Saiba mais sobre a trajetória de vida e o legado de Rita Lee para a música brasileira
“Eu não tenho hora para morrer, por isso sonho”, escreveu Rita Lee na canção “Coisas da vida”, do álbum “Entradas e Bandeiras”, da banda Tutti Frutti, em 1976. Eis que esse momento, enfim, chegou na noite de 8 de maio de 2023, em sua residência na capital paulistana, depois de uma batalha contra o câncer de pulmão que havia sido diagnosticado em 2021. A artista se foi, mas seu sonho ficará para sempre escrito na história da música brasileira. O velório da artista será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, na capital São Paulo, nesta quarta-feira (10), das 10h às 17h.
“Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que farei falta no mundo da música, quem sabe até deem meu nome para uma rua sem saída. Os fãs, esses sinceros, empunharão capas dos meus discos e entoarão ‘Ovelha negra’, as TVS já devem ter na manga um resumo da minha trajetória para exibir no telejornal do dia e uma notinha no obituário de algumas revistas há de sair", assim profetizou a artista no livro “Rita Lee: uma autobiografia” (2016).
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"Nas redes sociais, alguns dirão: ‘Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk’. Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los. Enquanto isso, estarei eu de alma presente no céu tocando minha autoharp e cantando para Deus: ‘Thank you Lord, finally sedated’. (...) Epitáfio: Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa”, escreveu a cantora. E sem jamais prestar contas ao politicamente correto, a trajetória de Rita foi um verdadeiro acontecimento.
Origem e iniciação musical
Rita Lee Jones de Carvalho (31 de dezembro de 1947 — 8 de maio de 2023), conhecida no meio artístico como Rita Lee, foi uma cantora, compositora, multi-instrumentista, atriz, escritora, vegana e ativista, considerada a "Rainha do rock brasileiro", apesar dela rejeitar a alcunha. Descendente de imigrantes norte-americanos italianos de classe média, tinha duas irmãs: Mary Lee Jones e Virgínia Lee Jones. "Lee" é um nome composto dado por seu pai em homenagem ao general Robert E. Lee, do exército confederado norte-americano.
Rita Lee nasceu e cresceu no bairro da Vila Mariana, onde viveu até o nascimento de seu primeiro filho, local com grande valor afetivo para a cantora. A artista estudou no colégio franco-brasileiro Liceu Pasteur, onde se tornou poliglota, com fluência em português inglês, francês, castelhano e italiano. Chegou a ingressar no curso de Comunicação Social na Universidade de São Paulo, em 1968, mas desistiu do curso. Durante a infância, teve aulas de piano com a musicista clássica Magdalena Tagliaferro.
Bandas, conflitos e casamentos
A longa carreira de Rita Lee na música teve início na adolescência, quando começou a compor suas primeiras canções. Junto de alguns amigos, começou a se apresentar em clubes. Em 1963, formou um conjunto musical com mais duas garotas, as Teenage Singers, que faziam pequenos shows em festas colegiais, época que conheceu Arnaldo Baptista - com quem foi casada - e Sérgio Dias, com quem viria a fundar o grupo Os Mutantes, cantando, tocando flauta e percussão, além de performances no sintetizador, no banjo e manipulando ruídos.
Com o casamento com Arnaldo em crise, seu protagonismo na banda passou a ser questionado e ela foi expulsa do grupo. Em seguida, com o grupo Tutti Frutti (1973–1978), Rita Lee conquistou enorme sucesso, sobretudo com o álbum “Fruto proibido”, considerado um marco do rock brasileiro, que a impulsionaria para sua consagrada carreira solo. Com letras de ironia ácida e empoderamento feminino, ela influenciou gerações. Em 1976, começou um relacionamento amoroso com o guitarrista Roberto de Carvalho, parceiro da maioria de suas canções. Os dois tiveram três filhos, entre eles Beto Lee, também guitarrista de sua banda.
“Sucesso aí vou eu”
Desde o início de sua carreira solo, como no disco “Build up” (1970), em que ela cantava a canção “sucesso aí vou eu”, a artista já projetava uma carreira meteórica. Ao loongo de 60 anos de carreira, emplacou dezenas de canções nas paradas de sucesso, sendo as mais populares "Ovelha Negra", "Mania de Você", "Lança Perfume", "Agora Só Falta Você", "Baila Comigo", "Banho de Espuma", "Desculpe o Auê", "Erva Venenosa", "Amor e Sexo", "Reza", "Menino Bonito", "Flagra" e "Doce Vampiro", dentre tantas outras.
A artista deixou um legado de 30 álbuns de estúdio e mais de 55 milhões de cópias vendidas. Dividiu o palco com grandes artistas como Elis Regina e João Gilberto e a banda Titãs. A revista Rolling Stone incluiu seu nome na a lista dos cem maiores artistas da música brasileira, em 2008. Inquieta, Rita começou a experimentar com o rock ma, ao longo dos anos flertou com diversos gêneros, como a psicodelia na época do tropicalismo, e outros estilos como o pop rock, disco, new wave, a MPB, bossa nova e eletrônica. Para além da música, ela dedicou-se a um programa de rádio (“Rádio Amador”), escrevendo e apresentando personagens. É autora de 10 livros, entre eles, duas autobiografias, nos anos de 2016 e 2023.