São João é cancelado em diversos municípios de Pernambuco; Recife suspende a festa
Na capital pernambucana, artistas contestam suspensão do ciclo junino e prefeito faz aceno à classe
Diante do desastre causado pelas chuvas que atingiram municípios da Região Metropolitana do Recife e Zona da Mata de Pernambuco nos últimos dias, resultando em dezenas de mortos e desabrigados, diversos municípios anunciaram, nesta segunda-feira (30), o cancelamento dos festejos juninos. Além do Recife, as cidades de Paulista, Igarassu, Paudalho, Araçoiaba e Vicência também suspenderam as celebrações.
O prefeito do Recife, João Campos (PSB), anunciou a suspensão do ciclo junino, incluindo São João e São Pedro, bem como a realocação de R$ 15 milhões previstos para essas festividades para as ações de enfrentamento às chuvas. “Nesse momento, temos 3,5 mil recifenses que estão nos nossos abrigos. A Prefeitura do Recife está suspendendo o São João, o São Pedro e os festejos juninos. Vamos incrementar o valor (que seria utilizado nas festas) para ações direcionadas para as famílias atingidas", apontou o prefeito do Recife, João Campos.
Recife sem São João
O São João do Recife não ocorre desde 2019. Nos últimos anos, a festa foi cancelada por conta da pandemia de Covid-19. Em 2022, os eventos começariam no dia 10 de junho e seguiriam até o dia 30. Estava prevista também a inauguração de um novo polo, no Recife Antigo, além das celebrações no tradicional ponto do Sítio da Trindade, em Casa Amarela, e outros descentralizados pela capital pernambucana.
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A decisão do prefeito João Campos (PSB) dividiu opiniões e foi alvo de críticas da classe artística nas redes sociais. "A Cultura precisa ser vista como é, essencial nas nossas vidas e necessária em todos os momentos, não só no entretenimento. No primeiro ano da pandemia, onde tanta gente deprimiu, a cultura foi que salvou muitas vidas através da música, dos livros, dos filmes, da dança, das artes, de modo geral. Suspender o São João, sobretudo nesse momento de retomada das atividades culturais de forma presencial, é tirar a esperança de quem vive de e para a cultura”, diz trecho da carta aberta ao prefeito publicada pelos artistas Maciel Salú, Rute Pajeú e Danilo Caries, do Movimento Acorde Pela Música.
“O Recife tem outros orçamentos de onde pode remanejar a verba necessária para apoiar as famílias que perderam suas casas. Sobretudo, há a possibilidade de repensar também o reforço das ações de assistência social de média e alta complexidade, dando o devido cuidado e atenção à população. Suspender o São João é desesperançar. É tirar qualquer perspectiva das trabalhadoras e trabalhadores da cultura que precisam desse recurso para continuar resistindo, ou pior que isso: existindo”, contesta a carta.
Aceno aos artistas
“Nesse momento, é completamente inviável a gente fazer uma festa. A gente está falando de 37 óbitos na cidade do Recife. É uma tragédia sem precedentes. Não há nenhum clima e nenhuma condição de nós produzirmos uma festividade nesse momento. Além disso, a gente tem, sim, uma necessidade de realocação de recursos para poder cuidar da emergência que o Recife se encontra”, explicou João Campos, em seus stories do Instagram.
O prefeito do Recife, no entanto, fez um aceno aos artistas sobre uma futura reparação. “Eu queria deixar aqui de maneira muito clara, muito nítida, nossa total solidariedade às pessoas que fazem a cultura do Recife, que fazem o ciclo junino. A gente deixa também aqui o nosso compromisso: no verão, no segundo semestre, com a cidade sendo restabelecida, a gente vai dar todo o suporte e vai fazer a valorização e fazer um ciclo favorecendo todos os artistas e todo mundo que faz a cultura da cadeia produtiva do São João no ciclo Junino”, garantiu.
“A gente já demonstrou isso quando rodou vários editais de fomento, quando a vários auxílios de Carnaval e São João anteriores. Mas, nesse momento, a gente pede a compreensão de que o nosso esforço máximo tem que ser preservar vidas e para poder atender aos recifenses que tiveram as suas vidas impactadas”, reforçou o gestor municipal.
Paulista, Petrolina, Santa Cruz e Caruaru
"Diante de tanto sofrimento, dos morros, dos locais alagados, nós precisamos cuidar das pessoas. Estamos preparados para fazer um grande mutirão em defesa da vida", disse Yves Ribeiro, prefeito do Paulista. Os municípios de Petrolina e Santa Cruz do Capibaribe, que tinham anunciado recentemente o calendário dos festejos juninos, permanecem com a programação. Caruaru, embora tenha cancelado a coletiva de imprensa para repassar as informações sobre a festa, também continua com o evento confirmado.