Sérgio Lemos celebra mais de 55 anos dedicados à pintura; conheça o trabalho do artista
Pernambucano, Sergio Lemos inspirou Alceu Valença em "Morena Tropicana", a partir de uma de suas obras
Uma visita ao apartamento - e também ateliê - de Sérgio Lemos na Zona Norte do Recife, nos permite uma espécie de passeio pelos mais de 55 anos de carreira deste pernambucano. Fixadas nas paredes ou expostas em cima de móveis estão obras das mais diversas fases do artista visual de 73 anos de idade, que dão uma ideia - ainda que resumida - de sua capacidade criativa.
Frutas que inspiram
Formado na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no final dos anos 1960, Sérgio tem expressado em sua pintura os mais diversos temas. Cenas prosaicas enchem as telas em profusão de cores e formas. É o caso da série com frutas tropicais, que inspirou Alceu Valença a compor a música “Morena Tropicana”.
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Esses quadros compõem, junto com outras representações de arranjos de flores, paisagens e mesas de refeições, por exemplo, o que o artista gosta de classificar como "natureza silenciosa”, já que a palavra “morta” em nada combina com o teor da sua obra.
Sejam as frutas, os papangus do Carnaval de Bezerros ou a nudez humana, um tema nunca está esgotado para Sérgio. “Às vezes, vem uma proposta nova com aquele mesmo tema que comecei há anos. Então, por que não retomar, se a ideia é boa?”, questiona o artista, em entrevista à Folha de Pernambuco.
As obras de Sérgio estão espalhadas por países como Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Suécia, Espanha, Portugal, México, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Colômbia, tanto em acervos particulares como em museus. Se for para citar um trabalho favorito, o artista prefere se abster da escolha.
“É como um filho. A gente não pode dizer que gosta mais de um, para o outro não ficar com raiva. Aliás, quando você se entrega a um trabalho, faz isso com toda a alma, dando tudo aquilo que há dentro de você. Todos eles [os quadros] têm uma personalidade muito própria, que vem do momento, da hora. Acho todos eles muito especiais”, defende.
Agitador cultural
Além da trajetória artística, Sérgio atuou por muitos anos como um ativo agitador cultural, promovendo exposições, festivais e outros eventos em Pernambuco.
Ele foi um dos idealizadores da Associação de Artistas Plásticos Profissionais de Pernambuco, que conseguiu, entre outras coisas, a aprovação da lei municipal que tornou obrigatória a presença de obras de arte em edificações do Recife.
Sentindo falta de um maior engajamento da classe artística, Sérgio se uniu a outros dois artistas - Ana Veloso e Roberto Botelho - em um movimento batizado como “Nós por Nós”.
“Estamos nos articulando em reuniões para chamar novos artistas que queiram compor um grupo para começarmos a reivindicar os nossos direitos como artistas, já que a associação não existe mais”, explica.
Biografia e retrospectiva
Com uma trajetória extensa e multifacetada, é natural que a história de Sérgio seja contada por meio de uma biografia. O trabalho vem sendo escrito pela historiadora Valda Colares.
A produtora Leila Ataíde, que é também esposa do artista, vem tentando viabilizar a publicação, que pode chegar ao público até o final deste ano, junto com uma exposição retrospectiva.
Enquanto os projetos comemorativos não saem do papel, Sérgio não para de produzir. Sua mente, agora, está focada em uma mostra que dividirá com outros artistas no Museu Murillo La Greca, ainda sem data confirmada.
Para isso, tem trabalhado em obras que homenageiam o pintor holandês Piet Mondrian, utilizando materiais recicláveis como superfícies. Outro desafio em mente é a construção de um painel em grandes proporções, nomeado como“Il gran finale”, sobre os atuais conflitos bélicos no mundo.