Literatura

Salman Rushdie: duas semanas após ataque, intelectuais fazem campanha por Nobel para escritor

'A campanha começa agora', escreveu o filósofo francês Bernard-Henri Lévy em apoio ao autor de 'Os versos satânicos'

O escritor britânico Salman RushdieO escritor britânico Salman Rushdie - Foto: Charly Triballeau / AFP

Hospitalizado após sofrer 15 facadas no último 12 de agosto, o escritor Salman Rushdie, de 75 anos, é daqueles nomes que são todo ano lembrado para o Nobel de Literatura. Após o atentado que quase o matou, essa lembrança ficou ainda mais forte. Entre diversos escritores franceses, um possível Nobel para Rushdie virou caso de torcida e campanha nos últimos dias. Este ano, o prêmio da Academia Sueca, o mais importante da literatura, será anunciado no dia 10 de dezembro.

“Não consigo imaginar outro escritor que tenha a audácia, hoje, de merecer mais do que ele. A campanha começa agora”, escreveu o filósofo e escritor francês Bernard-Henri Lévy nas páginas do semanário Le Journal du Dimanche (JDD).

Próximo de Rushdie, Lévy publicou um longo texto relatando sua amizade com o colega britânico.

"A comunidade internacional terá de dizer aos patrocinadores do crime que há um antes e um depois do novo caso Salman Rushdie", escreveu Henri-Lévy. "Mas seus amigos, seus pares, aqueles cuja opinião conta, a imprensa, têm uma decisão nas mãos. Para conceder ao autor dos 'Versos Satânicos' a mais alta das honras literárias. Para garantir que, em nome de toda a sua família e em seu próprio nome, lhe seja atribuído este ano, ou seja, em poucas semanas, o Prêmio Nobel da Literatura".

A ex-ministra francesa da Cultura Françoise Nyssen, codiretora da editora Actes Sud, que publica a obra de Rushdie na França, também entrou na torcida pelo Nobel. Para ela, o reconhecimento da Academia Sueca poderia fortalecer a segurança e a posição de Rushdie diante “desses malucos”.

Desde 1980, quando publicou "Os versos satânicos, Rushdie é alvo de uma fatwa – um decreto religioso que tem apoio legal no Islã e que clamou por sua morte.

O aiatolá Khomeini, então líder supremo do país persa, emitiu esta decisão pedindo que o romancista fosse morto com a promessa de uma recompensa de US$ 3 milhões pelo assassino. Na época, Rushdie recebeu apoio de escritores do mundo todo. Mas o apoio formal da Academia Sueca demorou. Só em 2016, somente 27 anos depois, a própria Academia Sueca condenou às ameaças a Rushdie. Num artigo publicado pelo diário Dagens Nyheter, o secretário da Academia, Tomas Riad, criticou "uma condenação à morte pronunciada para castigar uma criação literária".

"A independência da literatura relativamente ao controlo político é imperioso para a civilização e deve ser preservada dos ataques de partidários da vingança e da censura", escreveu.

As casas de apostas ainda não iniciaram suas jogadas para o Nobel de Literatura deste ano. Mas não há dúvidas de que Rishdie, que todo ano aparece entre os favoritos, estará bem cotado mais uma vez.

Entenda o atentado

Salman Rushdie foi atingido por múltiplas facadas no dia 12 de agosto, durante um evento no centro educacional Chautauqua Institution, em Nova York. O homem acusado de esfaquear o romancista se declarou inocente das acusações de tentativa de homicídio e agressão em segundo grau, durante audiência, e teve a prisão confirmada sem direito a fiança.

Após ser atendido no local do atentado pela endocrinologista Rita Landman, que estava na plateia, o escritor foi levado de helicóptero para um hospital local. Lá, passou horas no centro cirúrgico.

"Salman provavelmente perderá um olho; os nervos de seu braço foram cortados; e seu fígado foi esfaqueado e ferido", acrescentou Wylie.

Antes da internação, sabia-se que o escritor havia sido atingido no abdome e no pescoço. Ralph Henry Reese, que estava no palco com Rushdie no momento do ataque, recebeu alta de um hospital na tarde de sexta-feira. Ele sofreu um ferimento no rosto. Em uma declaração enviada ao jornal americano por e-mail, Reese chamou Rushdie de "um dos grandes defensores da liberdade de expressão e liberdade de expressão criativa".

De acordo com relatos, o autor não precisa mais de respirador e conseguiu dizer algumas palavras. À caminho da recuperação, ele estaria até fazendo piadas no hospital.

“Ainda que as lesões que mudaram sua vida sejam graves, o habitual senso de humor desafiante permanece intacto”, disse o filho de Rushdie, Zafar Rushdie, em comunicado.

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