Qual o clímax do encontro entre os imigrantes e os povos originários?
O momento da utopia que o filme está dizendo, "olha, só tem um jeito nesse mundo que é a gente respeitar as diferenças culturais dos outros". Construir encontros culturais, não choques culturais. Como na cena que cada um dos personagens está rezando para o seu Deus.
O "Retrato de Um Certo Oriente" é um filme de amor, mas tem várias camadas políticas e espaciais, e uma delas é a questão do preconceito religioso.
O seu filme pode expressar algo novo em relação a essa temática?
Sim. Eu acho que é interessante porque são imigrantes do Oriente Médio, em um país de terceiro mundo, que migram para outro país do terceiro mundo. O filme relaciona esses dois países sem passar pela Europa e pela América do Norte.
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Qual é a importância de dialogar com o passado?
É muito impressionante como a história repete os seus erros. Atualmente, existem populações originárias da Amazônia e pessoas no Oriente Médio sendo expulsas de suas terras. O que eu quero com o filme é atualizar esses temas com o intuito de fazer as pessoas refletirem.
Que elementos o filme tem em relação à obra original, o livro homônimo de Milton Hatoum?
A questão da alteridade e da memória, que para mim é muito importante, são os elementos retirados do livro. Outra nuance, os personagens nos livros são muito desejados e apaixonantes, e isso eu deixei no filme. Além disso, tanto o meu cinema quanto a literatura de Milton têm seus mistérios, dilemas e contradições. A gente não revela tudo, nós esticamos o poder de imaginação do espectador.