Sidney Rocha encerra trilogia Cromane com o romance "Flashes"
Após uma década, produção do escritor cearense culmina em mais um romance cuja inspiração se volta à sua própria imaginação
“Sempre sou uma lâmina. Escrevo com estilete e faca de ponta”. Em uma interpretação livre, significa dizer que Sidney Rocha é adepto das linhas intermináveis e do que é duradouro e não comporta finitudes. É escritor por natureza, do tipo que não depende de realidades exteriores para se inspirar.
Tem sido assim amiúde, em uma trajetória levada principalmente pelos romances e, mais especificamente pelo mais recente “Flashes”, que junto a “Fernanflor” (2015) e “A Estética da Indiferença” (2018) integra a trilogia “Cromane”, todos publicados pela editora paulista Iluminuras.
“Eles formam uma obra única, embora com leituras distintas e independentes. Meu trabalho foi alterar os estados dessa ‘água’: de condensar, sublimar, congelar, liquefazer, fazer evaporar. Construir essa atmosfera, desse lugar paradisíaco e infernal que é "Cromane", onde tudo ou quase tudo se passa”, ressalta o escritor cearense, radicado pernambucano.
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Em sintonia com o seu processo criativo, tal qual os demais romances da trilogia, “Flashes” pulveriza no leitor a essência de Sidney Rocha, à medida em que sua escrita dispensa preocupação com razão e/ou emoção e se molda ao bel prazer de quem o consome.
“Creio que um romance encontra sempre seu leitor e um autor não deve partir de um pré-julgamento nem dos seus personagens, nem do seu público. As únicas concessões do autor têm a ver com seu próprio inferno. Não o dos outros. Portanto, não pratico romantismos. Só escrevo romances”, esclarece.
Não adepto de noticiários, cinema e do que ele chama “netflixes”, como contista e romancista Sidney considera que “não houve tempo mais difícil para se escrever” como o atual. Devoto de sua própria imaginação, é a ela que se entrega quando se volta à arte da escrita.
“Minhas fontes, para minha ficção, são inesgotáveis por conta da minha imaginação. Pouco me informo da realidade quando escrevo. Sou um sujeito bastante contaminado por mim mesmo”, revela.
Por mais de uma década debruçado sobre a trilogia – Sidney Rocha também é autor de “Matriuska” (contos, 2009), “O Destino das Metáforas” (2011) – que lhe rendeu o Prêmio Jabuti e com “Sofia” (2014) o Prêmio Osman Lins, além de “Guerra de Ninguém” (contos, 2016) – é com "Cromane" que ele se atém ao propósito de “abduzir pessoas”.
"Mais de dez anos de trabalho. Talvez mais, talvez o(s( romance(s) já estivesse(m) comigo desde que iniciei minha trajetória. A trilogia, se comunica diretamente com todo meu universo criativo, com meus contos, onde tudo é linguagem. O tempo que se leva escrevendo não quer dizer nada, mais importante será o tempo em que leitores permaneçam sob essa atmosfera", pontua.
Sidney confessa que ao se deparar com todos os exemplares sobre a mesa, ainda vê "a névoa que compõe a trilogia", mas ao mesmo tempo consegue vislumbrar também que são os personagens quem mantém tudo de pé.
"Porque são vivos, com os mesmos dilemas dos nossos, alguns disfarçando melhor ou pior suas fraquezas, decepções e desejos. Eles querem a felicidade, a fama, a beleza, a potência, querem ser amados. Querem a mesa posta, a conta paga, a vida como um acerto de contas nunca no vermelho. A vida-flash. Eterna. E quem não quer?”, retruca o ficcionista