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Entrevista

Sérgio Lemos reflete sobre seus 60 anos de pintura: "A arte é sempre uma batalha"

Pintor pernambucano realizará exposição na Bienal de Arte de Gaia, em Portugal, a partir de 30 de abril

Sérgio Lemos, pintor pernambucanoSérgio Lemos, pintor pernambucano - Foto: Arthur Botelho/Folha de Pernambuco

No auge dos seus 75 anos de vida e seis décadas de carreira, Sérgio Lemos coleciona experiências que servem de aprendizado para qualquer jovem artista. Embora não deixe de revisitar o passado, o pintor não permaneceu estático no tempo, sempre ativo em sua criatividade, que pulsa no ritmo frenético dos papangus de Bezerros ou na intensidade de cores das frutas tropicais, temas frequentes de suas obras.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Sérgio participa da sexta edição da Bienal de Arte de Gaia, em Portugal, sendo o único artista convidado da América do Sul. Sua exposição será aberta ao público no dia 30 de abril, na cidade de Vila Nova de Gaia, e depois circulará por outros lugares da Europa. 

Antes de embarcar para a Europa, o pintor integra a exposição coletiva “Coração Nordestino”, aberta às visitações desta sexta-feira (28) até 30 de maio, no Compaz Ariano Suassuna, no bairro da Caxangá. Em entrevista à Folha de Pernambuco, Sérgio falou sobre o mercado de arte, sua relação com Portugal e o exercício da pintura. 

Confira a entrevista com Sérgio Lemos:

Não é a primeira vez que você expõe em Portugal. De onde vem essa relação com o país?

Começou quando fui estudar em Portugal [nos anos 1970]. Cheguei como exilado, por conta da ditadura militar, e conheci verdadeiros mestres da pintura portuguesa, como Júlio Resende, Júlio Pomar, António Mendes da Silva, Zulmiro de Carvalho e outros grandes artistas. Fiz minha primeira exposição por lá na galeria do jornal O Primeiro de Janeiro e, desde então, tenho sido convidado para voltar ao país com os meus trabalhos.

Quais inspirações e temáticas povoam a sua mente neste momento?
De repente, surge uma ideia nova. Pode ser a hora que for, venho, faço um rabisco e, no outro dia, desenvolvo o trabalho. Estou retomando três temas. Um é a série “Voyeur” [composta por nus artísticos]. Há também as “Naturezas Vivas” - costumam chamar de natureza morta, mas acho esse nome pouco poético. Além disso, continuo com os papangus [inspirado no personagem do carnaval de Bezerros]. 
 

Recife viveu um boom de galerias de arte nos últimos anos. Isso significa que o mercado de arte está aquecido?
Não acredito. O Brasil ainda está se recuperando da pandemia e da destruição que o governo passado promoveu. O que acontece também é que os jovens não têm mais a cultura que tínhamos antigamente. Eles se preocupam mais em terem um carrão ou roupas de grife do que um acervo de arte, que é um investimento muito grande. Quando viajo à Europa, vejo os mais jovens comprando arte, visitando as galerias e museus. Espero que um dia isso também seja comum no Brasil.

O que um pintor precisa ter para além do talento e da técnica?
Para pintura você também tem que a literatura, a música, o cinema. Isso é fundamental. Ser artista não é só chegar e pintar. Tem que ter um grande conhecimento para que ele possa desenvolver a mente com seu potencial criativo. Sem isso, infelizmente, você termina repetindo a mesma coisa e fica pelo meio do caminho. É muito árduo. Eu tenho 60 anos de pintura e estou sempre lutando. Não pense que as coisas são fáceis para mim. A arte é sempre uma batalha, todas elas.

Qual conselho você daria para quem está ingressando na pintura agora?
Primeiro, para você pintar uma coisa, não é preciso copiá-la. Você tem que pintar. Copiar é um erro, porque a natureza não se copia. Acho que ele deveria fazer um estudo para aprender anatomia e, depois, pintar o que quiser. 

Seu ateliê tem uma vista privilegiada para o Morro da Conceição. Essa paisagem também te inspira?
Sem dúvidas. O povo é quem faz a arte. Isso é fundamental. Você quer conhecer um povo? Conheça a arte dele primeiro. Ela vai te dizer tudo sobre esse povo. E essa vizinhança é uma maravilha. Têm as rodas de samba, frevo, os recitais que eles fazem, e eu ouço tudo daqui. Uma coisa maravilhosa.
 

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