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Série "Pra sempre Paquitas" aborda "abusos morais, gordofobia e falta de diversidade", diz Catuxa

Assistentes de palco de Xuxa são tema de produção do Globoplay, que estreia na segunda-feira, dia 16

Xuxa com paquitasXuxa com paquitas - Foto: X/Reprodução

A atriz e apresentadora Andrea Veiga teve a sensação de que fazia aniversário na noite da última terça-feira (9). E não deixava de ser. Há 40 anos, ela apareceu na TV como a primeira paquita da Xuxa — e é justamente a história dela e de outras tantas que foi celebrada naquela noite, com a pré-estreia da série documental “Pra sempre paquitas”, no catálogo do Globoplay a partir da próxima segunda-feira (16).

Assistentes da apresentadora, as paquitas foram um “produto” artístico independente de Xuxa e um dos símbolos midiáticos mais fortes dos anos 1980 e 1990, com suas roupas de “soldadinho de chumbo”, um pedido da apresentadora. As meninas gravaram discos, estrelaram filmes (“Sonho de verão” foi um dos maiores sucessos do cinema no início dos anos 1990), lotaram shows e definiram um ideal estético hoje bastante discutido à luz da diversidade brasileira.

 

— No início, éramos crianças que estávamos ali no palco ajudando a Xuxa — disse Andrea ao Globo antes da pré-estreia. — Depois, o negócio foi virando uma profissão.

Tatiana Maranhão, a Paquitita — que idealizou a série juntamente com Ana Paula Guimarães, a Catuxa —, também viveu a transição da era da inocência para, digamos, maturidade.

— Entrei no final de 1987 porque queria estar ao lado da Xuxa e daquela nave naquele universo — disse Tatiana, no posto até 1990. — De repente, em 1989, nós cantamos “É tão bom” no aniversário de três anos do “Xou da Xuxa”, uma chave virou. Ganhamos protagonismo.

Nos cinco episódios da série, de uma hora de duração cada, a ideia é justamente contar como elas cresceram, apareceram e se profissionalizaram. E ajudar a levantar diversos debates. Foram ouvidas, ao todo, 27 das 29 paquitas que trabalharam com Xuxa de 1984 a 2002.

— A série passa pelos abusos morais, pela gordofobia, pela falta de diversidade. São assuntos muito importantes de falar — disse Ana Paula Guimarães, no palco de 1987 a 1989.

Sonho de menina
Desde a estreia da apresentadora no “Clube da criança”, na TV Manchete, em 1984, até 2002, ser branca, loura e magra era o resumo das características inegociáveis para ocupar o posto de paquita. “Nós éramos a branquitude brasileira”, diz Lana Rhodes, da fase 2000, num dos episódios, ao ressaltar a falta de representatividade do elenco. No programa “Altas horas” do último sábado (7), em homenagem à produção do Globoplay, esse assunto foi trazido à tona pela cantora Negra Li. “Quis muito ser paquita, mas não tinha como, porque eu não era branca, não era loira”, disse ela.

Estas diretrizes não somente impactaram sonhos de meninas do Brasil inteiro, como tinham efeitos naquelas que conseguiram entrar no exclusivíssimo círculo. Marlene Mattos, empresária de Xuxa e diretora dos programas de TV, costumava dizer, segundo relatos, que “ninguém era insubstituível”, o que, para elas, alimentava um clima de pressão e competição nas meninas em formação. Ainda no doc, Tatiana Maranhão conta casos de gordofobia, enquanto Stephanie Lourenço aborda homofobia.

Xuxa tem noção de que poderia ter ajudado as garotas do palco e as que sonhavam estar nele e, no “Alta horas”, demonstrou isso. Pediu desculpas por nunca ter efetivado Adriana Bombom como paquita, apesar de a assistente ter trabalhado como tal. “Me arrependo de não ter pisado forte e ter dito que eu queria uma Bombom como paquita. Me desculpa”, disse no programa de Serginho Groisman. Mas, na pré-estreia da série, Xuxa mencionou ao GLOBO as pressões a que era submetida também.

— Para fazer diferente com elas, eu teria que fazer diferente comigo também — disse. — Deixei que as pessoas mandassem e comandassem muito a minha vida. E, junto comigo, estavam elas, as paquitas. Teria que ter tido um olhar mais atencioso comigo, ter buscado uma força maior, que só aconteceu depois que Sasha nasceu, para chegar e dizer: “Não faça isso com elas.”

Nenhuma mágoa, no entanto, parece ter sobrado.

— O que a gente sofreu, a Xuxa sofreu em dobro, ao quadrado — disse Ana Paula. — Os momentos duros eram nos bastidores. Ali, sim, aconteceram algumas coisas que não eram nada agradáveis, e a gente engoliu aqueles sapos.

Erros e acertos à parte, Xuxa sabe que seu estrondoso sucesso foi viabilizado por causa da dedicação das meninas. As da primeira geração (Andrea Veiga, Louise Wischermann, Ana Paula Guimarães e Andréa Faria) contam que, no início da carreira da artista, vendiam camisetas nos estádios dos shows e enchiam bolas para compor os mambembes cenários.

— Não existiria Xuxa sem paquitas. Estou num lugar bacana, sem dúvida nenhuma, por causa delas — disse Xuxa. — Uma vez, eu estava desfilando, e uma pessoa subiu na passarela para me agarrar. Essa aqui (Andrea Veiga) foi para cima (risos).

Ausências
Das 29 paquitas, apenas duas não quiseram dar depoimentos para a série: Vanessa Melo e Diane Dantas, ambas da época “New generation”, entre 1995 e 1999.

—Elas não têm nem rede social — diz Tatiana Maranhão. — Mas temos uma relação muito legal. Mandamos mensagem para elas, que foram superamorosas. Desejaram toda a sorte do mundo, só não querem mais a exposição.

A expectativa dos fãs era se Andréa Faria, a Sorvetão, participaria da produção, já que ela e Xuxa se afastaram por causa de posicionamentos políticos divergentes.

— Foi uma linda participação (de Andréa)— disse Xuxa.

Ana Paula Guimarães complementou:

—A série documental é sobre esse personagem que Xuxa criou e nós estamos humanizando. Não é sobre uma pessoa, sobre a Ana Paula, sobre a Tatiana.

Nem sobre Luciana Vendramini, a mais famosa “não paquita” do Brasil. Mas ela teve um espaço considerável no primeiro episódio, principalmente porque a produção quis esclarecer que a atriz não pertenceu ao elenco. Ela apenas fez testes no “Xou da Xuxa” para ocupar o posto de Catuxa, que, na época, ficou com Ana Paula Guimarães. “Pra sempre paquitas” mostra como o fato de Luciana ter posado nua para uma revista masculina em 1987 — usando, na capa, a roupa característica do grupo — ajudou a incutir, no imaginário popular, uma imagem sexualizada das meninas. Luciana não quis dar depoimento para a série.

Além do ineditismo dos depoimentos de “Pra sempre paquitas”, a trilha sonora tem uma composição completamente nova, interpretada por Andrea Veiga, Tatiana Maranhão, Andressa Cruz e Lana Rhones. A canção, que leva o nome da série, foi feita pelo cantor e ator Junno Andrade, companheiro de Xuxa, e tem os versos “fecha os olhos e deixa aquele tempo voltar/ dinda, dindinha, fada madrinha”.

— Para fazer a música, a gente tentou imaginar, entrar mesmo na memória afetiva (das paquitas)— disse Junno, que também esteve na pré-estreia. — O que podia se passar na cabeça daquelas meninas de 10, 11 e 12 anos? Acho que elas viam um mundo encantado.

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