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Sidney Rocha fala sobre "O Inferno das Repetições", seu novo livro: "meu romance mais 'mental'"

Em entrevista, autor falou sobre a obra, que será lançado em evento no Mepe, nesta terça-feira (10)

Sidney Rocha lança O Inferno das Repetições no MepeSidney Rocha lança O Inferno das Repetições no Mepe - Foto: Leopoldo Conrado Nunes/DIvulgação

O novo livro de Sidney Rocha, premiado escritor cearense radicado no Recife, está prestes a chegar ao público. Após encerrar um ciclo de dez anos que envolveu a trilogia “Cromane”, o autor lança seu sexto romance, intitulado “O Inferno das Repetições” (Iluminuras, 230 páginas), em evento marcado para esta terça-feira (10), às 19h, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe).

A publicação, que mantém a linguagem apurada e a ironia sempre presente na obra do escritor, traz a história de Omar, um homem que precisa lidar com a perda de memória e a infalível ação do tempo em sua vida. Em entrevista à Folha de Pernambuco, Sidney falou sobre a concepção do livro e os seus múltiplos significados: “prefiro deixar ao leitor a tarefa ou o prazer de encontrá-los ou de inventá-los”. 

Criação
Não houve propriamente um “pontapé”. Mesmo no caso dos romances tradicionais com os tais começo, meio e fim, e nunca me ocupei de escrevê-los, não creio num “início”, em um pretexto. Isto seria pôr em relevo exagerado os processos conscientes do pensamento. Falo dos mecanismos da consciência, mas, talvez, Omar e outros, no romance, estejam bem presos a outros comportamentos, inconscientes, ou um tipo de lucidez como recordação, resistência, e atuação, bastante atuação. Creio que certos padrões que tenha observado aqui ou ali podem ter sido um ponto de partida, mas isso serve muito pouco para descrever o modo ou o método. Acho que um romance se escreve dentro do espírito do escritor, e está aí latente, talvez por toda a vida, quer ele saiba ou não. Um ou muitos virarão histórias concretas, outros continuarão adormecidos. Mas, de um jeito ou de outro, o “pontapé” é sempre uma espécie de continuação.

Comparando
Diria que esse é o meu romance mais “mental”, embora todos os demais também o sejam, desde “Sofia” cuja “ventania para dentro” explicita o pensamento, a reflexão, o sentimento. Em “O inferno das repetições”, não se trata de método em nada similar aos anteriores, porque, embora a narrativa ocorra dentro do “ser” é para o exterior que ela se volta, isto significa: menos para as causas e mais para as consequências da fragilidade humana, especialmente no que a quase todas as pessoas parece – e é – o seu maior bem: a consciência.

Representações
É possível que o leitor encontre nesse inferno vários tipos de fragilidade, não somente a humana, como falei antes, mas a fragilidade da política, da biologia, um tipo de precariedade que faz parte das relações, e que, paradoxalmente, tenhamos de admitir ser a grande característica da condição humana: a falência. Mas isso é o que penso, e deve servir pouco para o leitor. Nunca penso nisso ao escrever: sobre o que significa ou representa um romance e os seus personagens. Sobre as metáforas, já me referi ao que significa o seu destino, num livro de contos. Sobre a representação como vida e a vida como representação já tratei em “Fernanflor” e em “A estética da indiferença”, mas sobre o que significa ou representa “O inferno das repetições” prefiro deixar ao leitor a tarefa ou o prazer de encontrá-los ou de inventá-los.

Temas
Recentemente, a psiquiatra e psicanalista Suzana Boxwell fez uma anamnese clínica completa de Omar, o narrador em “O inferno das repetições”, para o Suplemento Pernambuco. Quem vem lendo o livro, vem apontando para um outro “tema” (políticos, geracionais) mas não escrevo teses. Já há escritores com muitas ideias e não quero vender nada em um romance senão a vida ela-mesma. Se consigo, ótimo. Mas muitos têm devotado interesse por isso, a questão da memória, do esquecimento, do trauma. Médicos têm falado do livro associado às questões dos transtornos fatais da memória. Naturalmente, porque tudo gira em torno da imaginação e da memória, nesse romance (e isso serve como regra para os bons romances, penso). Talvez Omar e os seus companheiros de infortúnio que se multiplicam ano após ano no mundo saibam responder melhor, porque cresce o tempo da vida humana, e ninguém ainda aprendeu a manter a saúde e a juventude indefinidamente. Independentemente do que acho ou espero, “O inferno das repetições” talvez seja a autobiografia de milhões que sofrem com esses problemas. Você deve conhecer alguém assim: esses que já não sabem onde estão, quem são ou com quem estão, eles que têm de vivenciar sua própria impotência diante dos mecanismos da vida e da morte.

Serviço:
Lançamento do romance “O Inferno das Repetições” (Iluminuras, 230 páginas), de Sidney Rocha 
Nesta terça-feira (10), às 19h
No Museu do Estado de Pernambuco (Avenida Rui Barbosa, 960, Graças)
Preço do livro: R$ 98
 

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