Salve o Rei do Baião, Luiz Gonzaga
Neste domingo (13), o Velho Lua celebraria 108 anos se vivo estivesse, mesmo dia em que não por acaso, é comemorado também o Dia Nacional do Forró
Dia desses flagrei meu pai limpando vinis de Luiz Gonzaga (Exu, 13 de dezembro de 1912 — Recife, 2 de agosto de 1989), com um zelo que me fez ficar de longe admirando a cena. Restam poucos das dezenas de discos que até onde a lembrança alcança, se somavam a outros clássicos de “época” muitíssimos bem guardados no móvel que acomodava além deles, a radiola.
Lembro bem deste objeto, inclusive, pelos gritos que ressoavam para voltar a agulha e novamente botar para tocar “Asa Branca”, que tinha que passar mais de uma vez para só depois o Lado A do LP do Rei do Baião seguir adiante. De 1975 e com cara de novo até este final de 2020, poderia apostar que ele vai ser tocado neste domingo 13 de dezembro, dia de “Seu Luiz” e que se vivo estivesse celebraria 108 anos. O mesmo dia, e não por acaso, é também o Dia Nacional do Forró.
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Por falar em forró... dia desses de novo corri para mostrar ao meu pai a lista das músicas mais ouvidas de 2020 nas plataformas de música. Fui direto no rol dos “forrozeiros” e parei nos três primeiros eleitos: Os Barões da Pisadinha, Jonas Esticado e Wesley Safadão. “Pai, olha isso!”. Os caras dos hits “Tá Rocheda”, “Mentaliza Aí” e “Ele é Ele, Eu Sou Eu” lideravam uma espécie de ranking nacional do gênero. “Gonzagão não está aí, né?”, questiona ele em tom de afirmação.
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Ei, seu moço do Barão da Pisadinha, bora de xaxado, baião. Um xotezinho? Pelo menos um gibão e um chapéu de couro, rola? Tá, não é do costume das gerações atuais que até já ouviram falar em Luiz Gonzaga, dançaram “Xote das Meninas” e conseguem distinguir um triângulo de uma sanfona e de uma zabumba – tripé que outrora puxava o forró quando este não era produto da mídia nem se desdobrava em estilizado, universitário e coisas do tipo.
Mas não reconhecer a obra de Gonzagão como permanente e não tê-lo como o nome pioneiro que encurtou caminhos para a música nordestina, não é questão de geração X, Y ou Z. Renegar a memória de uma cultura impregnada pelo nome da MPB que tornou “Asa Branca” uma ode tal qual fez Ary Barroso com “Aquarela do Brasil”, é fator de ignorância mesmo. E quando autenticidades sonoras são trocadas pelo pueril de novas vozes, passa a ser também uma questão de gosto – mas quanto a isto, não se discute.
Mas ao menos na lista do Ecad das mais tocadas no período junino em 2020 – mesmo sem festas por causa da pandemia - o genuíno do forró nordestino foi bem representado por Luiz Gonzaga em pelo menos sete canções, entre as vinte citadas pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição.
Foram elas: “Olha pro Céu”, “Pagode Russo”, “Fogo sem Fuzil”, “O Xote das Meninas”, “Numa Sala de Reboco”, “São João na Roça” e é claro “Asa Branca”.
Com legitimidade, Petrúcio Amorim, Accioly Neto e Targino Gondim também integraram o rol no segmento que, no dito “Maior São João do Mundo”, em Caruaru, faz tempo que tem perdido o palco para o eletrônico e para os sertanejos nada caipiras cujas duplas confundem aos próprios fãs, dada a semelhança das melodias e dos nomes (questionáveis).
Se vivo estivesse, neste atípico 2020, aos 108 anos Luiz Gonzaga estaria impávido, como sempre, inspirado pelas aflições às belezas do sertanejo, pelas histórias de sua gente, sem deixar escapar tradições. Neste Dia Nacional do Forró, o gênero não estaria órfão de seu maior disseminador e o fole da sanfona não teria deixado de pesar na cultura do Nordeste.
Mas o “Rei do Baião” segue como protagonista da história recente da arte brasileira, mesmo que estejamos tomados pela tal da modernidade - de gostos, sons e vitrolas digitais moderninhas. Dia desses, aliás, meu pai ganhou uma e com funções que ele chamou de “estranhas”. Testada, já rodou o mesmo LP de 1975 e que novamente vai rodar o braseiro, a fornalha e o pé de plantação perdido pela falta d’àgua do Sertão de Seu Luiz, neste domingo.