Segue o baile: Shevchenko conta sua história e celebra nova fase da carreira, em voo solo
Após a partida precoce do seu parceiro Elloco, artista retorna aos palcos com shows em São Paulo (Cine Joia) e no Rio de Janeiro (Fundição progresso), neste final de semana
Para quem nasce na favela, a luta é sempre maior. E se essa pessoa resolve ser artista, a dificuldade aumenta ainda mais. Antes de se tornar Shevchenko, Robson de Oliveira Rodrigues, hoje com 37 anos, tinha tudo para ser mais um número de estatística entre jovens da periferia sem oportunidade que acabam no crime e morrendo cedo demais.
Mas ele decidiu mudar seu próprio destino. Se tornou um dos pioneiros do movimento brega funk do Recife, emplacou sucessos no Brasil e no mundo e, agora, após a partida precoce do seu parceiro Elloco, celebra nova fase da carreira, em voo solo, retornando aos palcos com show no Rio de Janeiro (Fundição Progresso), neste final de semana, inaugurando a turnê nacional.
Perdas e batalhas
Shevchenko nasceu no Mercado Velho, na Campina do Barreto. Mas ao ficar órfão ainda criança, precisou ir morar com o avô, na favela do Canal, no Arruda.“A minha infância foi sempre de luta, né velho? E começou a ficar complicada depois da perda da minha mãe. Com 13 anos eu perdi minha mãe e meu pai. Então foi muito difícil suportar, foi muita dificuldade que eu passei, mas depois eu passei a ser criado pelo meu avô”, relembra.
O bairro do Arruda, então, virou seu lugar e lá ele aprendeu a se virar. “A realidade da favela é tudo difícil, velho. Na favela tem várias opções para você não correr atrás de seus sonhos. Porque tem muita coisa fácil, e o que é fácil você sabe que não serve, né, velho? A favela é uma realidade muito nua e crua. Então, foi difícil, foi difícil mesmo a minha infância”. E a música foi a arma encontrada para mudar esse retrato na vida do artista.
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Baile e inspiração
O bregafunk surgiu da mistura do brega recifense e a explosão de bailes funks nas periferias. Em meados dos anos 1980, quando a Milkshake, Mastermix e DJs como Ricardinho e Ivanildo, entre outros, faziam sucesso na capital pernambucana, até o início dos anos 2000, além dos DJs e equipes de som, esses bailes passaram a abrir espaços para concursos de MCs locais. Foi aí que desabrocharam os primeiros Mestres de Cerimônia da cidade, que eram representantes de seus bairros e as brigas eram frequentes.
“Meu primeiro contato com a música eu gostava de pichar, eu era da pichação, do piche. Teve certo dia que eu fui pra um baile funk junto com a rapaziada da minha favela do Canal e nessa coisa de ir pro baile, no meio do caminho a rapaziada disse ‘Shev, você não vai para brigar não, você vai para ser o cantor, o representante do nosso bonde. Aí foi a primeira vez que eu fui representante da minha favela”, conta o artista.
O brega funk
No final dos anos 2000, o mercado mudou com as redes sociais na produção fonográfica e isso acabou atingindo também o brega, que se fundiu com a swingueira e com o próprio funk, dando origem a um novo subgênero: o brega funk. Ao lado do seu parceiro Elloco, Shevchenko foi um dos pioneiros desse movimento, entre artistas como MC Troinha, Sheldon, Vertinho, Reino, Dadá e Metal e Cego.
“Ninguém Fica Parado (Chapuletei)” é a música que Shev considera divisora de águas de sua carreira. “Mudou totalmente a minha vida”, lembra artista. A canção teve repercussão mundial entre jogadores de futebol e famosos, que levaram o hit ao sucesso. No perfil oficial do artista no Youtube, com uma base de 721 mil inscritos, muitos outros hits como a faixa “20 de Cada” - com quase meio milhão de visualizações - e “Baile da Colômbia”, com 132 mil views.
Através da música, a realidade do artista foi transformada. “Só de eu ter uma uma casinha hoje para poder dormir foi uma das maiores conquistas que a música proporcionou para mim, tá ligado? Então, a música mudou minha vida graças a Deus. Depois que minhas músicas foram sucesso, conheci vários lugares que eu nunca imaginava chegar e eu consegui. Por isso que eu digo sempre e continuo dizendo: nunca desista de seu sonho, seja no futebol ou na música, que uma hora vai dar certo. Basta estar focado e correndo atrás do sonho, porque no começo nunca vai ser fácil. Mas também quando sua vitória chega, ela traz suas conquistas”, comemora Shev.