Reynaldo Gianecchini revisita o mundo da moda na pele do amoral Anthony de "Verdades Secretas"
O mundo é gentil com quem é bonito. E Reynaldo Gianecchini sabe muito bem disso. No entanto, foi na base do esforço e da coragem que o intérprete do Anthony de “Verdades Secretas” preferiu construir sua trajetória como ator. “Nunca tive medo de críticas. Recebi um monte, mas o importante é seguir em frente, fazer o melhor que puder e se preparar para novos trabalhos”, acredita o ex-modelo. É nas vivências e bastidores de sua antiga profissão, inclusive, que Gianecchini pescou algumas inspirações para viver o ambicioso e decadente personagem, que está de volta ao ar por conta da reprise da novela, exibida originalmente em 2015. Escalada para refrescar a memória do público no mesmíssimo horário das 23h, o retorno também serve para aguçar a curiosidade da audiência para a continuação da trama, que estreia em breve na Globoplay. “Achei ótima a ideia de reexibir ‘Verdades Secretas’ porque é uma trama que fez muito sucesso. O público está ansioso pela continuação, eu sinto isso. Vai ser ótimo relembrar toda a história para as pessoas estarem com ela bem viva na memória quando a continuação estrear”, aprova.
Apesar de não estar na continuação, Gianecchini está curioso sobre os novos rumos da história criada por Walcyr Carrasco, um autor recorrente em sua trajetória e que acabou o ajudando a encontrar personagens que fugiam da figura do galã. “Ele é fundamental na minha carreira e é impressionante como seu texto muda dependendo do horário. Lembro que fiquei muito encantando quando a sinopse de ‘Verdades Secretas’ chegou até mim. Não era algo tão comum para a tevê aberta e até hoje segue muito novo e ousado”, elogia. Apesar de acompanhar uma ou outra cena da atual reprise, a história está bem nítida na mente do ator por ter sido um de seus principais refúgios durante a pandemia. Driblando seu jeito autocrítico, ele considera seu desempenho como Anthony acima da média. “Acabei de rever a trama toda no Globoplay, porque eu queria saber se ainda continuava achando boa. E continuo! Acho que depois desses anos todos que passaram, ela se sedimenta como um trabalho muito consistente. Não sofri e fiquei realmente tocado de ver eu e meus amigos em cena”, valoriza.
Na trama, Antonhy é um ex-modelo que há muito já passou de seus dias de Glória. Ele tem um tórrido caso com Fanny, de Marieta Severo, uma relação que se confunde com sentimentos escusos como oportunismo e subserviência. “Anthony é um gigolô, esse é o traço mais forte dele. Ele não tem empatia nenhuma, não tem moral, não tem muita questão com nada. Ele quer se dar bem e usa a sedução para isso. Durante o processo de preparação, assisti a muitos filmes com personagens que usavam seu charme para sobreviver. A ideia era pegar o que poderia ser legal nesse universo masculino de sedução”, explica. Na contramão de uma personalidade tão torpe, o ator conseguiu encontrar a humanidade do personagem na relação com a mãe, a solitária e alcoólatra Fábia, vivida pela saudosa Eva Wilma. “As cenas do Anthony com a mãe eram todas em casa, um lugar que tocava o personagem e a mim também. Essa mãe era a única pessoa que fazia com que fosse possível ver o lado mais frágil dele. Dona Eva era uma grande atriz e estar em cena com ela já me colocava em um lugar perfeito, era só reagir”, emociona-se.
Esbanjando bom humor, o ator nascido há 48 anos na pequena Birigui, interior de São Paulo, exibe a segurança de quem trabalha com o que realmente gosta. Foi essa certeza que o fez trocar as passarelas pelos palcos e estúdios de televisão. A estreia no vídeo aconteceu há exatos 20 anos, no sucesso “Laços de Família”, de 2000. “Estava cru e não sabia nada sobre tevê. Foi um sucesso, mas sofri demais nos bastidores. Por sorte, muita gente boa me ajudou, a Marieta (Severo) foi uma delas e teve muita paciência com a minha inexperiência”, assume. De uma forma muito afetuosa, “Verdades Secretas” marcou o reencontro dos dois no vídeo. “Voltar a contracenar com a Marieta foi uma celebração. Me senti muito mais competente para o jogo de cena que ela sempre cria na hora de gravar”, elogia. Agora, o ator se prepara para um novo capítulo na carreira. Após duas décadas de vínculo, seu contrato com a Globo não foi renovado. Aproveitando-se da liberdade artística, ele assinou com a Netflix e estará na segunda temporada do sucesso “Bom Dia, Verônica”.
Sentido próprio
Embora criticado e sem tanta segurança, Reynaldo Gianecchini não apenas caiu no gosto do público, mas também de diretores e autores da Globo. E foi a partir desse apelo popular e de muita disciplina que ele foi sendo escalado para papéis cada vez maiores e sempre de destaque. A estreia na tevê já foi como protagonista de “Laços de Família”. Posto que se repetiu em tramas seguintes, como “Esperança”, “Da Cor do Pecado” e “Sete Pecados”. “Principal ou não, todos os trabalhos têm importância equivalente para mim. Mas é claro que o protagonista exige mais, não apenas por ‘carregar’ a novela, mas também pelo número de cenas”, ressalta.
O desenvolvimento da carreira o levou também a uma certa autonomia no que gostaria ou não de fazer dentro da emissora. Por conta disso, Gianecchini passou a variar mais, não só de posto, mas de gênero. “Isso tem muito a ver com a oportunidade que o Silvio de Abreu me deu de mostrar que eu também poderia fazer comédia, como foi em ‘Belíssima’, ou experimentar fazer um vilão, algo que me deu muitas alegrias em ‘Passione’. É sempre bom fazer coisas diferentes. É por esse caminho que quero continuar”, torce.