Troca de muros pelas telas: o grafite durante o isolamento social
Desde março, quando houve protocolos de medidas restritivas em Pernambuco, os artistas têm encontrado outras formas de desenvolver e divulgar seus trabalhos
Rua e arte se entrelaçam no processo criativo, na execução e na exposição de grafiteiros. Um dos pilares da cultura hip hop, que nasceu em Nova Iorque na década de 1970, o grafite encontra nos espaços urbanos sua essência e forma de existir. Com o avanço da pandemia do coronavírus e o isolamento social, contudo, a urbanidade passou a ocupar um campo imagético para a arte. Desde março, quando houve protocolos de medidas restritivas em Pernambuco, os artistas têm encontrado outras formas de desenvolver e divulgar seus trabalhos.
Galo de Souza, um dos representantes do grafite na Capital Pernambucana, teve sua rotina transformada com a pandemia. Trabalhos encerrados e uma rotina em quarentena permitiram que ele explorasse outras formas artísticas. “Assim que surgiu a pandemia, cancelei tudo. Eu já vinha reformando a casa que eu vivo e o ateliê, que eu ia receber o público. Estou de quarentena, tenho três filhos, sendo uma filha de um ano”, explica o artista.
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De acordo com ele, o tempo tem permitido ler mais e conversar com a família, aprofundando-se em questões atuais, como os últimos movimentos que têm surgido no País, como antifascismo e antirracismo. “Eu estou produzindo em casa, vendendo telas e sem receber visitas. O processo criativo, pelo menos, não vem sendo afetado, o que afeta mais está sendo a perda de direitos (em relação ao governo federal). O contato tem sido feito pela internet e a gente vai conversando, criando redes e protegendo a família”, afirma Galo, que está num processo de escrita de um livro.
Dos muros às telas
A troca dos muros pelas telas também tem sido uma realidade para o grafiteiro Jota Zeroff. Para amenizar as perdas, ele tem produzido as pinturas em casa. “Eu tenho experimentado a aquarela, a tinta acrílica. Mudei um pouco a linguagem do meu trabalho, mudei a aparência de alguns trabalhos e venho aprendendo técnicas novas para acrescentar ao meu currículo. Durante esse tempo, lembrei de coisas que vi no Carnaval e produzi uma série de caboclos de lança e tenho tido um retorno positivo”, enfatiza o grafiteiro, que possui uma loja no perfil @jotazer0ff do instagram.
Para a artista alagoana Yara Pão, a transição para outras formas de trabalho tem sido de forma gradativa. Ela tem recebido propostas para telas, mas com menos frequência de antes. “O que tem acontecido é que eu estou recebendo algumas propostas de pintura, mas elas estão demorando para serem confirmadas.Têm ficado mais no campo das ideias. Eu estava com alguns trabalhos em andamento (em murais), mas eles não foram cancelados. Alguns clientes preferiram que a gente continuasse depois da pandemia”, frisa a artista.