Pernambuco volta a ser um celeiro de produções para a televisão
Séries feitas no Estado estão em boa fase criativa, com cinco novas obras de ficção sendo feitas para exibição em emissoras de TV ou serviços de streaming
Graças às sucessivas safras de filmes premiados dentro e fora do Brasil, o cinema pernambucano acabou se consolidando como produto de exportação nas últimas décadas. Um caminho de sucesso que, aos poucos, diretores, produtores e roteiristas começam a repetir em outra seara: o da teledramaturgia.
Contabilizando apenas as séries de ficção, pelo menos cinco obras audiovisuais estão sendo desenvolvidas para exibição nacional em emissoras de TV aberta e por assinatura.
Leia mais: Tradição foi interrompida na teledramaturgia
A maioria destas produções é conduzida por profissionais com experiência na tela grande. É o caso da "África da Sorte", escrita e dirigida por Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira, responsáveis por filmes como "Amor, plástico e barulho" (2013) e "Praça Walt Disney" (2011).
"Nós penamos muito com o roteiro, porque é muito diferente de um longa-metragem. Todo episódio precisa ter começo, meio e fim, e ao mesmo tempo, estar conectado com os outros. Foi um desafio que gostamos de enfrentar", revela Sérgio.
Para Henrique Spencer, que divide com André Pinto a direção de "Fãtásticos", a teledramaturgia é uma linguagem que os realizadores pernambucanos ainda não dominam totalmente.
"O interesse ainda é pequeno. A prova é que na lista de candidatos do Funcultura há poucas propostas para a TV. Aos poucos, as pessoas estão enxergando que há essa outra possibilidade além do cinema", opina.
No entanto, mesmo com boa vontade por parte dos criadores, a realização desses projetos esbarra em alguns problemas. Um dos maiores é conseguir espaço para apresentar as obras.
"As grandes emissoras abertas são muito fechadas. Vender o programa pronto para os canais pagos e as plataformas de streaming também não vale à pena, porque o que eles pagam não cobre nem 10% do que foi gasto", revela Henrique.
O que tem servido de impulso para a produção local é o surgimento de editais públicos, como o programa Brasil de Todas as Telas, da Agência Nacional do Cinema (Ancine), do Ministério da Cultura. O programa seleciona em todas as regiões do Brasil propostas de conteúdos destinados às emissoras públicas nacionais.
No comando de "Os ovos da raposa", comédia contemplada pelo financiamento federal, Valdir Oliveira pondera que o incentivo público não pode limitar os produtores. "Os editais são uma grande oportunidade, mas não podemos deixar de estar atentos ao mercado. Para estarmos inseridos nele, precisamos apostar na transmidialidade, já que um produto audiovisual não é mais visto apenas na televisão", aponta.
Em andamento
Ainda sem previsão de estreia, “África da Sorte” conta com cinco episódios e se passa em um país africano fictício, chamado Aruanda, recém-saído de uma guerra civil. A atriz pernambucana Mohana Uchôa interpreta a publicitária recifense Mohana Costa, de 23 anos, que é contratada para trabalhar na campanha publicitária de uma loteria estatal.
"É uma história que fala da utilização da miséria para fins políticos. Situamos isso numa nação de passado colonial português, que é uma metáfora do Brasil", afirma o diretor. Encerradas em outubro do ano passado, as filmagens duraram quatro semanas. A maioria das cenas foi gravada em Itamaracá.
Já "Fãtásticos", que estava parada graças aos entraves na liberação de recursos do Funcultura, retoma as gravações no final de julho. A proposta dos criadores, André Pinto e Henrique Spencer, é uma antologia de contos fantásticos que se desenrolam a partir das conversas de um grupo de amigos aficionados por filmes de horror. Inicialmente, a série será transmitida pela TV Universitária, mas os diretores já pensam em negociá-la também com canais fechados e serviços de vídeo sob demanda.
Outras três séries estão sendo produzidas em solo pernambucano. "Delegado", dos cineastas Tião, Leonardo Lacca e Marcelo Lordello, mostra um jovem descobrindo a realidade de sua cidade, após ser aprovado em um concurso para delegado.
Já Hilton Lacerda, diretor do filme "Tatuagem" (2013), trabalha em "Lama dos dias", em parceria com o DJ Dolores. A trama aborda a realidade do Recife na década de 1990, quando o movimento mangue beat surgiu para o mundo. Assim como em "Fim do mundo", que foi ao ar em novembro do ano passado, a série será transmitida pelo Canal Brasil.

