'Rust' vai estrear em festival europeu sem cena de tiro para a câmera que matou Halyna Hutchins
Filme com Alec Baldwin ficou marcado pelo caso do tiro que matou diretora de fotografia, há três anos, e foi retomado sem uso de armas reais após pedido do viúvo
O filme “Rust”, que ficou marcado pelo tiro que tirou a vida de sua diretora de fotografia no set, em 2021, será exibido pela primeira vez em novembro, num festival de cinema na Polônia dedicado à cinematografia. A organização do festival Camerimage disse em seu site que a estreia será uma homenagem a Halyna Hutchins. A diretora de fotografia de 42 anos foi morta em 21 de outubro de 2021, quando o astro do filme, Alec Baldwin, apontava um revólver para a câmera e disparou uma bala real.
O marido de Hutchins, Matthew, e seu filho, que tinha 9 anos quando ela morreu, receberão parte da bilheteria, sob os termos de um acordo feito no processo por homicídio culposo. As filmagens foram retomadas em 2023 sem armas reais, e o roteirista e diretor de “Rust”, Joel Souza, que se feriu no tiroteio, voltou para terminar a obra.
“Rust” é um faroeste sobre um garoto órfão de 13 anos que, após atirar acidentalmente em um fazendeiro, escapa de uma sentença de morte com a ajuda de seu avô fora da lei, interpretado por Baldwin. Filmado inicialmente nos arredores de Santa Fé, Novo México, e finalizado em Montana, o longa-metragem não trará a cena em que Hutchins trabalhava quando foi morta.
A decisão de terminar o filme foi um tanto controversa, já que a produção foi retomada durante os processos de Baldwin e da armeira original do filme, Hannah Gutierrez-Reed. Ela foi condenada por homicídio culposo e sentenciada a 18 meses de prisão por ter carregado a arma com uma bala real antes do disparo. Um juiz rejeitou o caso de homicídio culposo contra Baldwin durante o julgamento, em julho, citando a retenção de provas pela promotoria.
O filme não foi exibido em festivais de cinema mais conhecidos, mas o Camerimage, com seu foco em cinematografia, o abraçou. O festival disse que a estreia, em Torun, na Polônia, incluiria um painel de discussão com Souza; Bianca Cline, a diretora de fotografia que assumiu após a morte de Hutchins; e Stephen Lighthill, mentor de Hutchins em seu tempo no Instituto Americano de Cinema em Los Angeles.
“Sabíamos que nosso evento era importante para ela, e que ela se sentia em casa entre os diretores de fotografia do mundo todo, que se reúnem no Camerimage há mais de 30 anos”, disse Marek Zydowicz, diretor do festival, em uma declaração. O festival acontece de 16 a 23 de novembro.
Além dos processos criminais, o caso levou a uma série de processos civis e uma ampla reavaliação em Hollywood do uso de armas e munições reais em sets de filmagem.
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Pedido do viúvo
Uma diretora de fotografia promissora, Hutchins chamou a atenção de Souza quando viu um trailer de um filme de super-heróis em que ela havia trabalhado chamado "Archenemy". Impressionado com seu movimento de câmera e estilo sutil, ele pensou nela quando chegou a hora de contratar para "Rust", no qual ele e Baldwin trabalharam juntos desde o início.
Numa entrevista antes do anúncio do festival, Souza disse que inicialmente havia se recusado a retornar como diretor do filme após o tiro, mas que gostou da ideia quando soube que o marido de Hutchins queria que o filme fosse concluído para que seu trabalho final fosse visto pelo público. Ele acabou se tornando produtor executivo do filme de US$ 8 milhões como parte do acordo.
"Tornou-se muito importante para mim terminar isso em nome dela", disse Souza. “Eu nunca presumiria querer falar por alguém que não pode mais falar por si mesma, mas estou muito confiante de que é isso que ela teria desejado.”
Na época do tiro, "Rust" estava quase na metade das produção. No retorno, o objetivo da equipe era recuperar o máximo possível de filmagens originais de Hutchins — uma meta que se tornou mais difícil quando alguns atores importantes não quiseram retomar o trabalho.
Souza disse que ele e Cline montaram um quebra-cabeça de filmagens antigas e novas empregando truques de edição e, em alguns casos, efeitos especiais que substituíram as cabeças dos atores. O filme completo tem um tempo de execução de mais de duas horas, disse Souza, e cerca de um terço das filmagens é de Hutchins.
Souza reconhece que alguns na indústria cinematográfica e no público questionam a decisão de terminar o filme, observando que a oposição sindical foi um grande obstáculo. Mas ele enfatiza que o objetivo central era preservar o trabalho de Hutchins e beneficiar sua família.
"Ninguém entrou nessa segunda rodada apenas por um salário", disse ele. "Essas pessoas sentiram com muita força o desejo de levar a visão de Halyna até o fim."