Reverbo estreia documentário no Recife com show ao vivo após exibição
Coletivo apresenta nesta quarta (16) registros da trajetória, em especial da turnê realizada em São Paulo, local em que o documentário foi gravado
"Ponto de potência", "ateliê da criação", "troca e conexão", "escuta sobre tudo", "ver se realizar um sonho". Ouvir sobre Reverbo é deleitar-se para além da música que o coletivo faz com a arte e seus fazedores, desde que foi pensado para congregar resistências e afetividades, em 2016, por Juliano Holanda e Mery Lemos.
A partir de então, o fluxo criativo de pelo menos 28 vozes passaram a ocupar - no sentido de preencher, apoderar-se, povoar - espaços locais e Brasil afora, numa espécie de revolução aclamada e o-r-g-u-l-h-o-s-a-m-e-n-t-e 'pernambucanizada' por quem o faz.
E logo mais, no Teatro do Parque, público, produção e integrantes dividem a mesma expectativa, a da estreia em casa do filme documental "Mostra Reverbo" - em coprodução da Maravilha Filmes com Anilina Produções, com Mário de Almeida à frente da direção Mery Lemos na produção.
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No roteiro, um tanto das trocas e cuidados característicos de quem compõe o grupo, incluindo a experiência da turnê realizada em São Paulo, em 2022, quando pela primeira vez ecoaram juntos fora de Pernambuco - com o saudoso cantor e compositor Jr. Black em cena, no palco, em sua derradeira apresentação ao lado dos seus, antes de encantar-se, meses depois. A propósito, ele estará em memória logo mais, no Parque.
"É um documentário dedicado também a ele, vai rolar música dele (...) Black tá muito presente", ressaltou Mery, em conversa com a Folha de Pernambuco, sobre o documentário que, segundo ela, já era um registro cobrado há muito, para o coletivo.
"A gente sempre foi provocado neste lugar de documentar o Reverbo, o que para mim é uma relação bem interessante porque também trabalho com audiovisual e documentário", destacou ela, que é produtora cultural e companheira do multiartista Juliano Holanda.
"Vou repetir o que disse no doc: A Reverbo não é um ponto de partida, mas é um ponto de potência. Tenho isso tão forte dentro de mim, do privilégio de estar entre pessoas tão diferentes, de narrativas e territórios tão diferentes, num mundo tão indisposto ao diferente, a Reverbo é um exercício importante de convivência, trocas e possibilidades incríveis.
Eu amo a oportunidade de ter conhecido todas essas pessoas e todas as outras que elas me trouxeram. Quando eu penso em Jr Black, por exemplo, meu sentimento é de profunda gratidão a essa experiência" (Gabi da Pele Preta)
É ao lado de Juliano que Mery Lemos reforça, de quando em sempre, o que é Reverbo. "A gente diz muito que é um exercício de escuta, de sentar, de estar no palco, de endossar e de principalmente ouvir o outro. Você está no palco com mais 28 artistas, você canta uma música e ouve 27".
"Reverbo é um ateliê da canção, um exercício da palavra, da canção, e pra mim é um dos coletivos mais importantes dessa geração, no sentido da divulgação da canção, da palavra, do cancioneiro popular, um coletivo que já produziu diversas canções gravadas por grandes nomes da música brasileira, como Ney, Daniela Mercury, Simone, Elba, Margareth Menezes…
É um coletivo muito importante para a canção, sobretudo para Pernambuco, esse novo lugar da canção. Todos os artistas que citei foram compositores que fazem parte do coletivo Reverbo, então pra mim é uma oficina da criação, ateliê da poesia, isso pra mim é o Reverbo" (Martins)
Encantamento e lágrimas
Sob incentivo do Funcultura, o coletivo seguiu para São Paulo e foi por lá que o registro documenta foi gravado. Era julho de 2022, ocasião em que 28 artistas representaram Pernambuco em pelo menos quatro noites no Itaú Cultural e outras no interior paulista, em Campinas.
Em parte, desconhecidos, passaram a partir de então a fazer parte da memória de quem esteve na plateia pela primeira vez, para ouvir e em especial, perceber que não se tratava de uma "mera" apresentação de letras e vozes.
"A nossa ida a São Paulo foi uma surpresa, uma grata surpresa para todos nós. Esgotamos as quatro noites no Itaú Cultural, depois fomos para Campinas e as pessoas ficavam impactadas com a qualidade das canções - falo de uma casa cheia de pessoas chorando, sabe? E que nunca tinham visto metade de quem estava lá", conta a produtora cultural, arrematando sobre a admiração do público diante do que escutavam de um Pernambuco à parte do frevo e do maracatu. "Sim, o documentário capta um pouco dessa essência da gente".
Retorno ao Parque
Durante 60 minutos, a exibição do filme - cuja estreia nacional ocorreu no Festival Internacional do Documentário Musical - IN-EDIT, em São Paulo, no último mês de junho - no Teatro do Parque, traz também o Reverbo em show, ao vivo, em um reencontro com o público no espaço que em março deste ano, recebeu show do grupo na ocupação que celebrou o saudoso Joel Datz - o Irmão Evento. Como sempre ocorre, os artistas que vão participar do momento serão conhecidos de surpresa., diante da plateia.
"Vejo muito essa relação do afeto costurando a Reverbo, não só no sentido romântico mas no afeto de se afetar mesmo. Acho que os artistas envolvidos se deixam afetar uns pelos outros, e por isso que a coisa tem se perdurado tanto porque o afeto é essa liga", pondera Mery.
"Hoje, meu impulso de vontade é pra ver meus amigos, e muitas dessas pessoas é a Reverbo que facilita de encontrar. Eu enxergo ali a graça da celebração, dos encontros e das reflexões sobre as diferenças.
É massa fazer parte disso, é massa se sentir incentivada por esse povo que a gente tanto admira, aprende e ensina." (Mayara Pera)
De Pernambuco para…
Ora como grupo, coletivo, movimento - ou movimentação, como já asseverou Juliano Holanda - Reverbo é, para seus criadores, "uma política efetiva que atua na vida de cada um que está envolvido".
"Fazer parte da Mostra Reverbo, pra mim, é ver se realizar um sonho que tive durante boa parte da vida. Quando eu comecei a dar os primeiros passos na música, ainda lá em Serra Talhada (onde nasci), eu sonhava em ter reconhecimento artístico e poder cantar pra multidões ou ser gravado por grandes nomes da MPB.
Se hoje eu tenho disco lançado, se sou gravado por Ney Matogrosso, Simone, Mônica Salmaso, Ceumar e tantos outros nomes, é por conta do poder que esse coletivo me dá. Se essa movimentação de artistas ao redor da canção virou documentário e já foi exibido até em festival internacional, é por conta da força que isso tudo tem.
Se hoje eu canto com casa cheia no Teatro do Parque, ao lado de artistas que também fazem parte da Mostra Reverbo, é porque o sonho que eu tive está realmente acontecendo" (PC Silva)
E foi a partir do que a produtora cultural chama de "mostra coletiva de canções" que PC Silva, um dos nomes que ganhou relevância nacional, saiu de Serra Talhada, Sertão do Estado, para integrar faixas de discos de outros nomes de peso do cancioneiro nacional. Fato reconhecido pelo próprio artista pernambucano.
"Se hoje eu tenho disco lançado, se sou gravado por Ney Matogrosso, Simone, Mônica Salmaso, Ceumar e tantos outros nomes, é por conta do poder que esse coletivo me dá", destaca PC.
Além dele, Isabela Moraes, cantora e compositora também reproduzida por gigantes da Música Popular Brasileira, resume a Reverbo como "Escuta. É ganhar força por ser múltipla. É ser no outro".
"A Reverbo pra mim é a admiração mútua que se estabelece verdadeiramente entre os artistas. É escuta sobre tudo. Se eu pudesse resumir numa palavra: A Reverbo é ESCUTA. É ganhar força por ser múltipla. É SER no outro" (Isabela Moraes)
Tal qual, Martins tem na Reverbo "uma oficina da criação, um ateliê da poesia", tom dado também por Gabi da Pele Preta "Reverbo é um exercício importante de convivência, trocas e possibilidades incríveis" e por Mayara Pera, "todo mundo tá ali pelo encontro, pela comunhão da música, da poesia, pela admiração mútua".
Musicalmente fluido e fincado no tempo presente, a Reverbo "apenas" existe - como ocorrerá logo mais no Teatro do Parque. Para o dia seguinte, a mostra seguirá como memória até novamente ser resgatada em uma nova "ocupação".
"A gente não pensa no futuro… é uma manifestação muito do presente. Tenho meus sonhos, eu queria que se expandisse, queria poder abarcar mais pessoas, pensar mais coisas para chegar mais longe. Mas tudo que aconteceu até agora já é muito histórico e a gente segue enquanto for gostoso para todo mundo", saleinta Mery Lemos que, provocada sobre como enxerga a Reverbo com um olhar de espectadora - posição que ela admite não conseguir estar - complementa afirmando "enxergo com muita beleza, generosidade e diferenças… é uma coisa muito bonita".
Serviço
Mostra Reverbo - Estreia do documentário
Com show ao vivo do coletivo, pós-exibição
Quando: Quarta-feira (16), 19h
Onde: Teatro do Parque - Rua do Hospício, 81, Boa Vista
Ingressos a partir de R$ 20 no Sympla
Informações: @reverbo.reverbo