"Três Verões" traz Regina Casé como empregada de preso da Lava Jato
Filme de Sandra Kogut aborda os efeitos dos escândalos de corrupção em personagens que estão à margem
Quem aguarda o retorno de “Amor de Mãe” à programação da Globo poderá matar um pouco das saudades de ver Regina Casé nas telas. Depois de Lurdes e Val (de “Que horas ela volta?”), a atriz interpreta novamente uma empregada doméstica em “Três Verões”, filme de Sandra Kogut. Com lançamento adiado em função da pandemia, o longa-metragem chega amanhã às plataformas de streaming Now, Vivo Play e Oi Play, além dos canais da rede Telecine.
“A Regina é uma amiga de muitos anos. Trabalhamos juntas em um curta-metragem, em 1995, chamado ‘Lá e cá’. Desde aquela época, a gente pensa em fazer um longa. Passei um tempo morando fora e os filmes que eu fui fazendo não tinham papéis que eu achasse que seriam para ela, até que surgiu ‘Três verões’. Tratei logo de fazer o convite e a parceria deu muito certo”, comenta a diretora.
O novo longa traz Regina Casé no papel Madá, a caseira de uma mansão à beira-mar. Ela trabalha para o casal Edgar (Otávio Müller) e Marta (Gisele Fróes), que recebe na casa de veraneio amigos e parentes em festas luxuosas de final de ano. Tudo muda quando um esquema de corrupção envolvendo a família é revelado. A inspiração para o roteiro veio da operação Lava Jato, mas vista a partir de um olhar diferente.
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“Eu, como todo o Brasil, acompanhei pela mídia aqueles escândalos de corrupção, quase como uma novela. Me deu muita vontade de falar sobre esse momento, mas a minha curiosidade era com aqueles que orbitavam em volta dos ricos e poderosos. Quando a vida deles desmoronava, o que é que acontecia com essas pessoas? No noticiário elas aparecem como figurantes ou são totalmente invisíveis”, aponta.
A trama é desenvolvida ao longo de três anos (2015, 2016 e 2017), sempre retornando ao cenário do condomínio de luxo no período entre o Natal e o Ano Novo. Com o patrão preso e sem receber todos os seus direitos trabalhistas, Madá lidera os demais funcionários da casa em diferentes empreendimentos, na tentativa de conseguir alguma renda para sustentar a todos.
Sandra Kogut, diretora de "Três Verões" (Foto: Divulgação)
“Eu queria falar desse Brasil neoliberal, onde é cada um por si e salve-se quem puder. É por isso que a Madá é um personagem que está entre dois mundos. Ela é submissa aos patrões, mas também chefia os demais empregados. E vive nesse projeto de país onde todo mundo tem que ser patrão”, observa. Outro personagem central da história é Lira, patriarca da família, interpretado por Rogério Fróes. “Ele é uma espécie de reserva moral. É um professor, gosta de livros, tem valores e, assim como a Madá, também está sem lugar nesse mundo”, aponta.
“Três Verões” é um retrato do Brasil antes de 2018. De lá para cá, novos fatos acirraram as discussões sobre a legalidade da Lava Jato, mas para Sandra a abordagem do longa permanece atual. “A história do filme acaba quando está entrando o ano das eleições. Quando você olha para o filme, vê que os sinais do que estava vindo estão todos ali. Ao mesmo tempo, percebe que existe uma certa cegueira. Acho que aquele projeto de país que está descrito ali foi o que nos levou ao que estamos vivendo”, afirma.
Previsto para chegar às salas de cinema em 19 de março, a produção teve sua estreia em solo brasileiro inicialmente interrompida. Em junho, foi exibido em 91 salas na França, após a reabertura dos cinemas europeus, e já chegou a países como Espanha, Holanda, Itália e Polônia.
“Estou super feliz em poder lançar o filme, do jeito que é possível nesse momento, que é nos cinemas drive-in e no streaming. De certa maneira, o próprio longa fala disso. Quando tudo desmorona, como é que você se reinventa? É isso que estamos vivendo também”, analisa.