Um beijo pro Gordo: o adeus do ícone Jô Soares
Gênio da comédia e do entretenimento, Jô Soares morreu na madrugada da sexta (5), em São Paulo, aos 84 anos
Um capítulo inteiro da comunicação e entretenimento brasileiros se encerrou na madrugada da última sexta, 5, quando o ator, escritor, diretor e apresentador, Jô Soares, faleceu aos 84 anos. Ele estava internado desde 25 de julho no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde tratava uma pneumonia. A última aparição pública do artista foi quando vacinou-se contra a Covid-19, em 2021. O velório e sepultamento ficaram restritos a familiares e amigos íntimos.
"Aqueles que, através dos seus mais de 60 anos de carreira tenham se divertido com seus personagens, repetido seus bordões, sorrido com a inteligência afiada desse vocacionado comediante, celebrem, façam um brinde à sua vida. A vida de um cara apaixonado pelo País onde nasceu e escolheu viver, para tentar transformar, através do riso, num lugar melhor", escreveu Flavia Pedra Soares, ex-esposa do artista.
O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), decretou luto oficial de três dias no estado. Além de Flavia, Jô havia sido casado com a atriz Therezinha Millet Austregésilo (1959 a 1979), mãe de seu filho Rafael Soares, falecido em 2014, e com a também atriz Sílvia Bandeira, de 1980 a 1983.
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Comoção geral: não seria diferente
Nas redes sociais, uma verdadeira avalanche de homenagens prestadas por personalidades lamentando a morte de Jô. "Eu tive a honra de conhecer e conviver com esse jornalista e humorista tão talentoso e querido de todos nós. Hoje o dia amanheceu mais sem graça. Vá em paz meu amigo!", escreveu a apresentadora Ana Maria Braga.
A também apresentadora Adriane Galisteu, que era sua vizinha, postou: "Meu Deus o mundo sem você…. Meu amado amigo, diretor, conselheiro, vizinho, que tristeza… você sempre foi cercado de amor e sempre será assim! Vou seguir te aplaudindo e, através de suas obras, aprendendo com vc! Obrigada por tantas risadas, tantas conversas por todos os ensinamentos".
"Jô era um grande amigo, inteligente, perspicaz, bem humorado e que adorava uma boa conversa", publicou o ex-jogador Pelé em suas redes sociais. O presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem Jô disparava críticas, desejou conforto à família. "Independentemente de preferências ideológicas, Jô Soares foi uma grande personalidade brasileira que conquistou a todos com seu modo cômico de discutir assuntos profundos. Que Deus conforte a família e o acolha com a cordialidade que o próprio Jô recebia a todos", disse em sua conta no Twitter.
O candidato à presidência, Luiz Inácio da Silva (PT), comentou: "Jô Soares foi um dos atores, autores, comediantes e entrevistadores mais talentosos da história do Brasil." Ciro Gomes (PDT), também candidato à presidência, também tuitou sobre a morte do artistas. "O Brasil amanheceu muito triste, com menos motivo para rir e menos ágil no pensar. Perdemos Jô Soares, uma das nossas maiores referências de inteligência, talento e humor. Descanse em paz querido Jô e receba, de todos nós, aquele carinhoso e agradecido beijo bem gordo".
No Twitter, o escritor Luiz Antônio Simas escreveu: "Jô viveu a longa vida; a trajetória que se completa com a boa morte. Não vejo perda. É só o ganho pelas realizações que permanecerão acessíveis. É aquela máxima do Rosa: morre pra provar que viveu".
"Jô - O Gênio - Soares, como eu costumava brincar com ele, deixa a Terra para ascender às luzes mais bem-humoradas. O Xangô de Baker Street estava nele não só como uma forma espiritual, mas de uma forma justa e justiceira como ele conduzia a cultura, com uma generosidade de pensar junto com qualquer indivíduo, qualquer cidadão, sendo artista ou não. Vá em paz, que Olorum te receba com as trombetas de sorrisos e alegrias, você merece. Obrigado por tudo. Foi uma honra ter convivido com você em momentos especiais da minha vida. Obrigado, Jô!", comentou o músico baiano Carlinhos Brown.
Um pouco do gigante Jô
José Eugênio Soares nasceu em 16 de janeiro de 1938, no Rio de Janeiro. Trabalhou nas emissoras Continental, TV Rio, Tupi, Excelsior, Record, SBT e na Globo. Depois dos programas voltados ao humor, o artista iniciou a carreira de apresentador no SBT, com o programa “Jô Soares Onze e Meia”, que foi ao ar entre 1988 e 1999. Em seguida, em 2000, foi ao ar, na TV Globo, o talk-show “Programa do Jô”, que ficou no ar por 16 anos.
No "Jô Soares Onze e Meia", do SBT, sua primeira empreitada neste formato, foram 6.927 conversas de 1988 a 1999. Depois, na TV Globo, o apresentou fez 14.426 entrevistas entre 2000 e 2016, período em que o "Programa do Jô" esteve no ar e o artista eternizou o bordão "beijo do gordo".
No primeiro ano de "Programa do Jô", na Globo, em 2000, o apresentador cumpriu uma promessa: levar sua colega da antiga emissora, Hebe Camargo, para sua nova casa. E ele levou não só Hebe, mas as atrizes Nair Belo e Lolita Rodrigues, o trio era conhecido como amigas inseparáveis.
Deu no que deu: até hoje, o encontro é lembrado como uma das suas entrevistas mais divertidas. Entre muitas gargalhadas, Hebe, Nair e Lolita lembraram de casos da profissão e contaram histórias impagáveis, arrancando gargalhadas do apresentador.
Antes de se tornar referência como apresentador de um programa de talk-show, Jô já havia se destacado por ser um dos principais comediantes da história do Brasil. Ele participou de programas como “A família Trapo” (1966), “Planeta dos homens” (1977) e “Viva o Gordo” (1981). O artista também escreveu 10 livros e atuou em 22 filmes. Ele é considerado o pioneiro do gênero stand-up comedy.
Porta de entrada para anônimos
Ninguém sabia muito bem quem era aquele músico de aparência jocosa que foi recebido por Jô Soares no "Onze e meia", em 1998, e depois no "Programa do Jô", em 2003. Fato é que as primeiras entrevistas de Skylab para o apresentador renderam tanto que ajudaram a torná-lo famoso.
Bem antes de se tornar famoso, quando ainda estava na faculdade, Porchat fez um número no quadro "Na caneca do Jô", espaço de stand up comedy do programa, aparição que projetou seu nome na comédia. "A comédia no país é uma antes e outra depois. Por tudo o que foi feito por Jô e por todos aqueles que ele lançou pro mundo por conta de sua generosidade. Obrigado por ter me dado a chance pra perceber que fazer rir é a melhor coisa do mundo. Mas hoje vai ser difícil… Um beijo do gordo", postou Porchat.
Linha do tempo
1938 - Nasce José Eugênio Soares no Rio de Janeiro
1956 - Estreia na televisão no elenco da "Praça da Alegria", na Record, onde atuou por 10 anos
1966 - Como comediante, Jô participa do programa “A família Trapo” (1966)
1977 - Participa do programa de comédia “Planeta dos homens” (1977)
1981 - Estreia no “Viva o Gordo”, sendo o seu primeiro programa solo
1988 a 1999 - Iniciou sua carreira como apresentador no SBT, com o programa “Jô Soares Onze e Meia”
2000 - Na TV Globo, apresentou o talk-show “Programa do Jô”, que ficou no ar por 16 anos
2016 - É eleito imortal pela Academia Paulista de Letras
2022 - Balanço: ao longo da carreira, Jô realizou mais de 20 mil entrevistas, escreveu 10 livros, sendo "O Xangô de Baker Street" (1995), que virou filme, e "O Homem que Matou Getúlio Vargas" (1998) os grandes destaques, e atuou em 22 filmes