Selton Mello sobre "O Auto da Compadecida 2": "É uma celebração, mais do que uma continuação"
Filme estreia no dia 25 de dezembro e traz de volta o ator na pele de Chicó
“O Auto da Compadecida 2” trouxe para Selton Mello a oportunidade de reviver um dos personagens que o projetou como um dos mais reconhecidos atores do cinema nacional. A partir de 25 de dezembro, quando o filme estreia nos cinemas, ele voltará a ser visto pelo público na pele do mentiroso Chicó.
Inspirado nos personagens de Ariano Suassuna, o longa traz um enredo inédito para o universo da mítica Taperoá. A direção é novamente assinada por Guel Arraes, que divide o posto com Flávia Lacerda.
Em entrevista à Folha de Pernambuco, Selton Mello falou sobre a experiência de dar sequência a uma história tão popular entre os brasileiros. “É uma celebração, mais do que uma continuação”.
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Confira a entrevista com Selton Mello:
Como foi reencontrar esse personagem após 25 anos? Houve alguma dificuldade?
Não, nenhuma. O Chicó é um anjo da guarda. É o meu personagem mais popular. Depois de um tempo, eu passei a ser expectador desse filme, assim como todo brasileiro. Assisti a ele também centenas de vezes. Atuar para mim é uma coisa leve, uma brincadeira. É isso que eu trago de mais valioso da minha história, de ter começado como ator mirim. Estou comemorando 40 anos de carreira esse ano, lancei até um livro, chamado "Eu Me Lembro". Essa coisa lúdica vem muito do Seltinho ator.
E como foi poder repetir a dobradinha com Matheus Nachtergaele?
Isso aí eu acho que é uma coisa mágica, que não se explica. Realmente, parece que a gente nasceu para fazer esses personagens e para ser uma dupla. Preservamos muito essa dupla também. A gente não fez outras coisas juntos. Fizemos até um filme aqui, uma minissérie, mas os personagens não se cruzavam. Mantivemos intactas no imaginário popular essas figuras como uma dupla e isso é maravilhoso.
O que mudou no Chicó de um filme para o outro?
A essência dele é a mesmíssima, porque, na verdade, é um palhaço, um arquétipo, e arquétipos não têm idade. Então, ele envelheceu, amadureceu, o tempo passou, mas na essência segue o mesmo. Ele é frouxo, tem medo dos poderosos, tem uma imaginação fértil e continua contando aquelas mentiras extraordinárias. Só que agora ele evoluiu para ser também um poeta, um contador de causos de cordel. Achei bonita essa transição que fizeram. Olho e acredito que poderia ter sido mesmo esse o caminho do Chicó. Foram muito honestas as decisões dramatúrgicas.
Ao longo desses 25 anos, “O Alto da Compadecida” se tornou o filme favorito de muita gente. O que você pensa desse carinho todo pela obra? Uma coisa linda. É uma benção na minha vida e na do Matheus. Fomos morar no coração dos brasileiros quando fizemos esse trabalho e não saímos de lá. Durante esses 25 anos, em todo lugar do Brasil inteiro que eu ia, as pessoas perguntavam do Chicó, falavam "não sei, só sei que foi assim" ou me contavam alguma história como se fosse uma mentira do Chicó. É bem impressionante.
E o que a expectativa desse público em torno da sequência gerou em você? É natural de todo o trabalho. Deste mais, porque estamos falando de um clássico. Mas a gente não quis fazer nada que fosse melhor. Seria muito audacioso isso. O primeiro é um clássico, continuará sendo e vai ser revisto a vida inteira. O segundo é um presente que a gente está oferecendo. É tipo uma viagem, assim: “ó, entra nesse ônibus aqui e vem passear com esses personagens 25 anos depois, dar uma volta com eles aqui, ver uma paisagens bonitas, dar uma risada no caminho e voltar para casa”. É uma celebração, mais do que uma continuação.
No novo filme, você contracena bastante com a Fabíula Nascimento. Como foi trabalhar com ela?
Eu adoro a Fabíula. Acho uma atriz extraordinária. Já a dirigi no "Sessão de Terapia" e a trouxe para essa trupe. Ela é espetacular, muito solar, uma pessoa também legal de conviver. Fabíula faz a Clarabela, que é um dos personagens mais clássicos do Suassuna. Aí eles bolaram esse triângulo amoroso, que ficou uma graça, muito legal, divertido e gostoso de ver. O Luís Miranda arrebenta também fazendo o Antônio do Amor. Então, são novos integrantes da trupe que a gente espera que o público receba tão bem quanto foi um dia com Denise Fraga, Diogo Vilela, Lima Duarte. Todos extraordinários.
Depois de “O Auto da Compadecida”, sua carreira tomou novos rumos. Como a experiência acumulada em duas décadas refletiu na hora de voltar a esse universo?
Um homem versus um menino. Eu tinha só 25 anos quando fiz o primeiro "Auto". Era um garoto, totalmente seguro e fã do Guel [Arraes, diretor do filme], querendo trabalhar com ele. Agora, 25 anos depois, virei diretor também, assim como Matheus. Tivemos muito mais para oferecer. Participamos bastante criativamente nas falas, no roteiro, na linguagem. Eu tenho muita propriedade sobre o personagem, mais do que quem escreve. Quando a gente faz, a gente vive ele. Então, tem várias falas e coisas do filme dois que eu pus no roteiro também.
Há chances de outras sequências de “O Auto da Compadecida” surgirem?
Sinceramente, a gente não falou sobre fazer mais do que isso. Eu brinco assim: assiste agora, aproveita a viagem, aproveita para poder reencontrar esses dois, porque, se bobear, agora só daqui a 25 anos de novo, com a gente velho. O que também seria uma coisa legal. Imagina no "O Auto da Compadecida 3" a gente com 75 ou 80 anos, talvez, com netos e eles fazendo as loucurinhas. A gente em uma cadeira de balanço, contando as histórias.
Se você pudesse fazer novamente qualquer outro personagem da sua carreira, qual seria?
Ah, o Leléu. Eu amo "Lisbela e o Prisioneiro". É, talvez, o meu filme preferido dos que eu fiz.