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Rock in Rio: Saiba por que o punk rock continua vivo e arrastando multidões

Raízes do gênero transgressor nascido nos anos 1970 unem as atrações desta noite no principal palco do festival

Rock in RIo 2022Rock in RIo 2022 - Foto: Mauro Pimentel/AFP

Não, ninguém que subirá ao Palco Mundo na noite desta sexta-feira (9) terá alfinetes atravessando orelhas ou narizes (cabelos arrepiados e coloridos até podem aparecer). E, para a decepção de alguns, os músicos de fato sabem tocar seus instrumentos. Ainda assim, o punk rock está nas raízes da maioria das atrações.

O grande nome da noite é o trio Green Day, de Oakland, um dos maiores expoentes do punk rock californiano, vertente mais melódica e pop do gênero outrora forjado por nomes como Sex Pistols e The Stooges. Antes deles, a família emo (que, sim, é uma espécie de sobrinha-neta do punk) aparece com um de seus representantes mais conhecidos, o Fall Out Boy. O primeiro astro estrangeiro da noite no palco mantém os cabelos no alto e, de fato, foi parte da onda punk, nos anos 1970, com o Generation X: Billy Idol partiu para um rock mais radiofônico, mas o DNA segue em suas melodias (como a de “Dancing with myself”, normalmente a primeira do show) e caretas. Abrindo a noite, o Capital Inicial deve ter em seu setlist músicas do Aborto Elétrico, uma das primeiras do punk brasileiro, como “Que país é esse?”, “Fátima” e “Veraneio vascaína”.

"Os punks ingleses foram influenciados por bandas americanas como os New York Dolls — diz o catedrático papito Supla, estudioso do assunto." O Malcolm McLaren, produtor que criou os Sex Pistols, trabalhou antes com os Dolls.

Os New York Dolls, assim como os Dictators, eram uma banda americana de aparência andrógina, o que viria a influenciar toda uma cena, principalmente a partir dos anos 1980, de rapazes maquiados com generosas doses de laquê nos cabelos. Um soco inglês na cara do punk machão.

"Ser punk é não cumprir as regras" define Supla. "Se você faz um som igual a uma banda que está estourada só para surfar na onda, isso não é punk. O importante é ter verdade, além de boas canções".

Os Sex Pistols — um dos principais nomes do gênero, banda criada por McLaren com frequentadores de sua butique, SEX, mas só os que tinham a aparência certa, no julgamento dele — duraram pouco em sua encarnação original, apenas três anos. Bandas mais longevas, como o Clash, uma das principais influências do Green Day, em pouco tempo começaram a incorporar outros gêneros ao som cru do punk.

"O Paul Simonon, baixista do Clash, me contou que começou a ouvir reggae porque conseguia escutar o baixo" conta Supla. — Nos últimos discos do Clash e nas bandas posteriores dos seus integrantes, é fácil ouvir influências do reggae, da música africana e de outros ritmos.

É claro que o sucesso acaba levando as bandas punks à berlinda, com a velha (e chata) história da venda da alma ao mercado. Os próprios Pistols usaram o nome “Filthy lucre” (“Lucro imundo”) como deboche ao se reunirem nos anos 1990, e o megaestourado Green Day não escapa das críticas.

"O Johnny Rotten (boquirroto cantor dos Pistols) costuma falar mal do Billie Joe Armstrong, cantor do Green Day, mas eu o acho um grande compositor" avalia Supla. — Só ele fazer os americanos todos cantarem “American idiot” (“Idiota americano”, uma crítica à apatia do povo dos EUA, música que costuma abrir os shows da banda, do disco homônimo de 2004) já é sensacional.

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