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Artes Cênicas

Teatro de Fronteira prepara espetáculo baseado em episódio de censura no FIG

Processo de montagem da peça é assunto de bate-papo, realizado pelo Zoom, nesta quinta-feira

Elenco conta com atores do Teatro de Fronteira e convidadosElenco conta com atores do Teatro de Fronteira e convidados - Foto: Divulgação

Conhecido por trabalhar com a linguagem do teatro documentário, o Teatro de Fronteira resgata os eventos envolvendo a tentativa de proibição da peça "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu" na cidade de Garanhuns, em 2018, para criar seu próximo espetáculo. O novo trabalho do grupo pernambucano, ainda em fase de montagem, será o tema de uma bate-papo marcado para amanhã, às 20h, pela plataforma de videoconferência Zoom.

A ideia do espetáculo, batizado de “O Evangelho Segundo Vera Cruz”, nasceu do envolvimento do diretor, ator e dramaturgo Rodrigo Dourado com o episódio de censura. Ao lado de outros artistas e profissionais de diversas áreas, ele participou de uma mobilização para levar o monólogo - que tem a atriz trans Renata Carvalho no papel de Cristo - ao município do Agreste de Pernambuco. Na época, a apresentação havia sido cancelada do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), após a pressão de políticos, religiosos e juristas.

“Para mim, foi um momento muito violento. Em determinado momento, parecia mesmo que a gente estava num regime ditatorial, porque teve gente infiltrada tentando espiar nossas ações e muitas ameaças on-line. Ao mesmo tempo, achava todo aquele embate, com as pessoas falando na TV e nas redes sociais, muito teatral. Era uma oportunidade rara de ver de forma aumentada as tensões da nossa sociedade”, argumenta Rodrigo, que decidiu criar uma síntese dramatúrgica do que ele havia presenciado.

Embora seja baseada na realidade, a peça faz uso da liberdade poética para ficcionalizar os fatos. A trama aborda desde o anúncio de “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu", passando por sua repercussão nos meios mais conservadores, o debate público, a apresentação do espetáculo em espaço alternativo, até chegar a um futuro imaginado pelo dramaturgo. Entre todos esses acontecimentos, há ainda a visão de dois personagens, jovens estudantes moradores da cidade, que vivem um relacionamento LGBT.

Monólogo saiu da programação do FIG em 2018 (Foto: Divulgação)

Na ambientação da história, houve a mudança de Garanhuns pela fictícia Vera Cruz. “A partir das opiniões de quem leu o texto, chegue à conclusão de que seria melhor criar um lugar imaginário. Essa censura à peça da Renata aconteceu em muitas outras cidades. Então, voltei para esse nome que foi um dos primeiros nomes do Brasil, para representar uma cidade qualquer do País, com todas as suas contradições”, explica.

O texto estava na gaveta desde 2018. Com o lançamento de um edital do Sesc Pernambuco para ações culturais durante a pandemia, o grupo resolveu iniciar a montagem. No elenco, além de Rodrigo, estão Jailton Júnior, Marconi Bispo e Rodrigo Cavalcanti, que também integram o Teatro de Fronteira. Foram convidados ainda o ator Dante Olivier e a atriz Joe Andrade, que fazem parte da comunidade trans. As reuniões estão sendo realizadas à distância. Após o encontro de amanhã, os artistas farão um ensaio aberto ao público, no dia 20, e uma leitura dramatizada, no dia 31. Posteriormente, a obra pode ser transformada em espetáculo virtual ou, quando os teatros forem finalmente reabertos, ganhar os palcos de forma presencial.

Serviço

"O Evangelho Segundo Vera Cruz - "
Nesta quinta-feira (13), às 20h, na plataforma do Zoom
Gratuito, com inscrições pelo Sympla

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