Cultura

Rogério Skylab para ler e ouvir: artista carioca lança livro e faz show no Recife após 19 anos

Artista carioca lança, amanhã, no Bar Central, seu novo livro "Futebol de Cego"; e na sexta-feira (21), faz show no Teatro Guararapes

Rogério Skylab volta a se apresentar no Recife após 19 anos Rogério Skylab volta a se apresentar no Recife após 19 anos  - Foto: Vitor Rosa / Divulgação

Dezenove anos depois da sua derradeira aparição no Recife - seu último show foi no Rec Beat de 2004 - Rogério Skylab volta a se apresentar na capital pernambucana, na próxima sexta (22), no Teatro Guararapes, com ingressos disponíveis no Sympla. O artista aproveita a agenda para participar do podcast “Fala Ordinário”, nesta quarta-feira (20), e lançar seu novo livro de poemas “Futebol de Cego”, na quinta (21), das 19h às 21h, no Bar Central, no bairro de Santo Amaro.

“A única vez que estive aí foi bem no início da minha carreira. Volto para o Recife já velho e com 30 discos lançados. Produzindo um trabalho que desde a sua origem se deu às margens das grandes gravadoras. São 30 discos autorais, um repertório imenso. E não tenho nenhum constrangimento quando escuto meus primeiros discos. Eu sinto meu som potente, contemporâneo, ao contrário de outros que envelheceram mal. Eu acho que eu envelheci bem”, avalia o artista.

O artista e a palavra
Formado em literatura e filosofia, o artista carioca de 67 anos costuma usar a palavra nas diversas linguagens que dispõe.“Sou ligado ao legado modernista, que era no sentido de explorar a literatura nos campos dos mais variados possíveis: ensaio, texto teórico, poesia, prosa… o meu legado vem dos modernistas, tipo Oswald [de Andrade], Mário [de Andrade], que experimentaram de todos os campos”, conta. 

A produção literária do autor é intensa. Ele já havia lançado “A Outra Volta da Outra Volta: um Estudo Sobre Henry James” e os livros “Lulismo Selvagem”, com ensaios políticos, e “Debaixo das rodas de um automóvel”, seu primeiro livro de poemas. Os versos de “Futebol de cego”, que dá nome ao seu novo trabalho literário, fazem jus ao estilo de Skylab. São mais de 70 poemas que vão do cômico ao trágico, com a presença marcante dos opostos e da dubiedade.

“Eu pratico futebol de cego
Dizem que o gol está à direita.
Eu chuto e acerto

Eu pratico futebol de cego.
O técnico grita: ‘à direita!’
Eu chuto à esquerda e acerto.
Eu pratico futebol de cego
Dizem que a bola sumiu.
Eu chuto assim mesmo e acerto 

Futebol de Cego (Rogério Skylab, "Futebol de cego")

“Na primeira estrofe eu repito o que me informam. Na segunda estrofe eu nego o que me informam. E na terceira estrofe, contra qualquer tipo de possibilidade - que eu chamo de discurso do impossível - a bola sumiu e assim mesmo eu chuto e acerto”, explica o autor.

“O estudo das ciências trabalha com o sentido fechado. E a poesia necessariamente tem esse campo de abertura para que a pessoa possa  identificar como ambiguidade. É proposital. A poesia não pode produzir um sentido fechado, senão estará produzindo ciências sociais ou outra coisa”, argumenta.

O erotismo provocativo
Seja na literatura ou na sua extensa discografia, o erotismo e a liberdade total e sem censura sempre esteve presente na obra de Rogério Skylab. “Eu uso muitos temas tabus na minha música e isso vem da influência muito grande que eu tive da literatura e filosofia francesa - mas propriamente falando Georges Bataille, naquele livro sobre o erotismo, da história do olho, um discurso absolutamente ligado ao sagrado e, ao mesmo tempo, ao erótico”, detalha o artista

“Tenho dito que a nossa cultura - quando eu falo cultura, estou falando da cultura erudita e não da popular, porque a cultura popular com o funk é completamente aberta, não tem esse problema - mas a cultura erudita é muito puritana. Você pega um Guimarães Rosa, um João Cabral de Melo Neto, é muito difícil eles abordarem o erotismo. O erotismo não está presente na nossa cultura erudita. Eu credito isso à presença da Igreja, que tem um papel na colonização muito forte. E acho que esse puritanismo na alta cultura brasileira se deve muito a isso”, analisa.

“Outro dia eu estava lendo um livro do [Guillaume] Apollinaire, que é um poeta francês de alta estirpe e é na França o que seria aqui um João Cabral ou um Guimarães Rosa. Um cara de alto nível. Tem um livro do Apollinaire chamado ‘A história de Don Juan’. E é um livrinho só de sacanagem, mas de sacanagem mesmo, cara. Você nunca vai encontrar isso em um grande escritor brasileiro”, diz.

Sucessos e novidades em palco
“São 30 discos autorais. Então, para fazer o setlist é uma tortura”, brinca Skylab. No show, ele costuma reunir 20 músicas, sendo 19 de sua autoria e uma do gaúcho Júpiter Maçã”. Eu desfrutava de uma grande amizade com ele e em todo show que faço eu canto uma música dele, isso aí é lei. Para a apresentação no Recife, o artista preparou uma versão da canção “Hoje”, de Taiguara. “Essa música tocou muito no filme 'Aquarius', do Kleber Mendonça e é uma espécie de homenagem que eu faço a ele”, antecipa, destacando seu apreço pelo cinema pernambucano. 

Outra canção que estará presente no show, embora ele não antecipe qual será, integra o disco “Caos e Cosmos 3”, lançado neste mês de setembro, fechando o projeto Cosmo, constituído por cinco volumes: “Cosmos”, “Os Cosmonautas”, “Caos e Cosmos 1” e “Caos e Cosmos 2”. “Eu gostaria muito de fazer um show só com músicas do meu último disco, seria maravilhoso. Mas eu não posso fazer isso porque meu público não vai aceitar de jeito nenhum”, brinca.

O ofício de produzir discos
Rogério Skylab dá grande importância do trabalho de produzir álbuns, que exerce há mais de três décadas. “Eu gosto muito quando as pessoas me chamam de cantor e compositor. Mas eu gostaria que as pessoas falassem ‘produtor de discos’, porque eu passei 30 anos produzindo os meus discos. A forma de produção foi das mais variadas”, conta.

“E nesses 30 anos eu fui aprendendo. E fui conhecendo cada vez mais pessoas. É um processo de aprendizagem. Agora, os meus primeiros discos, se ouvir hoje, você vai sentir uma contemporaneidade neles”, aponta. Segundo a artista, ter começado na música “tarde”, só aos 30 anos, deu aos seus discos maturidade”, avalia.

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