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Música

Tássia Reis: 'Quero ser protagonista, quero artistas pretas no mainstream'

Tássia Reis em "Próspera"Tássia Reis em "Próspera" - Foto: Caroline Lima/Divulgação

"Quero mais visibilidade e reconhecimento para mim e para tantas artistas incríveis que o nosso País tem. Quero ser protagonista, quero artistas pretas no mainstream". A rapper paulista Tássia Reis, de 30 anos, não pode ser resumida em poucas palavras. Em seis anos de trabalho, desde a apresentação do primeiro EP, em 2014, a artista se tornou um dos nomes mais importantes para o rap nacional. No seu último disco, “Próspera”, lançado em 2019, ela apresenta uma narrativa em torno da construção de um futuro em que ela protagoniza e constrói camadas otimistas nas suas vivências enquanto mulher negra.


Otimista não é a palavra que ela gosta de carregar em torno do trabalho. Nem mesmo enxergar enquanto experiência singular. Trazer uma narrativa negra que se afasta do racismo e a violência que acomete a população também é política. Assim como é celebrar a ancestralidade, cair numa roda de samba ou ocupar espaços de poder que são negados aos afrodescendentes. “Dólar, dólar, euro, euro, euro/Eu vou fazer dinheiro com aplicações/Olha, olha, olha que maneiro, se o gueto inteiro receber milhões”, diz um dos trechos da letra de Dollar Euro, sua parceria com Monna Brutal, que ganhou clipe esteticamente luxuoso em dezembro passado.


“Talvez o assunto prosperidade soe como otimista, mas depende de como cada um enxerga. Penso mais em tomar conhecimento de si, e tentar construir um futuro melhor para si mesmo, entre nossas próprias lutas internas, desejos, ciclos. O que acaba afetando o coletivo, uma vez que nos enxergamos e nos reconhecemos, fica menos complicado tentar enxergar o outro. O ‘engraçado’ é que agora parece fazer muito mais sentido, quase uma reafirmação da necessidade de melhorarmos enquanto gente. Estamos clamando por isso e, ao mesmo tempo, tendo que lidar com a gente mesmo nesse momento de pandemia e isolamento. Crescer dói, amadurecer é revisitar feridas e tentar curá-las”, ressalta a rapper Tássia Reis, em entrevista à Folha de Pernambuco, antes de pisar no palco virtual do Festival Coquetel Molotov, no último sábado.


Se o crescimento é um processo dolorido, o seu amadurecimento profissional já colhia frutos antes mesmo de chegar ao seu terceiro álbum de estúdio. O EP homônimo, de 2014, e “Outra Esfera”, de 2016, foram trabalhos elogiados por crítica e público por mensagens politizadas em torno do racismo e feminismo. “Sinto que desde que lancei meu primeiro single, as pessoas estavam sedentas por novidades, da minha parte e também de outras artistas que vieram dessa mesma época. Fico feliz por ter o meu olhar particular de compositora, assim como a minha voz, consideradas por essas pessoas que acompanham o meu trabalho. Sinto que o que eu digo extrapola só a minha única experiência, é um relato de vida, não é exclusivo, apesar de ser particular. E fico muito honrada por isso, mas ainda acho pouco. Quero ser protagonista, quero artistas pretas no mainstream”, enfatiza.


Pandemia


Tássia tinha planejamento para viajar com sua banda para Austin, no estado americano do Texas, no conjunto de festivais de artes South by Southwest (SXSW). Os planos foram interrompidos e chegou o isolamento social, que marca outras transições na sua carreira. “Retornei com a minha loja virtual, a Xiu!. E comecei a organizar algumas coisas, lancei o videoclipe da faixa “Me Diga” que integra o meu disco “Próspera”, tenho mais um clipe a caminho. Tem muita coisa sobre esse disco que ainda gostaria de fazer, e estou reavaliando as possibilidades. Gravei mais 2 sons, e retomei um outro que estava guardado”, conta, explicando que gosta de trabalhar para ocupar a mente.


Negritude e prosperidade

De certa forma, Tássia ocupa uma corrente de artistas afrodescentes que querem mostrar ao mundo que a população negra descende de uma história rica, próspera e que também precisa de autocuidado. Essas temáticas aparecem em trabalhos internacionais, como “Everything Is Love”, em que Beyoncé e Jay-Z celebram o amor preto no Louvre - maior referência de status de poder e saque dos brancos em relação aos povos racializados - , em 2018. Ou até mesmo celebrar a afetividade, o autocuidado e o valor de existir em "AmarElo", do rapper Emicida, em um trabalho que vem desenvolvendo desde 2019. Contemporânea à Tássia, Drik Barbosa também celebra seu poder e forma de resistir no mundo no disco homônimo, também lançado no ano passado.

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