Cinema

"Retratos Fantasmas", de Kleber Mendonça Filho, estreia nesta quinta-feira (24); leia a crítica

Novo longa do pernambucano é uma crônica nostálgica sobre o Centro do Recife e seus saudosos cinemas de rua

Cena de "Retratos Fantasmas"Cena de "Retratos Fantasmas" - Foto: Divulgação

Para quem for assistir a “Retratos Fantasmas” - que estreia nesta quinta-feira (24) - sugestionado pela sinopse de um documentário sobre os antigos cinemas de rua do Centro do Recife, pode soar estranho - ao menos, em um primeiro momento - ver Kleber Mendonça Filho começar seu novo longa-metragem pelo apartamento onde ele viveu ao longo de 40 anos, em Setúbal, na Zona Sul da Cidade. A escolha, no entanto, passa a fazer todo o sentido ao sermos colocados diante do restante da obra, que desde as suas cenas iniciais se mostra disposta a quebrar qualquer expectativa sobre ela. 

Há um forte simbolismo impresso na primeira parte do longa, que é todo narrado em primeira pessoa por Kleber. É a voz do cineasta pernambucano, assim como suas memórias, sentimentos e percepções, que guiam o espectador por uma viagem extremamente pessoal - mas que também ressoa no coletivo - pelas lembranças de uma passado onde ir ao cinema era um grande evento e as salas de exibição abarrotadas de público eram o termômetro desse frenesi. 

Ao iniciar a narrativa de dentro do imóvel ocupado por sua família durante tantas décadas, o diretor escolhe levar a discussão levantada pelo filme para um lugar de profunda intimidade. Lá ele nos apresenta sua mãe, a historiadora Joselice Jucá, imagens de sua juventude e também de momentos com os filhos e a esposa. É um espaço familiar, mas também profundamente conectado ao cinema, já que o apartamento serviu de locação para os primeiros filmes feitos por Kleber, incluindo o aclamado “O Som ao Redor” (2012). 
 

Sagazmente, o diretor e Matheus Farias (montador do longa) optaram por fazer a transição da primeira parte para o restante do filme com um corte que une uma imagem bruta de “O Som ao Redor” a um plano feito da varanda de um edifício na Avenida Guararapes. Da Zona Sul, o olhar do espectador é desviado para o endereço que já foi símbolo da modernidade do Recife e que, hoje, representa bem a decadência vivenciada pela região central da cidade. 

É na crônica feita por Kleber sobre as salas que movimentaram o circuito cinematográfico do Recife no século 20 que o filme encontra seu ponto alto. Com melancolia e humor, o cineasta revive os tempos de glória de equipamentos culturais como os suntuosos - e já extintos - Art Palácio e Trianon. Aqui cabe elogiar o primoroso trabalho de pesquisa, que nos entrega não só imagens antes “perdidas no tempo”, mas também informações pouco difundidas, como o fato dos cinemas citados terem sido inicialmente projetados para a UFA, principal braço da propaganda nazista.

“Retratos Fantasmas” é também, em certa medida, uma grande colcha de retalhos de fragmentos da história recifense registrados pelo audiovisual. A cada minuto, nos vemos impactados e surpreendidos por imagens como a do casal Tony Curtis e Janet Leigh, estrelas de Hollywood, passeando por Boa Viagem e pela Ponte Duarte Coelho. 

Kleber faz questão de nomear cada um dos seus personagens, dos mais famosos aos completamente anônimos. A uma dessas figuras em especial, Seu Alexandre, projecionista do Art Palácio, o diretor dedica uma atenção maior, compartilhando entrevistas feitas por ele próprio há 30 anos, quando o cinema estava para fechar. O relato emocional do ex-funcionário traz a dimensão humana às questões abordadas no filme, mostrando que o que está em cheque é mais do que um prédio vazio ou um telão apagado. 

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