Série "Lama dos Dias" cria ficção em torno do Manguebeat
Hilton Lacerda e Helder Aragão (DJ Dolores) dirigem projeto que está sendo gravado no Recife até o fim do mês
As gravações de "Lama dos Dias", série do Canal Brasil dirigida por Hilton Lacerda e Helder Aragão (DJ Dolores), estão ocorrendo ao longo de julho, em diferentes locações do Recife. O projeto, que terá sete episódios de 26 minutos, previsto para estrear entre outubro e dezembro deste ano, é a segunda série de Hilton para a emissora. "Há dois anos, fizemos 'Fim do Mundo' e a gente se propôs a trazer uma experiência cinematográfica para dentro do universo televisivo", diz Hilton.
A série se passa nos anos 1990, durante o Manguebeat, mas não pretende contar a história oficial dos integrantes do movimento ou investigar os bastidores do período - o enredo é uma ficção que se inspira no perfil cultural daquela época. "Os personagens reais existem na série, as pessoas falam os nomes deles, mas não são personagens narrativos", diz Hilton. "É uma ideia minha e de Helder: uma série que não é exatamente sobre o Manguebeat, e sim sobre de que forma um movimento cultural surge numa cidade e a modifica", explica.
No elenco, estão nomes que se destacaram no cinema pernambucano recente: Maeve Jinkings ("Aquarius", de Kleber Mendonça Filho) e Julio Machado ("Joaquim", de Marcelo Gomes). "Sou amiga de Hiltinho e Helder", diz Maeve. "Eles me mandaram uma mensagem dizendo que tinham interesse em trabalhar comigo. Não sabia o que era, mas fiquei imediatamente interessada", destaca a atriz, que interpreta a dona de uma ONG e se torna uma espécie de mãe para os jovens do Manguebeat.
"Na série, sou casada com Sérgio Tripa, personagem do Julio [Machado], que é um amigo de longa data", detalha Maeve. "Está sendo um encontro muito especial para mim. Minha estreia no teatro em São Paulo foi com Julio. A gente estudou na Escola de Artes Dramáticas, da Universidade de São Paulo (USP), por cinco anos, e nunca tinha trabalhado depois disso. Quando nos encontramos, aqui nos ensaios, morremos de chorar. Então, fazer a esposa dele não é nada difícil, já que temos uma história prévia", ressalta.
Julio entrou na série a convite do produtor João Vieira Jr., que também trabalhou na produção de "Joaquim", sobre Tiradentes. "João apresentou esse projeto e falou logo de cara de Maeve, isso me fisgou imediatamente. Depois fui conhecendo a equipe e fui me surpreendendo positivamente. Fiquei entusiasmado com o contexto da série, porque eu também de alguma maneira cresci ouvindo essas músicas, lá de longe, lá do interior de São Paulo. Isso chegava com muita força e me marcou muito", revela.
"É lindo ver que o recorte da série não pretende só fazer um passeio pela memória, aquela coisa de museu, engessada", opina Julio. "A série não pretende contar aquilo que aconteceu, mas se inspirar pelas motivações que fizeram aquilo acontecer", comenta o ator. Maeve ressalta: "A gente vive um momento político tão complicado, uma crise moral, estética, política, e a gente falando desse momento tão rico, dessa época, da década de 1990. As pessoas eram mais livres, mais criativas, menos moralistas, então é inspirador".
Saiba mais
Produção - O projeto é uma coprodução entre a Carnaval Filmes (criada por João Vieira Jr., da REC Produtores Associados), a produtora Malu Viana, pernambucana radicada em São Paulo, e a Loma Filmes. João Jr. também produziu "Fim do Mundo", no ano passado, novamente para o Canal Brasil, com direção de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda.